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“A minha recandidatura é um acto de coragem”

“A minha recandidatura é um acto de coragem”

Pedro Pisco dos Santos é o primeiro militante do PSD de Almeirim a recandidatar-se à câmara

Militante do PSD há dez anos, Pedro Pisco dos Santos, natural de Almeirim, jurista de profissão, quebrou o enguiço do partido que vem desde o 25 de Abril. Em todas as eleições autárquicas havia um candidato novo. O vereador na Câmara de Almeirim, quadro do Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC), diz que o partido no concelho já encontrou o rumo, que há militantes que se afastaram e que estão a voltar e que tem o apoio dos históricos sociais-democratas locais. Fala sobre a tensão política que tem existido no executivo dizendo que não é com extremismos que se resolvem os problemas do concelho, realçando que mantém uma boa relação pessoal e institucional com o presidente.

É o primeiro a quebrar a tendência do PSD de Almeirim de em todas as autárquicas apresentar um candidato novo. Ao ser o primeiro recandidato quer dizer que a concelhia do partido já encontrou o rumo?O PSD de Almeirim encontrou o rumo em 2004. Na altura todas as pessoas da comissão política assumiram o compromisso de quebrar com o passado em termos da abordagem junto dos munícipes. Isso foi conseguido.O que é que mudou?Há ideias, há projectos e ao longo dos últimos quatro anos sempre tentámos evidenciarmo-nos pelas nossas medidas. O PSD não é um partido que, por não ter ganho as eleições em Almeirim em 2005, ficou estagnado e adormecido a aguardar por umas novas eleições. Isso era o que acontecia antes. Tínhamos um candidato, não ganhava, fazia o seu papel de vereador. Era cumprir os mínimos. O que é que acordou com o PSD?O que me foi exigido e o que exigi aos que estão comigo foi darmos tudo por tudo para que as pessoas olhassem para nós como uma alternativa credível no concelho. Assumi sempre dentro do partido e no executivo camarário uma atitude de profissional. Ou seja, dar o meu melhor dentro das minhas limitações. É notória a diferença entre o PSD antes de ter assumido funções na comissão política e agora. O passado do PSD no concelho foi sempre ou apagado ou conturbado. O que é que aconteceu? Não havia pessoas à altura?Desde o 25 de Abril houve sempre pessoas para assumir funções no partido. Muitas vezes a dificuldade era conciliar a vida profissional com a vida pessoal e partidária. Houve alguns candidatos que representavam a esperança de conquistar a câmara municipal. Só que estamos dentro de um concelho maioritariamente dominado pelo PS, o que cria dificuldades à nossa afirmação. Até porque o PSD não tem os meios que tem o Partido Socialista e isso dificulta a acção das pessoas.Não deve ser só isso…Há muitas pessoas do PSD que me diziam que não se queriam envolver porque têm negócios no concelho. Havia um certo medo há uns anos. Isso levava à fraca capacidade de mobilização. Depois o trabalho político de quem está na oposição não tem condições para gerar a mudança. O PS, que está no poder, é que dá o pontapé de saída para as medidas a implementar. Tentamos apresentar as nossas ideias e medidas.Em 2004 houve uma ruptura entre militantes na concelhia, alguns desfiliaram-se do partido. Foi uma revolução?Foi uma altura conturbada. Houve uma saída de muitos militantes. Nos últimos quatro anos mostrámos às pessoas que deviam voltar. Porque temos um ideal comum que é o PSD e Almeirim. A maioria das pessoas que tinha saído já voltou. Essas pessoas vão-nos ajudar nestas autárquicas. Estas revoluções internas são importantes para separar o trigo do joio? As quebras dentro de um partido têm efeitos negativos mas também muitos positivos. Com estas situações dá para ver quem está no partido porque acredita, quem está lá por estar, quem está por Almeirim, quem está para trabalhar ou quem está porque quer o poder. A direcção da concelhia é essencialmente constituída por gente nova. Os históricos do PSD onde andam?As pessoas que estão a dirigir o partido têm entre 30 e 45 anos. Mas os mais velhos, os que fundaram a concelhia, estão comigo e estão disponíveis para ajudar porque acreditam no nosso projecto. O que se passou até agora com o PSD em Almeirim não foi também o reflexo da falta de acompanhamento e apoio por parte da distrital?A primeira preocupação das distritais é apoiar as concelhias onde o PSD governa e depois dedicar-se às outras secções. Nunca senti falta de apoio enquanto vereador e elemento da comissão política concelhia tanto do Vasco Cunha como do Miguel Relvas. E antes do Pedro Pisco se ter candidatado à câmara?Não havia secção. Só começou a haver actividade a partir de 1998/99. Houve um período de cerca de cinco ou seis anos em que o partido deixou quase de existir em Almeirim. Havia uma comissão instaladora que apenas garantia que o PSD ia a todas as eleições.Há quatro anos assumiu o compromisso de voltar a candidatar-se. Foi um acto de coragem?Foi. Porque aprendi muito neste tempo. Porque senti na pele as dificuldades de um autarca na oposição. Senti na pele a vontade de ter que lutar por um projecto diferente para Almeirim. Lutei contra muitas barreiras com a primeira candidatura porque as pessoas achavam que era muito jovem para as funções e foi preciso demonstrar que não era pelo facto de ter 30 anos que era pior que o actual presidente da câmara, Sousa Gomes (PS).E agora?Acho que dobrámos o Cabo da Boa Esperança. Hoje a opinião das pessoas é diferente. Mas tem a desvantagem de passar a maior parte do tempo em Lisboa, onde trabalha…Esse é o problema de todos os vereadores que não têm pelouros. Se fosse um vereador com pelouros a minha disponibilidade para estar ao serviço da câmara era total. Não me posso dedicar a 100 por cento à câmara porque sem pelouros a acção dos vereadores passa por apresentar algumas propostas, ideias e fiscalizar o trabalho da maioria. A falta de um contacto assíduo com a população pode-lhe ser prejudicial…Tentamos contornar a situação sabendo juntos das instituições, dos clubes, as suas dificuldades. Não é por não ter uma gestão diária das relações com as instituições que, julgo, isso possa ser entendido como um problema.Como é que está a decorrer a preparação das listas às autárquicas?Todos os militantes do PSD de Almeirim vão ser envolvidos e vão ser chamados também independentes. Desde Outubro que ando a contactar muitas pessoas, alguns ex-militantes que regressaram. O PSD não tem elementos suficientes e por isso é que precisa de recorrer a independentes?O perfil para se fazer parte das listas não tem a ver com o facto de se ser militante ou não. Mas sim com o facto de serem pessoas que se evidenciam na sociedade, pessoas que pelo seu trabalho, atitude, são reconhecidas. Pessoas com competência, credibilidade, honestidade e com vontade de trabalhar são as que têm sido contactadas. Temos que escolher os melhores. A minha preocupação é para que os munícipes olhem para a minha lista e reconheçam claramente que determinada pessoa pode ser vereadora da Educação porque se evidenciou nessa área.Não faz falta uma figura agregadora, uma figura de renome, para dar mais sustentabilidade à lista e chamar mais eleitores?Sei que é importante haver muitas vezes uma figura de proa que possa captar votos. Isso ajuda mas às vezes é mais um mito. O mais importante é haver pessoas que os habitantes conheçam e reconheçam. Vamos ter nas listas pessoas de referência, na área da medicina, educação, juventude… Mas ainda não posso dizer quem são.“Não costumo resolver os assuntos pela confrontação”O actual mandato tem sido caracterizado por um clima de tensão, de crítica feroz essencialmente ao presidente da câmara. O vereador do PSD tem-se mantido um pouco à margem desta guerra porquê? É uma estratégia?A confrontação só é necessária quando as situações o impõem. A confrontação sistemática e levar as questões para aspectos pessoais não resolvem os problemas do concelho. Prefere dar-se bem com Sousa Gomes…Tenho uma relação pessoal e institucional com o presidente da câmara boa, cordial. Todas as vezes que preciso de falar com o presidente ele está disponível. Fruto disso é que, ao contrário das outras forças políticas ou outros vereadores, o PSD tem neste momento o maior número de propostas acolhidas ou respostas a requerimentos em maior número que qualquer outro vereador. Não é com vinagre que se apanham moscas...O que sou na câmara é o que sou a nível profissional. Não costumo resolver os assuntos com a confrontação, mas explicando porque que é que esta ou aquela medida é necessária para o concelho. Não é pela forma violenta de confrontação que se dignifica o órgão.Como é que classifica a guerra sobretudo protagonizada pelo vereador Francisco Maurício e pela vereadora Manuela Cunha?Não tem havido a capacidade de distanciar o que é a política do que é pessoal.O que é que sente nas reuniões de câmara quando se dão estas tensões?Sinto que é uma perda de tempo. Não estamos a discutir o que é essencial para Almeirim. Utilizar o executivo para resolver assuntos mal resolvidos entre as pessoas não é a melhor forma.Já se sentiu a mais nas reuniões, enfadado?Já tive muitas vezes vontade de sair da sala quando os diálogos são estéreis. Só por respeito dos munícipes que estão a assistir às reuniões é que não saio. Não contribui para a imagem dos políticos tentar resolver assuntos que têm que ser resolvidos noutras instâncias, ou cara a cara ou no tribunal. Vou manter sempre a minha postura. Não é com extremismos que se resolvem os problemas de Almeirim.Como vê o aparecimento de uma candidatura independente liderada pelo vereador Francisco Maurício, que se incompatibilizou com o presidente? Em democracia há sempre espaço para candidaturas independentes. Haver mais um candidato só permite ao eleitorado ter mais capacidade de escolha. Não posso é admitir que se diabolize os partidos políticos até porque muitas vezes os independentes são dissidentes partidários. A candidatura independente é mais uma alternativa, agora espero que haja lealdade e urbanidade no debate político. Há a perspectiva do Bloco de Esquerda também vir a apresentar uma candidatura no concelho pela primeira vez. Isso é benéfico para o PSD?O que é benéfico para o PSD é ter a capacidade de transmitir às pessoas as suas ideias. Temos que nos concentrar em convencer as pessoas que o nosso programa é credível. Agora tenho a noção que vai haver uma polarização à esquerda.Está convencido que este é o ano de afirmação do PSD no concelho?Temos todas as condições para ganhar. A nossa expectativa é ganhar. É o meu sonho. Já lá vai o tempo em que as pessoas acreditavam em campanhas eleitorais e em medidas tomadas a seis meses das eleições. O mandato de Sousa Gomes foi de pouco ou nada.Como foi a gestão socialista neste mandato?Desastrosa, atabalhoada, sem ambição. Não houve a ambição de tomarem medidas de fundo. A gestão socialista demonstra o cansaço do professor Sousa Gomes. O centro escolar de Almeirim já devia ter sido construído há mais tempo, como alertámos, para não existirem crianças a terem aulas em contentores. Foi com o PS que falhou a instalação de um hospital de retaguarda porque demoraram muito tempo a responder a uma proposta da Misericórdia. Mas também não vou dizer que foi tudo mau porque assim estava a ser injusto com o presidente.
“A minha recandidatura é um acto de coragem”

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