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O veterano que dá forma e cor a livros e jornais

O veterano que dá forma e cor a livros e jornais

Jorge Simões trabalha em tipografias desde os 14 anos

Começou por digitar caracteres nas placas de chumbo e chegou a chefe de pré-impressão. Jorge Simões defende boas relações entre gráficos de redacções e tipografias.

“Se um impressor, às duas da manhã, vê que o material que tem para imprimir não está bom e tem de estar pronto para expedição pelo correio às oito, é obrigado a tomar decisões difíceis”. Jorge Simões, chefe de pré-impressão de uma tipografia instalada no Porto Alto, Benavente, trabalha para que isso não aconteça. O técnico, responsável pela área de composição gráfica, defende as boas relações entre os gráficos das redacções e tipografias, mas sublinha que alguns dos maiores problemas surgem quando “quem cria o grafismo nas revistas e jornais não tem em conta que eles vão ter de ser impressos”. A adaptação dos tipos de letra, imagens e desenho das páginas ao formato papel fazem parte das funções de Jorge Simões, 60 anos, que começou a trabalhar numa época em que a impressão se fazia a partir de placas de chumbo, gravadas manualmente. “Tinha um tio que era gráfico e comecei a trabalhar aos 14 anos na tipografia dele” em Figueiró dos Vinhos, distrito de Leiria, conta a O MIRANTE. “Juntava as letras para compor manualmente as palavras e frases. Depois de imprimir as facturas, livros ou jornais, “éramos também nós quem fazia os acabamentos, agrafando ou cosendo os cadernos”, relata Jorge Simões. Depois de seis anos de trabalho e o serviço militar completo, em 1971 o então aprendiz de fotocompositor decidiu rumar a Lisboa. Depois de uma manhã de trabalho para o Diário de Lisboa, pediram-lhe a carteira profissional e a restrição daquela empresa a técnicos mais velhos deixou Jorge Simões sem trabalho. Pouco depois, o técnico ingressava na Sociedade Tipográfica, onde se manteve até hoje. “Fazia a composição das páginas dos boletins do Instituto Nacional de Estatística, duas páginas por dia. Um livro de 300 páginas dava trabalho a sete colegas durante um mês. Hoje, conseguimos o mesmo num só dia”, explica. Jorge Simões recorda a chegada à tipografia da primeira máquina de litografia e de como foi escolhido para a manobrar, depois de os litógrafos mais experientes não se adaptarem. “Os clientes vinham ter connosco e apresentavam uma maqueta, feita de rabiscos. O que mais gostava era compor os anúncios, fazendo os destaques de algumas palavras e juntando-lhes as imagens, a partir de gravuras em zinco de fotografias.” A passagem da composição manual para a impressão a partir da película de filme e desta para o mundo do digital obrigaram a área da pré-impressão a mudanças. No caso de Jorge Simões, que trabalhava após o horário de expediente noutras gráficas, as alterações significaram, numa primeira fase, nos anos 70, deixar a fotocomposição de revistas como a revista “Seara Nova”, ainda clandestina, ou o “Jornal Novo”, mais tarde, para se dedicar a tempo inteiro à empresa, como chefe da área de pré-impressão. Nos anos 80 e 90, a folha A4 deu lugar ao filme para imprimir, aos programas informáticos como Page Maker ou o Quark e à montagem de oito páginas impostas. “Em 2001, quando o filme estava a desaparecer, passámos a imprimir directamente a partir do computador e actualizamos os programas periodicamente a partir da Internet”, conta Jorge Simões. A tipografia também mudou. Da Estefânia, migrou para a Portela de Sacavém e dali, em 2000, para o Porto Alto. No portefólio de trabalhos que coordena, Jorge Simões conta a pré-impressão de revistas de moda, culinária, relojoaria e sociedade. Mas o que mais gozo dá ao profissional é a composição de livros. “O grafismo e os acabamentos, que incluem o desenho da encadernação, são fascinantes”, confessa. Do percurso de cerca de cinco décadas pela tipografia, o chefe de pré-impressão só se recorda de um percalço sério a nível profissional. Foi na década de 70, depois do 25 de Abril, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), quando chamado para um plenário da empresa, se viu sob a ameaça de ser saneado pelos próprios colegas. Como fui avisado no dia anterior, escrevi madrugada dentro tudo aquilo de que me lembrava do meu percurso profissional e pedi, na sessão, para o ler. No final, o representante do sindicato, que tinha vindo de Lisboa, pediu-me desculpas pelas acusações e pela reunião”, resume.
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