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Antigos alunos da Escola Industrial de Vila Franca juntam-se em associação

Antigos alunos da Escola Industrial de Vila Franca juntam-se em associação

Funcionários e estudantes recordaram histórias de um tempo que já lá vai

Foi nos bancos da antiga Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira, hoje Secundária Alves Redol, que muitos aprenderam a profissão. Entre os ilustres alunos está o cartunista António, a actual presidente da câmara, Maria da Luz Rosinha, e o secretário geral do PCP, Jerónimo de Sousa.

Despiu-se o uniforme e abandonou-se o sapato engraxado. Apareceu a Internet e os livros ficaram na prateleira. O ensino piorou nos últimos 50 anos e o acto de andar na escola é hoje uma “bandalheira”. Quem o diz são os ex-alunos da Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira, hoje Escola Secundária Alves Redol. Antigos alunos, professores e funcionários estão agora reunidos numa associação, apresentada na tarde de sexta-feira, 6 de Março. A sala foi pequena para acolher todos os convidados. Cerca de uma centena de pessoas assistiram à assinatura do documento que formaliza a existência da associação. “Antigamente ensinava-se o respeito pelo próximo, a boa educação, os costumes e as tradições do nosso país. Formavam-se homens a sério que sabiam trabalhar. Estimulava-se a mente. O que se faz hoje? Deixam-se os jovens andarem à vontade, sem obrigações e sem respeito”, lamenta Clemente Monteiro, ex-aluno da escola comercial. A actual presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha, é uma das ilustres ex-alunas. “Estas escolas preparavam os jovens para o mercado de trabalho e isso fazia a diferença. Naquela altura havia também um forte exercício ao nível da matemática que hoje os jovens não sabem fazer. A partir do momento em que a máquina avaria deixam de saber quanto são dois mais dois”, recorda Maria da Luz Rosinha, aluna número 2 da antiga escola industrial.O projecto da associação de antigos alunos começou a desenhar-se há três anos. “Já lá vão 50 anos desde a inauguração da escola em 1958/59. Foi a primeira escola oficial com ensino secundário em Vila Franca de Xira. Por aqui já passaram mais de 24 400 alunos. Daí a importância de criarmos esta associação. É preciso preservar esta memória colectiva. Nas pesquisas que efectuámos descobrimos outros nomes de alunos que por aqui passaram, como o cartoonista António e o actual secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que foi aluno da nossa escola em 62 e 63”, afirmou o presidente do Conselho Executivo da Secundária Alves Redol, Teodoro Roque.Para a maioria dos antigos alunos, professores e funcionários a reestruturação do ensino depois do 25 de Abril foi um grave erro. “Os jovens aprendiam uma profissão e actualmente isso não acontece. Eu aprendi a trabalhar na escola. Até porque era mais fácil encontrar emprego naquela altura do que actualmente. Estávamos numa zona industrial bastante grande que dava trabalho a toda a gente”, recorda António Primavera, que deixou a escola há 45 anos e que lembra que à época muitas empresas da cintura industrial de Lisboa davam emprego.Saiu da escola ainda era um jovem. “Eu gostava mais daquela altura, as pessoas valiam pelo que eram. Antigamente não havia pesquisa, o ensino era diferente, davam-nos tudo. Era mais limitado e difícil”, recorda. O objectivo da associação é começar a recolher elementos fotográficos e materiais que permitam a abertura de um núcleo museológico com base no espólio da antiga escola. O primeiro aluno da escola industrialO primeiro aluno matriculado na Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira, a actual Secundária Alves Redol, foi Guilherme Marques. Tem 62 anos e entrou na escola no ano lectivo de 1958/59. Ainda se recorda do primeiro dia. “Estava nervoso, claro. Ainda por cima fui o primeiro. Lembro-me do fardamento. Um fato de macaco azul. As senhoras usavam uma bata com um lacinho azul. As meninas do curso de comércio usavam um laço vermelho com bolinhas brancas. No meu tempo não havia computadores. Era tudo apontamentos à mão”, refere. Lembra-se de ter de vestir a roupa correctamente e depois apanhar o comboio entre Alhandra e Vila Franca de Xira. Naquela altura já pagava um passe. “Lembro-me que era muito caro!”, recorda. Guilherme Marques, natural de Angola, recorda que não havia diversão nenhuma. “O ensino era rígido e muito exigente. Não havia discotecas nem bares. Era o baile semanal na sociedade e saltar ao alho no intervalo”, afirma. Num ápice ainda se lembra de mais algumas diversões do final dos anos 50: o jogo do apanha, o peão (que nem todos tinham) e o do lenço. A juventude daquele tempo contentava-se com pouco”. O sexagenário defende que o ensino naquele tempo não era tão benevolente e disperso como é agora. “Com o finalizar dos cursos industriais ficámos numa situação em que não há quadros qualificados para as empresas”, lamenta.Quando os alunos eram menos rebeldesOrlando Ribeiro, 77 anos, foi auxiliar de educação na antiga escola, hoje Secundária Alves Redol. Lembra que antigamente o sistema era diferente. “Em relação aos dias de hoje os alunos eram menos rebeldes. Sabiam qual era o seu lugar e respeitavam os professores e os empregados. Se eu mandasse um deles de castigo ele obedecia e até tinha medo de mim, não é como agora, em que até agridem os professores”, recorda. “Até se sentia outra paixão pelos estudos naquele tempo. Os jovens sabiam que estavam a aprender uma profissão para entrarem no mercado de trabalho. Não andavam ali a brincar, era mesmo para trabalhar. Nunca tive problemas com as gerações do meu tempo”, conclui.A autarca que travou amizades para a vidaA actual presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha, foi a segunda aluna a ser inscrita na antiga escola industrial e comercial de Vila Franca de Xira. “Entrei em 1958. Fiz aqui amizades que ficaram para a vida, e isso é muito importante, alimentar amizades desde os bancos da escola”. As coisas mudaram muito, garante a autarca. Na altura o ensino era exigente e a carga horária elevada. “Isso obrigava a muito trabalho para alcançar o sucesso”, recorda. “Tínhamos tudo o que era necessário, não havia computadores nem calculadoras mas havia livros e materiais em quantidade. A vivência era mais saudável que actualmente. As minhas professoras de francês, português e inglês marcaram a minha vida”, conclui.
Antigos alunos da Escola Industrial de Vila Franca juntam-se em associação

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