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Mudança da designação de vinhos do Ribatejo para Tejo não agrada a todos

Algumas adegas cooperativas não concordam e os defensores da alteração dizem que esta é uma oportunidade de mudar estratégias

Os críticos do fim da marca Ribatejo consideram que a designação Tejo não é sinónimo de aumento de vendas e não identifica a região vitivinícola.

A alteração da designação dos vinhos do Ribatejo para Tejo, aprovada pelo conselho geral da Comissão Vitivinícola Regional, não é consensual. Algumas das principais adegas cooperativas da região estão contra a mudança e consideram que a nova marca, que visa acabar com a alegada má imagem dos vinhos ribatejanos, não se vai traduzir em aumento das vendas. Do outro lado estão grandes casas agrícolas, esperançadas numa melhor promoção dos vinhos da região. O presidente da Adega Cooperativa de Almeirim, António Ferreira, é um dos principais críticos, realçando que “o rio Tejo nasce em Espanha e atravessa todo o país, por isso não é característico de uma região própria, não identifica o Ribatejo”. Na mesma linha, os responsáveis das cooperativas de Tomar e da Gouxa (Alpiarça) realçam que a nova designação tem uma abrangência muito grande e que só por si não é sinónimo de aumento das vendas. António Ferreira considera mesmo que “esta situação não é benéfica para a região”. E pode até ser um passo para a morte do Ribatejo enquanto região. Pelo menos essa é a opinião de João Abel, pequeno produtor de vinho de Coruche. “Acabaram com a verdadeira Feira do Ribatejo, com os produtos tradicionais desta região, aos poucos acabam com a figura do campino e agora até o vinho muda de nome. Noutras regiões tenta-se vingar o nome da região, aqui esconde-se porque dá má imagem”, lamenta. A mudança de nome também não caiu bem entre a classe política e levou a Assembleia Municipal do Cartaxo, cidade que adoptou a designação de capital do vinho, a aprovar por unanimidade uma moção de repúdio pela decisão. Uma posição com a qual concorda o presidente da câmara, Paulo Caldas (PS). Isto apesar do secretário-geral da Adega Cooperativa do Cartaxo ser favorável à nova designação, justificando que “havia que mudar alguma coisa”, realçando que no âmbito de um estudo de mercado “esta era a melhor solução”. Produtores dos chamados vinhos de qualidade emblemáticos da região, como Paulo Cunha, da Pinhal da Torre, em Alpiarça, estão de acordo com a nova designação. Porque, defende, com a mudança de nome está também a mudar a estratégia de promoção dos vinhos da região. “A mudança de nome só por si não fazia a diferença, mas há uma nova direcção na CVR com vontade de fazer mudanças estratégicas. Sou solidário com esta direcção e com a nova designação”, sustenta. Posição secundada pelo enólogo ribatejano Rui Reguinga. “A imagem dos vinhos do Ribatejo não é boa e não é aquela que o Ribatejo merece”, sublinha, acrescentando que a designação Tejo é mais fácil de pronunciar no estrangeiro onde os vinhos ribatejanos têm que ganhar mercado e é aquela que mais identifica Portugal.O Tejo é demasiado grandeO Tejo é um rio que nasce em Espanha e desagua no Atlântico, enquanto o Ribatejo é conhecido pelos toiros, cavalos, campinos, boa comida e boa pinga. Em reunião de direcção já definimos que não concordamos com a designação de Tejo para os vinhos da região. No caso da nossa adega, por ser relativamente pequena, a nova designação não vai trazer prejuízos. O importante é a nossa política de marketing e a qualidade dos nossos produtos. Mas para quem trabalha com grandes quantidades, como as cooperativas de Almeirim e do Cartaxo, o Tejo pode levar as pessoas a pensarem que a marca Tejo abrange um território muito mais lato que apenas a região do Ribatejo. A qualidade dos nossos vinhos é que é fundamental para afirmar o Ribatejo enquanto região vitivinícola. Em suma, os vinhos de Abrantes não têm as mesmas características que os de Santarém ou de Tomar, por exemplo. A marca Tejo terá uma abrangência demasiado grande.Joaquim Saramago - Presidente Adega Cooperativa AlcanhõesVamos ganhar com a alteraçãoAchamos que se ganha com a alteração. O nome Tejo não é nome que surge do nada, foi assim que a região foi conhecida desde final do século XIX, princípio do século XX. Até muito recentemente foram designados de vinhos do Vale do Tejo ou da Bacia do Tejo. Os vinhos da região ganharam uma dinâmica e deram um salto qualitativo muito grande nos últimos tempos. Com a designação Tejo apostamos numa renovação e chamamos a atenção para a região da grande mudança qualitativa. A região Ribatejo como nome para vinhos, é uma região recente criada nos anos 90 ou 2000. Estamos a agarrar o nome e símbolo mais forte da região, que é o rio Tejo. A maior parte das grandes regiões de vinhos do mundo está ligada a rios, como o Douro, o Loire (França) ou o Napa (Califórnia). Terá agora que ser feita uma campanha de divulgação e esclarecimento dos consumidores. A qualidade dos vinhos do Ribatejo é muito boa. Falta o devido reconhecimento dos consumidores. A má imagem dos vinhos do Ribatejo é fruto de erros do passado. É muito mais fácil promover vinhos de região Tejo.Frederico Falcão - Director departamento vitivinícola da Companhia das LezíriasVai ser um retrocessoNão concordo com a nova designação de vinhos do Tejo porque se associa a Vale do Tejo, e que é uma caracterização que não tem nada a ver com esta zona do Médio Tejo. As características do terreno são completamente diferentes. A mudança de nome vai provocar um retrocesso no desenvolvimento dos vinhos da região, porque o nome do Ribatejo já é uma marca característica que está associada a muitas marcas de produtores. Além de que o nome Ribatejo encerra também uma influência a nível cultural. Carlos Silva - Director da Adega Cooperativa de TomarNão discordoNão discordo. O Ribatejo enquanto marca de vinho tem uma conotação um bocado negativa. O consumo de vinhos do Alentejo cresceu muito nos últimos anos e há sempre uma preferência do consumidor por estes vinhos. Quando vêem que o vinho é do Ribatejo ficam de pé atrás. Vinhos do Ribatejo, mesmo com qualidade e a um bom preço, são um pouco desvalorizados, o que é triste. Acho que o novo nome é capaz de ser mais útil. Muitas vezes quando faço os rótulos da Casa Paciência procuro que não tenha nada alusivo ao Ribatejo para as pessoas não ficarem inibidas de comprar. Estou expectante em relação a este novo nome, mas espero que seja positivo para a região.Luísa Paciência - Casa Agrícola Paciência (Alpiarça)Falta identificação comumHá que trazer os vinhos do Tejo para um mercado regional e que estes se assumam como vinhos de qualidade, que agrade a enólogos e enófilos mais atentos a outras regiões. O Tejo é o elemento essencial do Ribatejo, que dele nasce. Faz todo o sentido assumir a marca Tejo, que é elemento de união, tal como o são o Douro e o Sado. O que é Fórum Anual do sector do Vinho/Viniportugal – ICEP em Santarém (Cnema), o 27.º Festival Nacional de Gastronomia em Santarém, a Feira Nacional do Toiro em Santarém, a feira do cavalo da Golegã? Excluindo a Feira do Ribatejo, falta aos inúmeros eventos de excepção do Ribatejo o devido reconhecimento regional com uma identificação comum. Joaquim Pedro Monteiro - Quinta do Falcão, Vila Chã de OuriqueNão faz sentidoInicialmente pensei que seria boa ideia. Fiquei entusiasmado quando o assunto da mudança de nome começou a ser falado há cerca de quatro meses. Mas agora, ponderadas bem as coisas, considero que acabar com a marca Ribatejo não faz sentido. O Tejo nasce em Espanha e deveria manter-se Ribatejo. O nome Tejo pode ser um nome bonito, mas isso não é tudo. Nós pertencemos ao Ribatejo e essa identidade deve manter-se. Temos que defender aquilo que é nosso e nós somos ribatejanos. Não creio que estas mudanças sejam suficientes para que se possa vender mais vinhos. E nem sei se a designação Tejo não irá contribuir para alguma quebra nas vendas. Nem os vinhos vão ser melhores por causa de um nome. Manuel Rafael - Presidente da Adega Cooperativa da Gouxa

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