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Um jovem empresário com os olhos postos no mundo

Um jovem empresário com os olhos postos no mundo

Jorge Lopes agarrou a empresa do pai em 2007 e internacionalizou o negócio

Ainda era estudante quando criou uma empresa de congelados. Seguiu-se um projecto de informática até que decidiu agarrar na empresa do pai na área de comércio e transformação de carnes. Hoje, Jorge Lopes, 31 anos, gere uma firma integrada num grupo com escritórios no Brasil, em Espanha e na Polónia. Sente-se um cidadão do mundo e se o mercado em Portugal não evoluir de feição vai rumar de malas e bagagens para Madrid.

Aos 20 anos criou a sua primeira empresa de congelados com um colega de escola. Comprou uma câmara frigorífica que instalou no armazém da avó, em Sobral de Monte Agraço, uma carrinha e saiu à rua para fazer negócio. A sociedade chegou a ter dois colaboradores que faziam a distribuição durante o dia. “Nós íamos para a noite vender hambúrgueres às roulottes. Ganhávamos dinheiro. É certo que gastávamos metade na discoteca, mas o negócio corria bem”.Onze anos depois Jorge Lopes, um jovem empresário de Arruda dos Vinhos, 31 anos, é o director geral de uma empresa de comércio e transformação de carnes, Lusobeef. A firma está integrada num grupo internacional que movimenta oito milhões de euros por ano. Em 2007 chegou a acordo com o pai, com quem chegou a trabalhar, para ficar com a empresa familiar “Carlos Lopes e Filhos”. Deixou a firma de informática e publicidade que entretanto criou e dedicou-se à área de negócio das carnes. A empresa modernizou-se e já galgou fronteiras. Tem escritórios no Brasil, Espanha e Polónia, com duas pessoas a trabalhar consigo em cada país, e já integra um grupo de empresas internacional.Para trás ficou um curso superior de economia em Lisboa. A vontade de fazer negócio era mais forte. O mercado de trabalho tem-lhe dado a tarimba. Arrepende-se apenas de enquanto estudante não se ter dedicado mais ao Inglês – língua fundamental para um empresário que se quer lançar no leste da Europa – o mercado do futuro.Compra carne na América do Sul que escoa para Europa. Trabalha com intercâmbio de produtos sem estar apenas num só local. O pai, que trabalhou trinta anos no sector, é o seu grande conselheiro, mas a última palavra é do gestor. “Trabalhamos em parceria. Há muita coisa que aprendo com o meu pai. É com a diferença de gerações que aprendemos”.Lançou-se no mercado das carnes, mas não deixou de lado a área da publicidade e informática que quer começar a desenvolver e que está na base da expansão para Leste, Brasil e Espanha. Está a trabalhar num software de gestão integral de todos os artigos que movimenta.Jorge Lopes gere uma equipa de cerca de meia centena de pessoas em Portugal e no estrangeiro. Algumas à distância. “Trabalhamos por Internet e usamos as novas tecnologias para falar como o msn, o skype e o e-mail. Acedemos remotamente a qualquer parte do mundo com as novas tecnologias”.Viajar pelo mundo faz parte do seu dia a dia. Desloca-se ao terreno para conhecer o mercado e as mentalidades. “Na Polónia temos um projecto da publicidade com um suporte em papel para colocar debaixo do prato. Na polónia ainda se usa o pano. Daqui a cinco anos eles também vão usar papel, mas neste momento ainda há um choque de culturas”. Não tem tempo para programar, mas tem tempo para idealizar software. O sistema de rastreabilidade que usa na página da Lusobeef foi criado pelo gestor. Antes de concretizar pensa, projecta e idealiza. Trabalha com bases de dados que o ajudam a gerar resultados. Gosta de ouvir o que os números dizem. A técnica permite aferir a produtividade dos trabalhadores. Um dos problemas de Portugal, a par da baixa produtividade. e da dificuldade em gerir pessoas.Gerir pessoas é uma das suas grandes dificuldades. Trabalha com uma geração desmotivada que pensa apenas na pequena reforma, mas também com uma equipa jovem e ambiciosa. Quem o ouve esquece por momentos a crise, mas Jorge Lopes não esconde que existe um grande problema de liquidez. Tenta que os colaboradores não o encarem como patrão. O sucesso depende de um trabalho conjunto. Neste momento está instalado em Arruda dos Vinhos, mas com a visão de em dois ou três anos poder partir para Madrid, onde se tem maior liberdade para trabalhar na área alimentar. A partir da cidade espanhola quer continuar a apontar a Lisboa e voltar-se para Barcelona, Sevilha e Vigo. Sente-se um cidadão do mundo. Antigamente o pai demorava cinco horas a chegar ao Algarve. Hoje é esse o tempo necessário para chegar a Kiev. O mundo globalizou. “Vivo para ser feliz. E se calhar vou sê-lo no mundo”.O lado positivo da ASESe para muitos ASAE - Autoridade de Segurança Alimentar e Económica - é sinónimo de fiscalização e fundamentalismo para alguns empresários pode ser vista com uma mais valia. É essa a opinião do empresário Jorge Lopes“A ASAE é importante. Está a dizer às empresas que não cumprem que saiam fora. Nós que cumprimos depois perdemos quota de mercado”, diz Jorge Lopes que admite que em alguns casos pode existir da parte da autoridade “uma maior tentativa de entender os projectos”. A conclusão é inevitável: o mercado da alimentação nunca foi tão claro. O controle permite apurar também à empresa se existem quebras em demasia e proporciona uma visão global do negócio. A rastreabilidade casa com a economia e com a gestão. “Temos a capacidade de ver de onde veio um lote de salsicha fresca”, exemplifica.O jovem empresário ressalva no entanto que a lei por vezes se contradiz. “Se repreender um funcionário por estar a fazer mal a rastreabilidade não o posso pôr na rua por causa do código do trabalho, mas se a Asae o apanhar pode aplicar-me uma coima”, ilustra.“Os políticos são o lixo dos gestores que existem”Face aos problemas que existem actualmente não há governantes à altura em Portugal. Quem o diz é o jovem empresário Jorge Lopes, director geral da Lusobeef, uma empresa de comércio e transformação de carnes com sede em Arruda dos Vinhos e escritórios no Brasil, Espanha e Polónia. “Gerir o país é o mesmo que gerir uma empresa”, sublinha Jorge Lopes que considera que é preciso analisar o que o país tem que bom e para potenciar e o que temos de mau para corrigir.“Devia estar um grande economista à frente de uma empresa. É uma burrice haver tectos salariais. Um economista que ponha Portugal a produzir mais toiros e mais vacas em vez de ganhar cinco mil euros que ganhe quinze. Os bons gestores estão na banca onde ganham dinheiro. Vão sujeitar-se a levar com tomates na rua quando podem ter o seu trabalho e ganhar mais? Os políticos são o lixo dos gestores que existem”, remata.Lamenta que os portugueses estejam desmotivados e que falem recorrentemente do passado. “Nós descobrimos…, mas já está tudo descoberto. Se fechassem as fronteiras ao final do mês não havia carne em Portugal. Temos que voltar à agricultura, mas quem quer fazer isso?”, analisaEm Portugal, sublinha, não há falta de trabalho, há falta de empregos que toda a gente quer. Para agravar o estado das coisas a lei desmotiva quem é empreendedor. “Julgo que o Leste vai ser o mercado do futuro. A 27 vamos passar para último lugar”.Porque é que ainda não se mudou de malas e bagagens, pergunta-se. “Estou a fazer um projecto para deslocalizar grande parte da produção para Espanha. Portugal não dá condições aos empresários para evoluir”.Se em Espanha é o próprio Governo que apoia os projectos que criam emprego em Portugal verifica-se o contrário. Se a política continuar muita gente se vai deslocalizar, vaticina.“Ninguém ganha dinheiro a valer em Portugal. É um mercado pequeno, de nichos, que já estão ocupados. O 25 de Abril abriu oportunidades para que as empresas crescessem e só não aproveitou quem não quis. Hoje está tudo na mão de dois ou três grupos”.Já alinhou numa lista às autarquias em Sobral de Monte Agraço, mas descobriu que não é a sua vocação. Preserva demasiado a vida privada. “A política é a forma mais fácil de enriquecer. Vivemos num país sem regras ou o caso BPN e BPP não tinha acontecido. E agora pergunto: a nossa justiça vai prender quantos?”Raça de toiro bravo na mesa do restauranteImagine que um toiro que é lidado na praça é apresentado no prato alguns dias depois. É esta a génese do projecto Raça Brava que o director da Lusobeef quer implementar. O sistema de rastreabilidade que a empresa utiliza permite que o consumidor final possa ter acesso à referência e verificar a proveniência exacta do animal. Jorge Lopes diz que é um projecto para avançar ainda em 2009 quando terminar os protocolos que está a tentar estabelecer.O empresário quer apostar em contratos anuais para evitar as oscilações de preços decorrentes da época alta taurina, garantindo um preço estável e de forma a que todos ganhem e tenham garantias. “A nossa ideia é ter duas ou três pessoas que nos comprem animais e que garantam ao próprio agricultor o escoamento da matéria-prima”, explica Jorge Lopes.O empresário está disposto a procurar clientes a nível nacional e no estrangeiro consciente das diferenças culturais e quer chegar às grandes superfícies. O circuito pretende também integrar os animais que não entrem nas praças por não possuírem as condições exigidas. O projecto da raça brava vai estar associado ao Clube do Ganadero, vocacionado para o produtor, mas com uma componente de lazer “Poderemos criar um prémio para o maior produtor”, propõe. O menino rebelde amante de motosQuando era adolescente queria comprar uma moto e ganhar dinheiro. Aos 31 anos o empresário do sector das carnes, Jorge Lopes, tem um sonho completamente diferente: chegar aos 35 anos com família já constituída. “Em 2010 ou 2012 vou começar a pensar em ter a minha família, mas agora vou lutar para ter um suporte. Estou a lutar para dar continuidade aos meus projectos. Não quero chegar aos 40, olhar para trás e pensar: para quê tudo isto? O amor não se compra”, diz o empresário que garante que viajar pelo mundo e trocar de hotéis todos os dias parece bonito, mas é cansativo.Mora em Lisboa, no Parque das Nações. Escolheu a zona por ser apaixonado por água, não fosse caranguejo de signo, mas também pela proximidade ao aeroporto que lhe facilita a vida sempre que tem que deslocar-se entre Madrid, Rio de Janeiro ou Varsóvia. Sente também um desejo de privacidade. “O que é mais agradável em Lisboa é que sou mais um”.Delega cada vez mais funções na empresa com sede em Arruda dos Vinhos. Incentiva os colaboradores a “tomar a liberdade de errar” até para que possam crescer na carreira. O escritório da empresa foi herdado do pai. Mantém a imagem de Nossa Senhora de Fátima por cima de um armário. É uma pessoa crente. Acredita numa força superior. “Já fui louco por velocidades e até hoje não percebo como é que passei por um acidente sem o ter. Tenho a sensação de que algo me protegeu”.Sorri mesmo quando tem dezenas de problemas para resolver e tem um discurso de empreendedor optimista. Condena quem se sente derrotado à partida. Errar, acredita, pode ser o caminho para evoluir. “Se perdi hoje amanhã vou ganhar. O que é a vida senão um jogo?”
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