uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

A menina que trabalhou nas limpezas é nome de marca de perfumes

O sonho de Alexandra Soveral é comprar uma quinta no Ribatejo para cultivar essências

Quando era pequena fazia colecções de flores dentro dos livros e criava tónicos com rosas e álcool. Alexandra Soveral trocou Santarém por Londres e hoje, aos 38 anos, dá nome a uma conceituada marca de produtos de beleza. O seu sonho é comprar uma quinta no Ribatejo para cultivar as suas essências.

Um tónico que faz bem ao corpo e à mente com sabor a hortelã e limão – à venda no seu site - parece uma receita de feiticeira. Onde vai buscar a inspiração para estas poções?É apenas a arte da aromaterapia, que consiste em saber as propriedades das plantas. Começo por pensar nos efeitos que desejo do produto ao nível do corpo e da mente. Depois basta escolher as plantas que possuem esses elementos e que combinadas trabalham em harmonia. Claro que têm que ter um aroma agradável. O preço tem sempre em conta a qualidade dos ingredientes. Pensar no nome é sempre o mais difícil, mas a minha equipa ajuda-me.Cria perfumes. Considera-se um “nariz”?Sim e não. Faço perfumes, mas de uma maneira totalmente diferente. Trabalho com matérias naturais enquanto que os grandes narizes estão mais interessados em descobrir novos cheiros sintéticos para a indústria do perfume. O meu nariz está afinado de uma maneira diferente.Cem libras – quanto custará o perfume que vai lançar em Maio – não é muito dinheiro por um frasco? Os perfumes que se compram hoje em dia custam à volta de 50 a 90 libras. São perfumes sintéticos e o que se paga é a embalagem. O meu perfume vai ser totalmente natural. Por exemplo, se tiver rosas, cada gota de óleo de rosa será feita com 30 rosas. Se tiver jasmim cada gota terá um quilo de flores de jasmim. Ainda acha caro?Quais são as memórias dos aromas de Portugal?Os cheiros de Verão. Os piqueniques nos pinhais de eucaliptos. As rosas no jardim da minha tia Isabel. O cheiro do mar e da praia.E os cheiros da sua infância em Santarém?As flores dos jardins na zona de São Bento, especialmente as rosas. Os malmequeres e papoilas - que não cheiram muito, mas trazem o aroma do campo e do Verão.Quando era pequena andava pelo campo a colher ervas?Sim, fazia grandes colecções de flores dentro de todos os livros da escola. Colhia flores e ervas para pôr dentro de frascos com álcool e fazer perfumes. A minha avó ensinou-me a colocar pétalas de rosa em água quente e a lavar o rosto com essa água já morna.Tem o sonho de comprar uma quinta no Ribatejo para cultivar as suas essências. O que quer plantar em solo português?Esse é mesmo o meu sonho e também o da minha mãe, que tem uma grande paixão pela natureza. Gostava de lhe oferecer um jardim de rosas. Quero plantar laranjeiras e limoeiros para colher essências e depois criar também outras ervas aromáticas.E tem planos para comercializar no local?Sim, mas tenho que dar um passo de cada vez.A experiência de trabalho que teve para se sustentar enquanto trabalhava ajudou-a?Acredito numa atitude positiva em relação ao trabalho, seja ele qual for. Quando vim para Londres trabalhei como mulher de limpeza, ajudante de cozinheira e servi à mesa em restaurantes e hotéis. Essas experiências são tão valiosas quanto as outras que tive mais tarde como directora de companhias. Estudou filosofia e arte, mas seguiu outra área.Estudei esses ramos porque sempre foram coisas que me interessaram. Acho que nos devemos dedicar a coisas que nos digam algo sem a obrigatoriedade de ter que seguir determinada carreira. A filosofia ajudou-me a racionar de um modo mais aberto, uma coisa que me vai ajudar para sempre. A arte é algo que adoro, mas a um nível pessoal.O que a fascinou em Inglaterra?Aqui posso ir à rua com a roupa rota e o cabelo despenteado que ninguém está minimamente interessado. Adoro isso.A aventura de ir estudar inglês para LondresAos 17 anos partiu para Londres para estudar Inglês. Deixou Santarém, a terra Natal, e rumou a Inglaterra onde estava a irmã. A “tia Maria”, uma familiar que tinha em terras de sua majestade, recebeu-a como uma filha. “Agarrei a oportunidade”, responde Alexandra Soveral, 38 anos, empresária de uma marca de produtos de beleza pela qual dá a cara e o nome [http://alexandrasoveral.co.uk/].O mais difícil foi estar longe da mãe que continua a viver nos arredores de Santarém. Também é por isso que o seu sonho é comprar uma quinta no Ribatejo onde quer cultivar as suas essências. O namorado, com quem vive há 14 anos, é seu sócio. “Ainda não tive a felicidade de ter filhos. Se isso acontecer vamos então pensar em casamento. Os meus amigos aqui são como uma grande família”, escreve Alexandra por e-mail num português quase perfeito.Sempre trabalhou enquanto estudou. Foi empregada de limpeza e serviu às mesas de cafés e restaurantes, o que lhe permitiu ir investindo nas suas pesquisas. O seu negócio começou numa pequena sala de estética. Visitou fábricas de óleo de lavanda, fez cursos de massagem e fisioterapia e até estudou o processo de envelhecimento com um cirurgião plástico. Estudou as áreas da anatomia, fisiologia, patologia e química. E fez do seu trabalho um grande negócio. Em 2005 lançou uma linha própria de produtos de beleza. Cria os perfumes, mas não fica por aí. “Se quero que os meus perfumes sejam considerados uma arte e o frasco tem que estar dentro dessa arte”. Mais do que uma simples moda acredita que a aromaterapia está a ser considerada uma ciência a que se dedica de corpo e alma. Trabalha sete dias por semana, mas faz questão de ter tempo para os amigos. Os meios de comunicação ingleses escrevem sobre os produtos com frequência. Alexandra Soveral nunca precisou de publicitar os produtos, mas mesmo assim há muita competição. “Cada dia é uma luta”. Quem a procura na clínica para uma consulta sobre a melhor forma de tratar da pele ou prevenir o envelhecimento precoce é recebido com um chá ou copo de champanhe.A família de Alexandra Soveral tem raízes em Rio Maior. Um irmão está em Ibiza e o pai, que foi motorista na embaixada da Suíça em Londres, vive no Cartaxo. Vem com frequência visitar a mãe, a sua melhor amiga. Passa o tempo a conversar, a cozinhar e acompanhar as últimas novidades das telenovelas.

Mais Notícias

    A carregar...