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Morreu a última sobrevivente do sismo de 1909 em Benavente

Bárbara Ganhão completava 106 anos no sábado, 9 de Maio

Com cinco anos foi salva debaixo dos escombros que mataram a mãe, a vizinha e duas amigas da sua idade. Há 100 anos o terramoto matou 40 pessoas no concelho de Benavente.

Bárbara Ganhão morreu na madrugada de terça-feira, 5 de Maio, a quatro dias de completar 106 anos de idade. A centenária era a última sobrevivente do terramoto de 1909 em Benavente e faleceu no dia em que começou um exercício internacional da protecção civil para testar respostas em caso de novo terramoto na região.Bárbara Ganhão, natural de Benavente, morreu na Casa de Repouso Cantinho do Paraíso, em Foros de Salvaterra de Magos onde estava há alguns anos. “Sou muito bem tratada. São todas minhas amigas, muito asseadas e tratam bem de mim”, disse numa das últimas entrevistas.Nos últimos meses teve vários problemas de saúde e chegou a estar internada no Hospital de Santarém, mas nunca perdeu a lucidez e a memória.“Eu debaixo da terra, gritei: “oh senhor Júlio, estamos aqui”, mas ele não me ouviu. Andaram várias pessoas por cima de mim e não me encontraram, até que um homem sem querer escavou ao pé da minha cabeça e viu os meus olhos. Lembro-me tão bem dele ter dito: ai ela é tão bonitinha. Tem um olhinho azul”, contou a O MIRANTE no dia em que fez 100 anos.Uma entrevista com honras de primeira página motivou o interesse da comunicação social nacional e Bárbara deu várias entrevistas e foi protagonista de um conjunto de reportagens associadas ao risco dos sismos que está bem vincado em Benavente. Na conversa com O MIRANTE, Bárbara Ganhão relembrou a tragédia. Naquele dia uma vizinha insistiu para que a sua mãe a acompanhasse ao campo onde o pai trabalhava, mas a mãe não queria ir porque tida lido no “Borda D’água” (publicação que falava das marés, luas e fenómenos naturais) que às cinco da tarde iria haver um abalo de terra. As insistências da vizinha acabaram por convencer dona Litícia, assim se chamava a mãe de Bárbara, e lá foram. Ao chegarem à casa do pai da vizinha, passavam cinco minutos das cinco da tarde, ouviram um enorme estrondo e sentiram um abalo. Bárbara Ganhão, a mãe, a vizinha e duas filhas de tenra idade ficaram soterradas nos escombros. Só ela sobreviveu.Depois de desenterrada, Bárbara foi levada num carro de bois para Benavente ao lado da mãe e das crianças mortas. “Nunca mais me esqueci do que vi. Chegaram ao cemitério e puseram os corpos para dentro de uma vala”, lembrou emocionada.Nos dias que se seguiram ao terramoto, Bárbara apercebeu-se da destruição da vila. Nem a igreja resistiu ao sismo que destruiu a maioria das casas e fez mais de quatro dezenas de vítimas mortais. “Foi uma tristeza muito grande. Só a imagem de Nossa Senhora ficou inteira”, recordou.Bárbara casou aos 17 anos e foi amor para a vida inteira. O marido só a deixou quando morreu aos 83 anos, depois de 66 anos de vida conjunta e muitas dificuldades para criar os cinco filhos.Apesar da maioria dos irmãos ter ultrapassado os 85 anos, Bárbara, a mais nova da família, confessou que nunca pensou chegar aos 100 anos. Encarou a morte com toda a naturalidade. “Estou preparada para morrer. Com esta idade o que é que se pode esperar? Eu já vivi demais”, afirmou.O corpo de Bárbara Ganhão foi sepultado no cemitério de Benavente na quarta-feira depois de uma homenagem de centenas de pessoas.

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