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Um pintor mobilizado para o associativismo

Um pintor mobilizado para o associativismo

Luís Filipe Dias tem um papel dinamizador da cultura da freguesia do Forte da Casa

Aliado da paróquia e da junta de freguesa na dinamização de eventos culturais, Luís Filipe Dias, pinta de acordo com a inspiração e as solicitações. O artista, com actividade associativa e política, defende um fórum cultural para o Forte da Casa.

São vários os locais da freguesia do Forte da Casa, concelho de Vila Franca de Xira, onde são visíveis as marcas do trabalho artístico de Luís Filipe Dias. Na Igreja do Sagrado Coração de Jesus como na Junta de Freguesia do Forte da Casa e noutros pontos da vila, o profissional na área da informática numa seguradora, pintor nos tempos livres, tem deixado ao longo de vários anos os frutos da sua inspiração, com um cunho de voluntariado. “As minhas atitudes e posicionamento são tomadas em função da personalidade das pessoas que a solicitam, na cultura, na política e no movimento associativo”, assegura. Luís Filipe Dias, 51 anos, garante que “as questões financeiras nunca estiveram presentes em nenhuma participação na área da cultura”.Nascido em terras de Moçambique, residente no Forte da Casa há cerca de 30 anos, não se reconhece como “artista”. “Comecei muito novo a praticar e na escola destacava-me em relação aos outros alunos na área do desenho e pintura, no ensino básico e no secundário”, conta Luís Filipe Dias. A vinda para Portugal aos 18 anos ditou novas fontes de inspiração. Formado e a trabalhar, resolveu tirar, há cerca de 12 anos, um curso na área do desenho e da pintura para conseguir “um grau de aperfeiçoamento maior”. A formação “veio preencher a componente técnica que faltava”, conta. A necessidade de concretizar os projectos culturais a que se dedicava fizeram o resto. Luís Filipe Dias integrou durante o final da década de 90 o Clube Recreativo e Cultural do Forte da Casa, onde dirigiu a área da cultura e mais tarde a gestão do próprio clube. Ali, na pintura de cenários e painéis para eventos culturais, peças de teatro e noites de fados e dança, foi exercendo a sua técnica. Em privado, Luís Filipe Dias ia pintando de acordo com a inspiração. “Nos últimos três anos, tenho feito grandes intervalos, por causa da vida profissional e da intervenção política na freguesia. Mas quando tenho tempo, vivo momento de grande alegria. A capacidade de executar não se perde com o tempo de intervalo”, revela. Nas telas, nascem obras inspiradas nas suas raízes moçambicanas, na lezíria e na localidade que escolheu para viver. “O Tejo, a lezíria e a própria história do Forte da Casa são motivo de inspiração para qualquer artista e não fujo à regra. São elementos com um grande valor artístico”, considera o pintor.Nas telas, o pastel e o acrílico são as técnicas favoritas. “São as que melhor me permitem exprimir ideias”, explica. Em cada obra, Luís Filipe Dias tem como objectivo “transmitir às imagens uma sensação de realidade”. E trabalho a trabalho, verifica que “há sempre uma evolução, mais próxima da perfeição que se quer atingir”. As obras nascem sempre “à noite e pela noite fora”, conta. E explica porquê. “Há menos motivos de interrupção”. Desde 1999, Luís Filipe Dias passou a colaborar com o executivo da Junta de Freguesia do Forte da Casa. “Não parei de colaborar na organização de várias exposições e eventos locais relacionados com as artes plásticas”, conta. Luís Filipe Dias expôs na Casa da Juventude, na junta de freguesia, no mercado municipal, mas também em galerias fora da freguesia, na cidade de Lisboa. Na freguesia, a organização das comemorações da Revolução de 25 de Abril de 1974, por várias ocasiões na última década, foi tarefa que desempenhou. Em 2006, foi também nessa data que três dos seus quadros dedicados às raízes agrícolas do Forte da Casa e ao significado histórico dos Fortes das Linhas de Torres, realizados a pedido do executivo, passaram a integrar a recepção do edifício da junta. Os trabalhos, a pedido das entidades locais são, de resto, um dos “maiores desafios” para o pintor. Luís Filipe Dias diz lidar bem com a pressão. “Quando são solicitados prazos procuro cumprir. O compromisso sobrepõe-se à organização da nossa vida e os trabalhos são feitos”. Entre as recordações mais emblemáticas de trabalho sobre pressão, o artista recorda a produção de três quadros que se encontram na recepção da junta de freguesia, em 2006, com data marcada para as comemorações de Abril, e um painel, realizado em 2004 para a paróquia do Forte da Casa. “O Padre Gil trouxe de Roma uma revista com um pequeno ícone da natividade, com cinco centímetros de altura. Demorei uma semana a criar um painel de três metros por um e oitenta com alguns dos elementos da imagem. Queria que fosse oferecido na data do aniversário do Clube Recreativo e Cultural do Forte da Casa, por ocasião de uma missa realizada em memória dos sócios já falecidos”, conta. O desafio foi superado um dia antes do previsto, após uma semana de trabalho diurno e nocturno na obra. À entrada da igreja do Forte da Casa, encontra-se outra obra de que foi ideólogo – uma estátua de Jesus Cristo (ver caixa). Da lista de contribuições para a cultura no Forte da Casa, Luís Filipe Dias detém ainda várias maquetas que deram origem ao postal alusivo editado anualmente pela junta de freguesia por ocasião do Dia Internacional da Mulher. Em Julho, o artista foi distinguido pela autarquia com a medalha de mérito cultural e artístico, no 24.º aniversário da freguesia e 20.º como vila. Luís Filipe Dias não deixa, no entanto, de ter um olhar crítico sobre a cultura na freguesia. “Tenho pena que no Forte da Casa as pessoas se alimentem com algumas exposições e eventos mas não passe muito disto”. O artista deixa aberta uma reivindicação política. “Seria importante que o Forte da Casa viesse a ter um fórum cultural, o mais depressa possível. A freguesia tem um potencial cultural e artístico digno desse investimento”, declara. A escultura que nasceu da necessidadeLuís Filipe Dias não é escultor, mas a estátua que se encontra à entrada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Forte da Casa, nasceu da sua criatividade. A obra, que estivera para ser realizada por um escultor que fugira com o dinheiro e sem deixar trabalho, estava a dar conta da paciência da paróquia. O novo escultor, contratado para fazer a peça em substituição do primeiro, exigia um desenho em tamanho real daquilo que os responsáveis eclesiásticos queriam. Foi então que o padre Gil Coelho solicitou a Luís Filipe Dias que idealizasse uma maqueta em tamanho natural, a partir de uma imagem com dez centímetros de altura.O artista não se fez rogado e a imagem de um Cristo Rei, com um coração em chamas surgiu, com um metro e oitenta de altura. A partir daí, coube ao escultor fazer o molde e a escultura final. “O padre Gil é uma das pessoas a quem a freguesia mais deve no que respeita ao trabalho em prol da cultura e do recreio. Por isso, fiz a maqueta como retribuição por todo trabalho desenvolvido por ele na freguesia”, revela Luís Filipe Dias. “As pessoas não estão sensibilizadas para a cultura”São várias as exposições em que Luís Filipe Dias participou, dentro e fora da freguesia do Forte da Casa. O artista critica, no entanto, a falta de disponibilidade do público para aceder à cultura. “Fazem-se eventos culturais mas as pessoas não estão sensibilizadas. A maior parte da população não tem o hábito de visitar museus, não está motivada e olha a cultura como actividade que implica encargos, pelo que não estão dispostas a comprar um bilhete, por muito barato que seja”, refere.A solução, acrescenta, passa por abrir os espaços públicos à cultura. “As exposições devem ir ao encontro da população, em locais como os mercados, os centros comerciais ou as escolas”, sugere. Da experiência que tem, regista a exposições colectivas em que já participou no mercado municipal do Forte da Casa, tal como no Centro Comercial Olival Parque. A disponibilidade das entidades para ceder os espaços é que, por vezes, se torna uma dificuldade. “Temos conversado com o proprietário do centro comercial. Íamos ficar num local de passagem e podíamos atrair mais gente para o espaço, mas este ano não houve disponibilidade”. No mercado municipal, devido ao conflito de um dia com a actividade dos comerciantes, a arte foi vencida pelos produtos frescos. Em 2009, nova exposição surgiu, mas no pavilhão gimnodesportivo municipal.
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