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Sabem de memória a cor do sol

Sabem de memória a cor do sol. Já sentiram a frescura de um lençol branco. Conhecem a matiz azul do Tejo, ali mesmo em frente. Vila Franca de Xira. Óculos de sol em Novembro. O primeiro andar da estação de comboios é a casa de Luís Lima, 61 anos, e Isilda dos Anjos, 55. O antigo funcionário da CP perdeu a família pouco depois de perder a visão. Por causa de um glaucoma. E das incompreensões de quem não soube lidar com a adversidade. Família e colegas de trabalho. Foi a diabetes que roubou o sentido a Isilda dos Anjos. Os dois passeiam-se na Serpa Pinto, no centro da cidade. Parece que se conhecem desde sempre. Serpenteiam barris de cerveja, de braço dado contornam automóveis, sinais de trânsito e um autocarro. Procuram às escuras o passeio rebaixado que às vezes não existe. O mais difícil não é a parte de não ver, diz Luís Lima. O problema é lidar com pessoas que enxergam, mas que não sabem o que fazer perante dois invisuais. A companheira quase sofreu um acidente de comboio quando um dia uma mulher a quis ajudar. Luís Lima foi atingido de raspão pela composição. “Não ponha lá o coitadinho no jornal”, avisa. O tacto, a audição e o olfacto são os olhos que não existem. Não vêem caras, mas sentem as almas. A bondade que cada um traz na voz, na intensidade do aperto de mão. As bengalas foram compradas em Espanha, tal como o pequeno objecto recortado que usam no bolso para assinar ou a agenda electrónica. Não são protagonistas de um filme. As suas vidas são histórias reais. De “Blindness – Ensaio sobre a cegueira” sabem apenas que é uma película que está em exibição em algumas salas de cinema, baseada no livro de José Saramago. Ana Santiago

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