uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Reinventem-se os políticos

Paulo Caldas*Há dias partilhava com amigos um possível título para um ensaio político que estou a preparar acerca do poder local.Adiantei: “Verdades Inconvenientes da filha da p... da política”. Uma das jovens enviou-me uma resposta por SMS, muito interessante: “Muitas vezes a culpa não é da política…”. Meditei profundamente nesta mensagem e tirei algumas conclusões que gostava de partilhar.1 - Efectivamente, quem faz as instituições são as pessoas. É uma grande verdade que, desde há 36 anos (após quase 50 anos de uma ditadura), somos governados, na administração pública e privada por um conjunto restrito de pessoas. Sempre os mesmos líderes, que transitam de governo e representação, dentro e fora do país, para as empresas públicas e vice-versa, com um séquito de administradores e gestores que os perseguem para onde quer que vão.2 - Reina na gestão pública, e por vezes na privada menos competitiva, uma regra obsessiva e contra-natura que é a seguinte: os que deixam o poder querem continuar a mandar ou pelo menos a opinar e os que governam de novo desfazem muitas vezes as acções de quem governou antes.Em abono de consciência pública creio que esta prática é bem mais corrente na Administração Central do que na Administração Local, onde parece existir uma maior coerência de políticas e caminhos.É por isso que o nosso país assiste, ingloriamente, há mais de três décadas, a dezenas de Ministros e Secretários de Estado que passam pelas pastas de Educação e Ensino Superior, da Cultura, da Saúde, da Administração Interna, da Defesa e da Justiça, entre outras áreas e a sensação que todos nós portugueses temos que é a de que não existe uma linha de rumo. Um caminho consistente percorrido com políticas estruturantes e sustentáveis no tempo. E os ciclos políticos são, assim, cada vez mais curtos. Como numa pescadinha de rabo na boca.3 - Assistimos, impavidamente, a uma desconfiança generalizada na nossa sociedade em relação a quem tem poder. Porque algumas vezes o privilégio de interesses pessoais tem-se sobreposto ao interesse público, é péssima a imagem que se tem dos membros do governo, dos autarcas, dos gestores públicos e dos deputados entre outros eleitos e nomeados da Administração Pública, mas também por vezes privada.E o descrédito na Justiça é generalizado. Diria que é talvez das áreas mais tristes da nossa sociedade. A imagem de falta de transparência, seriedade e um caminho credível são claras, o que conduz o cidadão a evitar os caminhos da justiça a todos os níveis.4 - A incapacidade de se premiar a competência e a excelência, preponderando a inveja e a mediocridade na nossa sociedade, conduz a governação a uma infestação completa pelos velhos políticos que tudo fazem para se perpetuar no poder e a uma nova geração de novos velhos políticos, que aprenderam e aprendem pela mesma cartilha, que já se preparam para os substituir ou, aqueles ainda mais incompetentes, que se encostam às organizações e institutos públicos para sobreviverem e garantirem o seu posto de trabalho porque nunca seriam tão bem pagos noutra qualquer organização.5 - Os partidos anti-poder, BE e CDU e movimentos de cidadãos capitalizam, muito facilmente mas também de forma porventura efémera, todo este descontentamento, a maior parte das vezes sem apresentação de projectos alternativos. 6 - Algumas ideias de mudança:- Concursos públicos para preenchimento dos lugares da administração;- Limitação de mandato, 12 anos, como acontece e muito bem com os autarcas, para todos os cargos públicos e de eleição pública/nomeação política (deputados e membros do governo,…) como sinal sustentável de renovação da gestão.- Como acontece nalguns países mais avançados da Europa, garantir a manutenção dos Directores Gerais e Gestores Executivos, mediante avaliação anual, por períodos superiores às legislaturas (as políticas têm assim a possibilidade de se manter, pelo menos a máquina pública continuaria a funcionar, independentemente de quem é eleito para governar); - Criação das regiões administrativas com eleição dos governadores pela população residente; terminus imediato dos Governos Civis e redução para 150 do número de deputados na Assembleia da República (actualmente são 230);- Reforma do Código do Trabalho, da Política Fiscal e da Administração Pública, favorecendo a competitividade e a eficiência da organização pública e privada, o fortalecimento do emprego qualificado com bonificações fiscais e exigindo a avaliação dos trabalhadores com base em critérios de desempenho por objectivos.NOTA FINAL: Como socialista assumido e candidato à presidência da Câmara do Cartaxo lanço um repto ao Partido Socialista no distrito, com réplica no país. Que nas próximas eleições legislativas de 27 de Setembro constitua a sua lista de deputados com base em três critérios apenas:- Grau de competência dos candidatos;- Grau de notoriedade e credibilidade dos candidatos junto da população do Distrito;- Valorização de um programa de mudança das políticas actuais e avaliação do candidato de acordo com a melhor imagem junto da opinião pública nessa lógica de mudança e dinâmica.Estou confiante que, para além da reinvenção da forma de fazer política, ganharíamos as próximas eleições com uma margem confortável porque seríamos credíveis aos olhos da população e objecto de uma confiança e credibilidade maiores.Reinventem-se os políticos!*Presidente da Câmara Municipal do Cartaxo

Mais Notícias

    A carregar...