É de noite e duas dezenas de pessoas avançam pelas ruas da zona velha do Forte da Casa, no concelho de Vila Franca de Xira. É véspera de Dia de Reis e os membros do Grupo de Teatro Amador do Forte da Casa (Gruta Forte) cantam as Janeiras pelas casas de alguns dos moradores da freguesia.As palavras escritas pela tradição em terras do Minho, das Beiras e do Alentejo juntam-se à música num folclore ritmado por vários instrumentos. Ao tocar da campainha, os moradores saem para a rua, cumprimentam os cantadores e assistem a um par de canções.Manuel Alves, ensaiador do grupo, explica que as Janeiras contam com pessoas dos 24 aos 70 anos. “São os mais velhos quem tem a capacidade reavivar um pouco as tradições de várias regiões do país. A gente mais nova não é tão adepta das Janeiras”, relata o minhoto, que está no Gruta Forte desde o início e canta as Janeiras há seis anos.O grupo fundado por vários cidadãos que queriam criar um grupo de teatro, teve o seu “baptismo de fogo” com a organização das marchas populares. Seguiu-se a encenação. As peças de teatro e a organização das Janeiras. As cantigas de porta em porta, no início de cada ano, foram a maneira encontrada pelo grupo para “amealhar uns tostõezinhos”. A recepção de cada anfitrião surge com comidas e bebidas e uma pequena contribuição para as finanças do grupo. Ricardo Silva, presidente do Gruta Forte, entrou no grupo quando o projecto das janeiras já estava maduro. “Sou de Lisboa, e mesmo no Forte da Casa, onde resido, sei que não havia a tradição das Janeiras. Na escola é que nos transmitiram essa tradição”. Para a autarca Rosa Barral, vogal da assembleia de freguesia do Forte da Casa, as Janeiras funcionam como ponto de união entre os habitantes da freguesia, que “estão um pouco desenraizadas”. A autarca resume a missão da iniciativa. “Temos de levar a cultura para fora de casa e para junto das pessoas”, remata.