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“O partido comunista é alimentado por pensionistas”

Pacheco Pereira acende polémica no museu do Neo-Realismo

A apresentação de um livro sobre comunismo e nacionalismo em Portugal no século XX foi o pretexto para uma acesa discussão no auditório do museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. Pacheco Pereira acusou o partido comunista de ser “alimentado por pensionistas”, citação que não foi bem recebida por alguns presentes.

O político e professor universitário Pacheco Pereira, convidado para a apresentação do livro do historiador José Neves sobre comunismo e nacionalismo, gerou uma discussão acalorada ao dizer que o partido comunista “é alimentado por pensionistas” em pleno Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. O encontro aconteceu na tarde de sábado, 28 de Fevereiro. O público não gostou do que ouviu e a resposta não se fez esperar, com um vibrante “cale-se homem!”. O auditório do museu estava com lotação esgotada. Alguns dos presentes começaram então a acusar o debate de ser pouco imparcial. “Não vejo aí uma única voz que se diga verdadeiramente de esquerda, deviam ter vergonha”, acusou um dos participantes.Além de Pacheco Pereira, foi convidado para a discussão o professor Manuel Villaverde Cabral. Estava prevista a presença de Fernando Rosas mas o deputado do Bloco de Esquerda esteve ausente por motivos pessoais.Do consenso geral sobressaiu a ideia de que o concelho de Vila Franca de Xira foi um importante núcleo intelectual, artístico e literário do país. Para o historiador José Neves Vila Franca de Xira foi o “microcosmos” do que viria a ser o comunismo português, com destaque para uma geração de neo-realistas que, a partir dos anos 30, contribuíram para a criação de uma cultura política nacional de grande influência.A importância desse núcleo vilafranquense para a criação de uma cultura política nacional é indiscutível e está no livro. A confluência de vários tipos de profissões, as diferentes relações industriais e as crescentes formas de organização rural marcaram a ligação de Vila Franca de Xira com o comunismo luso a fomentar inclusive relações com outros países e culturas de resistência ao nível intelectual, artístico, literário e político. “Personagens como Dias Lourenço, Alves Redol e a família Pato têm bastante interesse e são disso um exemplo”, refere José Neves a O MIRANTE. O jovem historiador apresentou na cidade o seu novo livro “Comunismo e Nacionalismo em Portugal”, uma obra que se debruça sobre a história política e social do Portugal do século XX, tendo como fio condutor a história da oposição entre o Partido Comunista Português e o Estado Novo. “Vila Franca de Xira teve primordial importância nacional entre 1958 e 1963. Além disso, Alves Redol foi um ícone. Foi um membro do partido, é certo, mas tinha uma autonomia intelectual mais ampla”, afirmou Villaverde Cabral, referindo que o Neo-Realismo “foi uma das manifestações mais importantes da arte e literatura portuguesa”. Mais à direita Pacheco Pereira preferiu defender que a literatura neo-realista é “um retrato da relação entre operários, políticos e o mundo”. O livro foi galardoado com o prémio de história contemporânea Victor de Sá em 2008 e o seu autor licenciou-se em história moderna e contemporânea pelo ISCTE. Recebeu em 2001 o prémio Gulbenkian para estímulo á investigação e no final de 2008 concluiu o doutoramento em história.

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