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Quando os bailes do Grémio animavam as gentes da Póvoa

Quando os bailes do Grémio animavam as gentes da Póvoa

Grémio Dramático Povoense prestou homenagem aos associados mais antigos

Cento e dezanove anos depois o Grémio Dramático Povoense continua a animar a Póvoa de Santa iria. Em tempos antigos era no salão da casa que se arranjavam namoros e casamentos, como recordam os sócios com mais de cinquenta anos homenageados pela associação.

Há mais de meio século, quando o salão de festas do Grémio Dramático Povoense era o único local de divertimento na Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, os bailes entretinham rapazes e raparigas casadoiras. Foi lá que Joaquim Sequeira Amaral, 71 anos, um dos sócios mais antigos da casa, homenageado nos 119 anos do Grémio com a insígnia de ouro (ver caixa), conheceu a mulher, uma jovem costureira. “Foi aqui que muitos arranjaram namoricos. E foi aqui que muitos casaram”, diz com emoção.A sede já não tem o chão em madeira como em tempos antigos e as paredes são hoje de azulejo, mas Joaquim Amaral recorda com humor a presença das “bilhardas”, as senhoras que controlavam as meninas durante os bailes. “As velhas iam lá para cima e ficam a observar”, confidencia.Nasceu na Lardosa, Castelo Branco, mas rumou à Póvoa de Santa Iria com apenas 10 anos. Foi aprender o ofício de alfaiate para casa do padrinho, mas acabou por ir trabalhar para Lisboa no ramo da hotelaria. Depois foi operário na Covina e na Solvay onde trabalhou durante 33 anos.Hoje está reformado e a sala do grémio continua a ser uma segunda casa. Gostaria de ver o espaço ampliado, aproveitando a casa abandonada que fica contígua à sede do grémio. Diz quem alinhou em três direcções, ajudou a dar vida à casa durante seis anos e meteu mãos à obra quando foi preciso escavar para alargar o espaço de cave. A mesma aspiração tem Carlos Geraldes, 75 anos. Casou há 52 anos, mas também foi no salão do grémio que trocou os primeiros olhares com a futura mulher. Como muitos da sua geração. O baile era a oportunidade de convívio que existia, além das festas dos santos populares à volta de uma fogueira ou uma sessão de cinema no desaparecido Cine-Nazaré.Nasceu em Vale Figueira, Santarém, e veio para a Póvoa de Santa Iria com seis anos. “Costumo dizer que foi o ciclone que me trouxe”, diz com humor o reformado da Covina. As saudades desse tempo são muitas, mas Carlos Geraldes acredita que a tendência é para a tradição dos bailes regressar. Tal como acontecia nas noites de sábado e nas matinés de domingo, actualmente as noites de quinta e sábado são noites de bailes no grémio da Póvoa.Sócios grau “ouro”Os sócios do Grémio Dramático Povoense com mais de cinquenta anos de associados receberam na tarde de domingo a insígnia de ouro pela fidelidade à associação da Póvoa de Santa Iria que comemora este ano 119 anos de existência. “Uma pessoa que faz cinquenta anos de filiação a uma associação merece respeito, sobretudo num momento em que ninguém faz nada sem que tenha em troca dinheiro”, disse emocionado o presidente da direcção, Rui Benavente, lembrando que também cresceu na casa do Grémio e aprendeu com os mais velhos.Entre os associados homenageados estão Joaquim Amaral, José Oliveira, João dos Santos, Carlos Geraldes, Augusto Rodrigues, Vítor Feliciano, Amílcar Cardoso, João Diniz, Francisco Melão, José Milheiro, Eduardo José, João Espírito Santo e Manuel Travassos. Receberam também o emblema José Pereira, Filismino Soares, Isidoro Fonseca, Hernâni Moreira, Carlos Fontan, Albino de Oliveira, António Nabais, Palmira Santos, Alfredo da Silva, João Feiticeiro Neves, José Oliveira, Sidónio Pinhal, António Monteiro, Arnaldo Amaral, Armando Pinheiro e Carlos Rei.Grémio Povoense quer alargar instalaçõesO Grémio Dramático Povoense, que possuiu actualmente a única sala de espectáculos da cidade da Póvoa de Santa Iria, está a tentar negociar a compra de um terreno contíguo à sede para alargar as instalações. O objectivo é duplicar o espaço disponível no grémio para permitir a dinamização de mais actividades. “Temos um bar que funciona nas instalações do Grémio. Em dias de espectáculos a actividade é quase incompatível”, ilustra o presidente da direcção, Rui Benavente, que lembra que a grande dificuldade da associação é arranjar os cerca de 1750 euros mensais para fazer face às despesas. O café, explorado por um particular a quem a associação alugou o espaço, permite ao Grémio encaixar algum dinheiro.As negociações para a compra do terreno estão dificultadas porque o espaço, onde está actualmente uma casa em ruínas, pertence a várias famílias, algumas das quais no estrangeiro que pedem valores demasiado altos pelo terreno. A presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira já mostrou disponibilidade para ajudar a contactar os proprietários, segundo a direcção. Durante a semana o Grémio funciona quase como centro de dia da freguesia que não tem outro espaço idêntico destinado aos idosos. “O Grémio presta uma função social”, ilustra Mário Lúcio, um dos elementos da direcção que explica que em dias de espectáculos os sócios mostram desagrado por não poder realizar os jogos de mesa a que estão habituados. Tudo por causa da exiguidade do espaço. O mercado que foi desactivado na Póvoa de Santa Iria vai ser reconvertido para acolher o Grémio, mas os antigos sócios consideram que é na sede de velho edifício que a actividade deveria ser concentrada. O Grémio funciona com escola de música, marchas e grupo de teatro e está disponível para receber mais inscrições. À quinta-feira e ao sábado o espaço recebe os bailes à moda antiga destinados a uma faixa etária mais elevada. A associação assinalou este domingo os 119 anos de existência com a entrega de insígnias de ouro aos sócios com mais de 50 anos.O vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita, referiu na cerimónia que depois da transformação do mercado em espaço de cultura do Grémio (que inclui um pequeno auditório) e da criação de uma sala na Urbanização Tágide Parque, bem como do aproveitamento cultural da Quinta da Piedade, a Póvoa de Santa Iria vai ficar enriquecida em termos culturais.
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