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Filantropo Serafim das Neves

Filantropo Serafim das Neves

Estou a escrever-te trémulo de emoção. O presidente da Câmara de Santarém, Moita Flores, mandou dizer aos empreiteiros, para não lhe darem as habituais prendas de Natal e para gastarem o dinheiro a matar a fome aos pobres. Ccchhuuiiiiffff!!! Ccchhuuiiiiffff!!! Não páro de choramingar perante tamanho altruísmo. Confesso que não sei o que costumam dar ao Moita Flores mas a fazer fé no apelo que ele lançou, não deve ser coisa pouca, não senhor. É preciso ser muito desprendido para abdicar assim de prendas natalícias. Inspirado por ele, atrevo-me a pedir-te que não me mandes a habitual garrafa de vinho do Porto e que gastes os três euros e meio em ajuda alimentar para um qualquer pobre de Cristo. Concordas?!! Olha, eu já dei o salpicão que te ía mandar, a um rapaz que costuma estar a arrumar carros perto da minha casa. Se tu visses a cara dele?!!! Esse Rosa do Céu de que falas, que era presidente da Câmara de Alpiarça e que agora é o presidente da Entidade Regional de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, tem toda a razão em não querer ser fotografado. Ele aprendeu com feiticeiros de tribos dos confins de África que quando somos fotografados nos é roubada a alma. E ele preza a sua alma, como sabes, uma vez que é muito mais espírito que matéria. Tanto assim é que embora a população soubesse que ele era presidente do concelho, poucos o conseguiram ver nos últimos anos. Nem a ele nem à matéria. Só espero que ele implemente aquela mania no Turismo do Vale do Tejo. Não há fotos para ninguém. Nem sequer para Japoneses. Quem quiser fotos paga como acontece em países civilizados. Eu próprio já tive que pagar cinco euros para fotografar uma velha com um tigre decrépito pela trela, na capital de um dos países da União Europeia, mais concretamente em Bucareste. A partir de agora já sei que também vou ter que largar umas massas para tirar retratos em Santarém, Vila Franca de Xira ou Abrantes. É o progresso. Uma medida de grande alcance para captação de divisas. A primeira do Rosa do Céu. Agora é que o Turismo vai começar a mexer. Mas esta coisa de proibir fotografias vem de longe. Não há trolha, polícia, engraxador, segurança de W-Shopping que não tenha corrido já atrás de um jornalista a ameaçá-lo com tudo e mais alguma coisa por causa de uma qualquer fotografia. Os portugueses podem gostar muito de ver fotos nos jornais, nos blogs, na net. E até podem passar metade das horas de trabalho a reenviar fotos por e-mail, principalmente aquelas do Sócrates a fazer caretas. Mas assim que vêem um jornalista apontar uma máquina fotográfica a alguma coisa que seja Segredo de Estado, caem-lhe em cima que nem marines a desabar sobre camponeses iraquianos. E como é sabido Segredo de Estado em Portugal é quase tudo. O buraco na rua, o carro da polícia estacionado em cima do passeio, o centro comercial com portas de incêndio trancadas, o rato morto na cozinha do restaurante, o segurança de discoteca a esmigalhar as cartilagens do nariz de um miúdo de quinze anos, o Sócrates a fumar num avião. Um último aviso. Não tentes perceber porque é que a menina que coloca todas as fotos de férias na net, incluindo as que tirou na praia de nudismo, se abespinha toda quando calha ser fotografada na rua por um repórter mais distraído. Um bacalhau mediático do Manuel Serra d’Aire
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