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“PSD de Santarém está refém de Moita Flores”

Eurico Saramago foi braço direito do autarca na campanha de 2005, mas deixou de o apoiar

Em conversa com O MIRANTE, em jeito de rescaldo da última assembleia de militantes da concelhia de Santarém do PSD, o ex-vereador e ex-presidente da Assembleia Municipal de Santarém diz que o partido “está mais que refém” do actual presidente da câmara. “O partido não deve andar atrás de um homem só”, defende.

Há quatro anos, Eurico Saramago foi um dos colaboradores mais próximos do então candidato à presidência da Câmara de Santarém pelo PSD, o independente Francisco Moita Flores. Entretanto, o militante “laranja” desde 1974 afastou-se de Moita Flores, não apoia a sua recandidatura pelo PSD, confessa alguma desilusão com o rumo do partido a nível local e reconhece que é uma das poucas vozes críticas que se ouvem a nível interno. Diz com humor ser “uma espécie de muro das lamentações” a que outros recorrem para dizer o que não têm coragem para assumir publicamente no partido.Na assembleia de militantes do PSD realizada a 20 de Junho, Eurico Saramago levou uma carta escrita em Fevereiro passado aos dirigentes concelhios do partido onde expunha os seus pontos de vista. Uma missiva de que diz nunca ter obtido resposta. Protagonizou uma das poucas intervenções críticas nessa reunião. Saramago, 72 anos, diz que não está contra a gestão de Moita Flores, que, na sua óptica, “é uma gazua que abre muitas portas”. Mas critica o estilo “populista” do qual se demarca e admite que não gosta de ver pessoas de Santarém serem maltratadas pelo presidente da câmara.“O partido não deve andar atrás de um homem só. Porque as pessoas não têm a vida nas mãos. Se ele adoece quem é que é capaz de aguentar isto? Não sou pessimista, sou é realista”, declara o histórico militante do PSD/Santarém, defendendo que o PSD deveria ter uma equipa pronta a responder a esses desafios.Eurico Saramago confessa-se desiludido com o rumo que as coisas levaram. “Comecei a afastar-me a pouco e pouco e comecei a ver mercenários da política a chegarem e a entrar pela porta grande. “Se fossem foras de série até admitia, mas não, são piores ou iguais a tantos jovens deste concelho que querem e merecem oportunidades para mostrarem o que valem”, diz na carta enviada aos dirigentes locais do PSD.Considera que o PSD tem pessoas “com qualidades iguais ou melhores” do que alguns elementos afectos à CDU – como Vicente Batalha e José Valbom – que foram contratados para trabalhar com Moita Flores. “Para não falar de outros que até me custa a acreditar que estão lá à sombra da sigla de um partido que tanto criticaram e desvalorizaram”, acrescenta.“O barco parece continuar à deriva”Saramago lamenta as “tempestades” que envolveram o elenco camarário, onde inclui o pessoal de nomeação política, e confessa “ter pena de não saber de que lado está a razão”. “O barco parece continuar à deriva. Não será só pela pesada herança socialista, pois a essa, e apesar de se prometerem muitos inquéritos políticos, foram todos perdoados ou esquecidos. Porquê? Nunca percebi porque nos remetemos ao silêncio ao fim de pouco tempo. Havia e há muitos telhados de vidro?”, questiona.Entre os exemplos das “tempestades” a que alude, avulta o da saída do vereador Mário Santos na fase inicial do mandato, alegadamente por razões profissionais. “Nunca percebi as explicações que foram dadas para a saída do Mário Santos, que era no início a figura e a pessoa imprescindível ao processo. Era o112 da câmara e do seu presidente”.A suspensão de mandato pedida pelo então vice-presidente da câmara, Ramiro Matos, em Novembro de 2008, também o deixou “baralhado”. “Para muitos era o piloto de um barco que se queria a navegar em mar calmo, para podermos chegar a bom porto daqui a uns meses nas eleições autárquicas de 2009”, diz Saramago, considerando que “deveria ter havido mais solidariedade dos militantes do PSD para com Ramiro Matos”.O ex-vereador defende que o partido não deve cair no mesmo erro na elaboração das listas e considera que “não vale a pena ganhar por ganhar”. “O PSD existe e continuará a existir mesmo que percamos a câmara. As pessoas de Santarém não são todas anormais e incompetentes. (…) Não consintamos que se continue a maltratar o passado e a descaracterizar tudo e todos”, diz Saramago, garantindo que a sua posição crítica não decorre de ter sido preterido para qualquer lugar: “Nunca me pus a jeito para nenhum ‘tacho’ nem ‘penacho’”.Eurico Saramago comunicou ainda ao partido que se sente “desobrigado de qualquer compromisso” em relação à estratégia para as próximas autárquicas se as listas “não corresponderem ao ideário do PPD/PSD”. E explica: “É verdade que neste momento Santarém conta para o ranking das câmaras do PPD/PSD, mas penso que é só a sigla que lá está, pois o ideário do partido há muito foi esquecido”.“O PSD existe e continuará a existir mesmo que percamos a câmara. As pessoas de Santarém não são todas anormais e incompetentes.

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