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Dez anos à espera que Brisa assuma responsabilidade na morte da filha

Estudante de Psicologia morreu após embate com javali na auto-estrada A1

António Luís comoveu-se ao ouvir os depoimentos das testemunhas que assistiram à morte da filha. Palavras que reabriram “feridas” que o tempo não sara. Empresário de Santarém quer levar o processo até ao fim.

“O reavivar da memória recupera uma dor que nunca se apaga”. Quem o diz é o pai da estudante de Psicologia que morreu há quase 10 anos num acidente causado por um javali que se atravessou na frente do carro na auto-estrada A1, na zona do Carregado. “Não se tira bilhete na portagem para a morte. Pagamos para viajar em segurança e a minha filha morreu porque a segurança falhou”, adianta.Na terça-feira, 19 de Maio, António Oliveira Luís voltou a comover-se ao ouvir as testemunhas descreverem pormenores do acidente que matou a sua “menina”. Sandra regressava de mais uma aula e embateu contra um javali que subitamente se atravessou na faixa da esquerda. Depois outro carro bateu violentamente contra a viatura e envolveram-se ainda mais duas viaturas.Sandra Luís tinha 28 anos, era técnica do departamento de cultura da Câmara de Santarém e acabava a licenciatura em Psicologia.Já passaram quase 10 anos, mas a Brisa, concessionária da A1, e as seguradoras ainda não assumiram a responsabilidade. No processo-crime, o condutor que embateu na traseira do carro de Sandra foi absolvido e houve recurso até ao Supremo Tribunal de Justiça. O engenheiro de 42 anos disse na terça-feira que circulava a 80 km/hora e deparou com o carro de Sandra parado na faixa da esquerda, após um curva longa, e sem luzes. “Travei e o carro bloqueou e embateu na viatura que estava parada”, referiu o condutor que sofreu ferimentos graves, mas recuperou.Juíza quer concluir processo antes das fériasO processo cível corre no Tribunal de Alenquer há sete anos. “Evocam todos os motivos para paralisar o processo e nós andamos nisto há 10 anos. Mas eu não irei desistir. Estou pronto para ir até ao fim”, explica o empresário de Santarém depois de ver a sessão de julgamento ser interrompida por problemas pessoais do advogado que representa uma das seguradoras. Antes já houve atrasos no processo por ausência de testemunhas e por avarias no sistema de vídeo-conferência. A juíza Manuela Pereira entende que o caso já se arrasta há demasiado tempo e anunciou que quer terminar o julgamento antes das férias. A próxima sessão será a 16 de Junho.Algumas das testemunhas ouvidas na terça-feira, pessoas envolvidas no acidente com quatro viaturas a 22 de Novembro de 1999, já não conseguem recordar pormenores que podem ser importantes. Mas dois dos depoimentos confirmaram a existência do javali morto na estrada. O pai da vítima garante que o animal terá passado por um buraco na rede de segurança da auto-estrada que foi reparado, “um dia ou dois depois do acidente”. A Brisa alegou que tem equipas de manutenção que vigiam e reparam todas as situações com regularidade, mas, segundo António Luís, há várias testemunhas que garantem o contrário. “A minha vontade é que a Brisa altere a sua forma de tratar os clientes. Tem uma carta tipo que avança em todos os acidentes desde o mais pequeno, só com danos materiais, aos que têm mortos. Diz sempre que cumpre com todas as normas de segurança, mas não é verdade”, refere com indignação e revolta. António Luís está confiante de que o Tribunal lhe vai dar razão. Durante muito tempo a concessionária da maioria das auto-estradas nacionais foi ilibada nos vários processos, mas em 2005 o Supremo Tribunal de Justiça condenou a Brisa num processo em que um condutor se despistou na A2 após embater num cão considerando que não foram acauteladas as medidas de segurança a que a concessionária estava obrigada.António acredita na justiça, mas lamenta que seja tão lenta. “Esta lentidão nunca me desmotivou porque quero ir até ao fim, mas tenho sofrido muito. Sempre que se fala no acidente é reavivar feridas que nunca saram”, adianta. O pai de Sandra tem recebido incentivos de amigos e de pessoas anónimas que o confortam e dão coragem para não desistir.Alimentar um processo deste tipo tem custos que António tem conseguido suportar, mas que, reconhece, “seria complicado assumir por parte de uma família sem recursos”.

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