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O acordeão voltou a estar na moda

O acordeão voltou a estar na moda

Encontro de Acordeonistas da Póvoa da Isenta juntou tocadores de toda a região

Jovens demonstram cada vez mais interesse em aprender instrumento tradicional português.

Uma hora antes de iniciar o espectáculo João Gomes, 14 anos, e Pedro Matos, 13 anos, observam atentamente o ágil dedilhar dos acordeonistas mais experientes nas teclas do acordeão produzindo sons de conhecidas músicas tradicionais portuguesas. Começaram a aprender há pouco tempo e o Segundo Encontro de Acordeonistas da Póvoa da Isenta (concelho de Santarém) que se realizou na noite de sábado, 31, nas instalações do Centro Social da Junta de Freguesia, proporcionou a estreia em público dos dois jovens da terra.O nervoso miudinho aumenta à medida que se aproxima a hora do espectáculo. Durante o jantar, que decorre no espaço cedido pela junta ao Agrupamento de Danças e Cantares da Póvoa da Isenta, são várias as vezes que João e Pedro se dirigem à porta para verificarem se existem muitos espectadores. Assustam-se quando vêem a sala cheia com mais de uma centena de espectadores. Tinham esperança que com a chuva e o frio a maioria ficasse em casa.O espectáculo começa com a actuação dos cerca de 15 acordeonistas vindos de todo o distrito de Santarém e também da zona Oeste do país. Em conjunto tocam corridinhos e música popular portuguesa. Depois é a vez de actuarem a solo. Começam os mais novos. João Gomes e Pedro Matos não escondem o nervosismo. Tocam juntamente com o professor e organizador do encontro, Daniel Matos, 19 anos.Desengane-se quem pensa que os acordeonistas estão em vias de extinção. Quem o diz é o jovem Daniel Matos, que toca acordeão desde os doze anos e há algum tempo que ensina alguns jovens que sentem prazer a tocar o instrumento tradicional. Neste momento dá aulas a três. Quem quiser aprender a tocar acordeão na região também pode fazê-lo na Sociedade Filarmónica no Cartaxo e na escola O Piano, em Santarém.Aos oito anos Daniel Matos já tocava clarinete na Sociedade Filarmónica do Cartaxo, mas sempre demonstrou paixão pelo acordeão uma vez que o avô tocava concertina e ele gostava de ficar a ouvi-lo tocar. Quatro anos depois decidiu mudar de instrumento e começou a aprender acordeão. A sua verdadeira paixão. “É um instrumento único com uma sonoridade muito própria. Com o acordeão podemos fazer o que quisermos. Tocar em ranchos, bailes, agrupamentos musicais ou, se quisermos, podemos tocar sozinhos”, explica o jovem acordeonista.O jovem professor que pertence ao rancho folclórico da Póvoa da Isenta concorda que o acordeão é um instrumento que há uns anos andava esquecido, mas desde há cerca de quatro anos renasceu o interesse e tem havido um aumento na procura de jovens a quererem aprender a tocar.João Gomes começou as aulas de acordeão por brincadeira. Dança no rancho da Póvoa da Isenta e sempre gostou de observar o amigo Daniel a tocar. Este incentivou-o a começar a aprender e o jovem estudante aceitou o desafio. Já lá vão quatro meses. O seu objectivo é aprender mais para poder ser um dos acordeonistas do “seu” rancho folclórico.O segundo Encontro de Acordeonistas da Póvoa da Isenta veio mostrar que a prática do acordeão está viva e de boa saúde e com condições para durar mais alguns anos. Esperando que os jovens se interessem pela música tradicional portuguesa e não deixem morrer um som único e contagiante que faz vibrar gente de todas as idades. A professora de música que se tornou acordeonista a pedido do paiNo meio de tantos acordeonistas conseguimos encontrar uma mulher que faz da paixão pelo acordeão um passatempo. Professora de Educação Musical, Mónica Ribeiro tem 32 anos e toca acordeão desde os seis anos. Em criança emigrou com os pais para a Holanda o que veio a revelar-se um factor determinante no contacto de Mónica com a música.Quando entrou no primeiro ano de escola entrou também na escola de música. Começou por tocar violino mas a pedido do pai, que gostava muito do que considerava ser um instrumento tipicamente português, começou a tocar acordeão. Voltou para Portugal aos 12 anos e foi viver para Ourém. Na altura, viu-se obrigada a deixar de estudar acordeão uma vez que só havia escola em Lisboa e Mónica não tinha possibilidades de estudar na capital devido à idade. Foi desenvolvendo e aperfeiçoando a técnica sozinha. Actualmente é membro de três ranchos folclóricos – São João da Ribeira; Chãos (Alcobertas), e num pequeno grupo em Aljubarrota.Para Mónica Ribeiro o acordeão é dos instrumentos mais difíceis de tocar uma vez que tem que se coordenar muito bem as mãos e os braços. E é isso que, na sua opinião, o torna tão fascinante. “É um instrumento que é tocado por nós próprios e tem que ser tocado com paixão. Quem toca acordeão envolve-se muito com o instrumento. É impossível tocar acordeão só por tocar. Tem que se sentir”, afirma a professora natural de Ourém mas a viver em Alcobaça.É essa paixão que a faz correr o país em encontros de acordeonistas ou para espectáculos. Diz que é a carolice e o amor à música através do acordeão que faz os acordeonistas da região e também do país encontrarem-se com frequência para fazer o gosto ao dedo.
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