Desde muito novo que estou ligado ao ramo da restauração. Fiz um curso de técnico de gestão agrícola, com uma vertente ligada à vitivinicultura, que sempre me agradou. O meu pai adquiriu um restaurante em 1993, onde comecei a trabalhar com 17 anos, aos fins-de-semana, quando regressava da escola que frequentava em Torres Vedras. Mas ganhei-lhe o gosto e comecei a trabalhar a tempo inteiro na área. Nada na vida se faz sem trabalho. Quis desenvolver as minhas competências e fui trabalhar para a Madeira. Para o luxuoso Reid’s Palace. Pouca gente sabe mas é um dos cinco melhores hotéis do mundo. A família real inglesa costuma passar férias neste hotel que é uma unidade hoteleira muito famosa pelo chá das cinco. Trabalhei como empregado de mesa de primeira categoria durante seis meses. Após esta experiência voltei novamente para o restaurante do meu pai. Surgiu-me a oportunidade de conhecer novos mundos e culturas. Decidi ir para Inglaterra, país onde vivi cerca de cinco anos. Tirei um curso de chefe de cozinha e fiz formação em gestão hoteleira. Peguei nesta experiência profissional e cultural e fui aceite numa cadeia de cruzeiros de seis estrelas. Foi quando percorri meio-mundo. Desde as Bermudas, Estados Unidos, Canadá, Gronelândia, Islândia. Entretanto, regressei a Portugal e trabalhei na área comercial até encontrar este espaço. Penso que tive uma evolução profissional natural mas sempre com o objectivo de trabalhar na restauração ao mais alto nível.Sempre tive vontade de arriscar em termos empresariais. A vida é feita de objectivos. Tinha a ideia para este restaurante em mente há seis ou sete anos. Penso que encontrei o espaço ideal para colocar em prática este projecto e que se reuniram as condições para que fosse concretizado. Em três meses consegui pôr o projecto em pé. Tratar da questão burocrática, formar o pessoal e elaborar cartas de mesa e vinho. Temos uma relação qualidade-preço muito sensata. Um cliente satisfeito volta sempre.O meu restaurante alia as componentes da criatividade com a inovação. É um projecto que tenta ir ao máximo ao encontro dos interesses do cliente. Tenho a ideia assente que o sector da restauração vive e sobrevive do pormenor. O que tentámos fazer com a nossa cozinha é agradar a toda a gente pelo que fiz um estudo geográfico,  a nível gastronómico, da nossa região. Fazemos comida tradicional na sua mais pura essência,complementada também pela criatividade e inovação.  O factor visual do prato é fundamental. Sardinhas com torricado, acompanhado com uma mousse de pimento, é apenas um dos exemplos das entradas que oferecemos. Gosto de participar e acompanhar na concepção dos pratos. O sector da restauração é o único que aguça os cinco sentidos do ser humano. Os vinhos são todos da nossa zona. Queremos promover aquilo que de melhor se faz na nossa região. Temos que pôr os nossos vinhos na moda. O meu restaurante chama-se “Lugar da Fonte” por uma razão especial e que muitos desconhecem. Surge de uma lenda que conta que a Rainha D. Isabel quando passava por esta zona passou por uma plebeia e perguntou-lhe como se chamava esta região. A plebeia disse: “Real Senhora, esta região chama-se Lugar da Fonte”. E a rainha D. Isabel disse: “Então pelo bonito chilrear dos passarinhos Lugar da Fonte, a partir de hoje, chamar-se-á Cartaxo”. Era o nome que o Cartaxo tinha antes de se chamar Cartaxo. Trabalho em média cem horas por semana. Como o nosso projecto é feito à base do pormenor há dezenas de tarefas que tenho de acompanhar. Mas realço o mérito da equipa de cinco pessoas que me acompanha. O meu hobbie, neste momento, é trabalhar. Não me causa constrangimentos esta situação. Gosto muito do que faço e tento tirar o máximo de prazer em todos os projectos em que me envolvo. Elsa Ribeiro Gonçalves