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Avieiros de Vila Franca de Xira temem incêndio em arrecadações

Avieiros de Vila Franca de Xira temem incêndio em arrecadações

Comunidade considera-se isolada e quer ser ouvida por autarquia
“Aquilo é um barril de pólvora, não é preciso pôr lá gasolina. Se alguém põe ali fogo, vai tudo embora”, conta António Charana. O septuagenário, natural de Vila Franca de Xira, é um dos vários habitantes do bairro do Avieiros que teme pelas suas artes de pesca, guardadas em arrecadações de madeira construídas pela câmara municipal. “Há rapaziada nova, da vila, que vai para li fumar à noite. Se há um descuido nem quero pensar”, relata o sénior. Provisórias desde 2007, aquando do realojamento dos avieiros no novo bairro, à beira-rio, as arrecadações de madeira aguardam a sua substituição por outras. “Ainda morro e aquilo continua ali”, lamenta António Charana. Rui Moreira, 38 anos, é um dos mais jovens pescadores do bairro e viu as máquinas da câmara derrubarem a arrecadação de argamassa que tinha com o seu pai, a sul do bairro. “fazia cinco ou seis desta e não punha em risco os nossos materiais. Toda a gente sabe que as artes de pesca são inflamáveis e há quem guarde nas arrecadações os seus combustíveis”, conta. José Letra Lobo é outro dos pescadores que vive preocupado com a situação. “Quando há peixe nós não paramos de trabalhar e precisamos das nossas artes”, conta. “Não bastava proibirem a venda fora dos mercados de algum peixe que pescamos, querem acabar com a nossa passagem pela linha do comboio até à vila. As arrecadações são o perigo com que convivemos todos os dias”, diz o veterano de 67 anos. A população avieira de Vila Franca de Xira vive no entanto uma situação menos complicada que a de outras comunidades piscatórias do concelho. Na Póvoa de Santa Iria permanecem as antigas casas palafíticas à beira rio, feitas em madeira e betão, onde são guardadas artes, à mercê dos amigos do alheio e das intempéries. Só em Alhandra, a argamassa fez escola e proporcionou aos avieiros um local onde arrumar as suas ferramentas de trabalho. O bairro dos avieiros acolhe desde 2007, 22 famílias contempladas pelo realojamento ao abrigo do Programa Especial de Realojamento (PER). A população da urbanização descende dos primeiros pescadores avieiros provenientes da aldeia piscatória de Vieira de Leiria, concelho da Marinha Grande. No Inverno rumavam ao Tejo à procura de sustento. Deixavam o mar salgado e bravio e partiam no encalço da água doce onde pescavam o sável. Muitos viviam nos barcos avieiros, cobertos por uma lona.A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira desvaloriza o descontentamento e adianta terem sido os avieiros a escolher o modelo de arrecadações do seu bairro. A empreitada foi candidatada em 2002 ao programa governamental “Marés”, destinado à recuperação das zonas ribeirinhas com comunidades piscatórias.“Parque de estacionamento” à beira-rioA comunidade avieira de Vila Franca de Xira reclama ter sido abandonada pela câmara municipal. “Nunca vêm ter connosco para conhecer as nossas necessidades”, queixa-se Rui Moreira, residente no bairro. “Não há um parque infantil para os poucos miúdos que há brincarem, nem tão pouco pavimentam as ruas. Isto transformou-se num parque de estacionamento da cidade”, lamenta. À volta das habitações, o passeio de metro e meio define a fronteira entre a zona preparada para residências e o chão feito de terra que existe em todo o bairro. Numa zona onde crescem as ervas daninhas, uma grade da câmara municipal tem um aviso para que os moradores não estacionem na área térrea por ocasião de trabalhos de desmatação. O acordo celebrado entre a câmara municipal e os moradores não permitiu a a todos obter uma habitação – muitos não queriam sair das suas casas térreas de betão. Aos que aceitaram, a autarquia ofereceu uma casa, mas esqueceu os acessos e as condições da zona envolvente.
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