Aproveitei o facto das filhas estarem a concluir ciclos nos estudos para mudar de vida e proporcionar uma educação mais personalizada aos filhos e uma vida melhor para toda a família. Esta é uma zona agradável para viver com pessoas com uma grande capacidade de sacrifício. As pessoas da aldeia são mais confiáveis, mais solidárias e não têm a obsessão de ter tudo porque se habituaram a viver com o que conseguem amealhar. Aqui a crise não tem tanto efeito. A maioria do povo sempre viveu com dificuldades. Nós só sentimos falta do que já tivemos.As pessoas da Carregueira mereciam um louvor porque aceitaram receber os aterros que ninguém queria, mas que são uma oportunidade de desenvolvimento para o concelho da Chamusca que ganha muito com isto. O lar da terceira idade é apenas uma contrapartida muito útil para estas pessoas e que de outra forma não tinham.Muitos idosos só levam metade dos medicamentos porque o dinheiro não chega. Nós aconselhamos a levarem os que fazem mais falta porque não temos a perspectiva do lucro, prestamos um serviço público que nem sempre é reconhecido. Temos clientes que passam aqui só para falar com os farmacêuticos e quando saem vão mais bem dispostos e esquecem a doença.É um crime não haver comparticipação para certos medicamentos. Tenho doentes reformados com Alzheimer que gastam cem euros por mês num só medicamento, comparticipado em 50 por cento, sem o qual não podem viver. Se não tiverem ajudas como é que podem ter uma vida digna se a reforma é de 200 euros? A maioria quando recebe a reforma vem à farmácia e só depois é que vai à mercearia. O poder central não olha para os nossos idosos como deveria porque já deram muito ao país.Estar em contacto com o público é um prazer. O serviço que prestamos é a maior compensação porque estas pessoas precisam de nós. O serviço Nacional de Saúde não cuida bem dos seus doentes. Acabam com os médicos e com os enfermeiros, reduzem o horário de funcionamento e nós temos de estar sempre disponíveis porque muitos dos nossos clientes nem sequer têm condições para se deslocar ao hospital.Felizmente alteraram a lei e hoje já podemos ministrar injecções, vacinas e fazer alguns serviços que são importantes para os doentes. O Estado trata as pessoas como números, mas não são e nós procuramos tratá-las com a dignidade que merecem. Ser farmacêutico é um sacerdócio.Em breve vamos abrir instalações novas no Pinheiro Grande como já fizemos aqui na Carregueira e no Arrepiado porque temos de nos adaptar às novas necessidades e modernizar os espaços e o atendimento. A modernidade é importante, mas o mais significativo é a relação que temos com as pessoas. Todos os nossos colaboradores estão próximos das pessoas. Os doentes partilham connosco os seus dramas, pedem-nos conselhos. Nos meus tempos livres gosto de conduzir os meus carros antigos. Por vezes participo em competições. Gosto de passear no campo com a família. Tenho uma filha licenciada em Psicologia com 23 anos, uma outra que quer ir para Medicina, com 18 anos e um mais novo com 13 anos que ainda não decidiu. Sou aficionado pela festa brava. Somos uma família de sócios do Belenenses, o nosso clube de eleição, mas não vamos ao futebol.