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Quarenta anos dedicados à aeronáutica

Quarenta anos dedicados à aeronáutica

Custódio Pereira fez de tudo no ramo da mecânica de aviação

Nasceu em Grândola e mudou-se para Alverca aos 16 anos para abraçar a metalurgia das OGMA. Foi mecânico de estruturas, lidou com mecânica de motores e esteve na guerra colonial a dar apoio à força aérea. Hoje é mecânico de manutenção e reparação de ferramentas para a aeronáutica.Filipe Matias

A profissão de Custódio Pereira, 56 anos, é o seu maior orgulho. Sabe mexer em quase tudo o que tenha a ver com as partes estruturais de aviões, embora a sua actual profissão seja a de mecânico de manutenção e reparação de ferramentas para a aeronáutica. A sua função é atender os chefes de equipa da fábrica e abastecê-los das ferramentas necessárias para a realização dos seus trabalhos, assim como reparar todas as máquinas que estejam avariadas.“É quase um “pronto-socorro” imediato. Quando me trazem ferramentas que estão avariadas eu reparo-as e entrego-as quase na hora. É muito importante para a empresa, primeiro porque evita ter de enviar as ferramentas para reparação, o que iria demorar muitas semanas, e assim também sai mais barato”, conta a O MIRANTE.Custódio Pereira trabalha na firma Listral, uma empresa com ligações às Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA) de Alverca. Na fábrica produz-se toda a parte estrutural do avião suíço Pilatus PC12. Custódio mora em Alverca e acorda todos os dias às 05h45 para abrir a fábrica às 06h30. Liga as luzes, verifica se há problemas com as máquinas de produção, confirma que a fábrica não foi alvo de assaltos e liga os compressores, “para quando o pessoal chegar já ter os equipamentos prontos a trabalhar”. Já dentro do seu escritório, que fica paredes-meias com o local onde é construída a cauda do avião, Custódio Pereira começa a reparar as máquinas. Há de tudo, desde berbequins a máquinas de rebites específicas do ramo da aviação. Diz que já lhes conhece “as manhas” e que, na maioria das vezes, basta apenas saber o sintoma para decidir qual a cura a administrar. Para realizar a sua profissão usa uma série de ferramentas padrão que existem em quase todas as garagens: martelos, chaves inglesas e um torno. “Mas algumas ferramentas invento e monto, como esta, que serve para desmontar este aparelho que tem duas anilhas difíceis de tirar”, mostra-nos.A flexibilidade de horário permite-lhe gerir o tempo conforme a sua vontade, sendo que a maioria das vezes sai tarde do escritório que é, também, uma oficina. Mas esta não é a única profissão ligada à aeronáutica que Custódio Pereira abraçou. Nasceu em Grândola e mudou-se para Alverca aos 16 anos para ingressar nas OGMA. “Antigamente passávamos os fins-de-semana debaixo dos carros, a repará-los e a melhorá-los. Hoje em dia a malta não sabe o que lá existe. Sabem que tem uma bateria. E das pessoas da nossa idade toda a gente sabe o que lá está. Porque a nossa vida era passada a arranjar os travões, o carburador ou o escape. Nós éramos obrigados a ter mãos para a mecânica”, recorda, enquanto lamenta que a juventude de hoje só tenha mão para o computador. Frequentou um curso de aprendizes das OGMA e começou a fazer fivelas dos cintos de segurança dos aviões. Em 1969 Custódio Pereira era uma das 4.000 pessoas que trabalhavam nos estaleiros de Alverca. Passou a mecânico de estruturas e foi convidado a ir para a guerra remendar buracos de balas nos aviões de combate. “Fazíamos milagres, remendávamos buracos quando hoje se substitui todo um painel. Lembro-me de ver um avião a aterrar com o trem de aterragem preso com arames”, recorda ao nosso jornal. A experiência da guerra levou-o a mecânico de motores. “Quando o avião chegava com uma avaria, se o cliente já tinha a avaria detectada queixava-se da avaria. Se não, o mecânico vai fazer um ensaio de experiência. Pega num avião, como num automóvel, e faz uma série de ensaios em terra. Pressões, combustível, estado da injecção, rotações, rolamentos... Isto porque se tiver um motor que trabalhe em terra ele também funciona no ar. É a mesma coisa”, explica. A sua última passagem pela mecânica de aviões foi nas afinações, que eram feitas com o motor quente e a trabalhar. Este homem que fala apaixonadamente de aviões não tirou o “brevet” por falta de tempo e o seu grande susto no ar foi durante um voo de experiência. É casado, os seus dois filhos são agora mecânicos nas OGMA e diz que quer continuar na sua profissão enquanto tiver saúde. “Adoro isto”, conclui.“Em 1969 Custódio Pereira era uma das 4.000 pessoas que trabalhavam nos estaleiros de Alverca. Passou a mecânico de estruturas e foi convidado a ir para a guerra remendar buracos de balas nos aviões de combate”
Quarenta anos dedicados à aeronáutica

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