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José Gameiro regista anualmente a evolução das suas andorinhas

A chegada de África foi registada este ano a 13 de Fevereiro
A chegada das andorinhas é um problema para muitas pessoas, principalmente para as que moram em casas cujos beirais são escolhidos por aquelas aves para fazer ninho. Os dejectos obrigam muitas vezes a pintar as paredes. Para José Gameiro é uma alegria. É tempo de verificar se as andorinhas que regressaram são “as suas andorinhas” e de se preparar para anilhar os novos pássaros que vão nascer.José Gameiro nasceu em Salvaterra de Magos há 65 anos e é um apaixonado por aves. É sócio do clube de ornitologia de Salvaterra. A paixão pelas andorinhas intensificou-se quando, há cerca de nove anos, dois casais de andorinhas fizeram os seus ninhos junto à entrada de sua casa. De então para cá, o aposentado da função pública vai recolhendo elementos para melhorar o conhecimento que tem daquelas aves.As andorinhas voltam todos os anos de África, para se reproduzirem no sítio onde nasceram, o que revela um grande sentido de orientação. Se o ninho que deixaram estiver ocupado, ou tiver sido destruído, tratam de construir outro exactamente ao lado. Os ninhos são construídos com lama e palhas, em pequenas bolas ligadas umas às outras, com a consistência própria das grandes obras de engenharia.Entre Março e Maio a fêmea põe os ovos que irão compor a primeira de duas ninhadas que ocorrem até ao fim do Verão, cabendo depois aos dois progenitores a tarefa de os incubar. Após o nascimento das crias, enquanto os progenitores procuram comida para as alimentar, José Gameiro aproveita para lhes colocar as anilhas identificativas. “Assim consigo saber a sua evolução de ano para ano. Quando elas regressam na Primavera sei se são as “minhas” andorinhas ou se são outras novas. Tiro-lhes as medidas e peso-as para ver se engordaram ou perderam peso durante a estadia por terras de África”, explica.Em Portugal existem cinco espécies de andorinhas, sendo a mais conhecida pela generalidade das pessoas a andorinha-dos-beirais (Delichon urbica). Estas aves possuem uma grande capacidade de controlo de voo, que é bastante agitado e rápido, o que lhes permite fazer voos rasantes, tornando-as excelentes predadoras de insectos voadores de que se alimentam. A chegada das andorinhas é motivo de grande alegria para a família Gameiro. “Este ano foi a minha mulher que deu pela chegada delas. Estavam em cima do arame da roupa do vizinho. Dá-nos outra alegria. Ficamos a observar quando elas saem do ninho de madrugada e voltam ao final da tarde. Durante o dia vimo-las de vez em quando a voarem junto à nossa janela”, conta enquanto mostra os seus binóculos com que as observa ao longe.José Gameiro notou que este ano as andorinhas voltaram a Portugal alguns dias mais cedo do que é normal. Foi no dia 13 de Fevereiro que avistou as primeiras aves daquela espécie quando costumam aparecer apenas no final de Fevereiro ou início de Março. Na sua opinião, é muito provável que este fenómeno esteja relacionado com alterações climáticas. “As andorinhas procuram o calor por isso vêm para o nosso país durante a Primavera e Verão e regressam a África quando começa a arrefecer na Europa. Mas com as alterações climáticas se deixar de haver diferenças de temperatura entre o continente europeu e o africano, o mais provável é, daqui a 50 anos, já não existirem andorinhas em Portugal”, refere.As andorinhas do Centro de Emprego de Torres NovasO amigo das andorinhas de Salvaterra de Magos teve um grande desgosto em 2007 quando teve conhecimento que a câmara municipal mandou destruir todos os ninhos que envolviam o edifício dos paços do concelho. “Foi com grande tristeza que vi o que fizeram. As pessoas não têm noção de como colocam a espécie em risco quando tomam estas atitudes”, diz. Mas há entidades que não hostilizam as andorinhas. Um dos exemplos mais conhecidos na região é o do Centro de Emprego de Torres Novas onde, todos os anos, nidificam dezenas e dezenas de andorinhas. Em 1994, quando o edifício entrou em obras a então directora, Lucília Vieira, recebeu uma comunicação do Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS) para que houvesse cuidado no sentido de não se destruírem os ninhos ali existentes. O alerta foi bem recebido e conseguiram-se fazer as obras sem tocar nos ninhos que ainda hoje, quinze anos mais tarde, lá estão.

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