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Escola da Armada zarpou de Vila Franca de Xira após 75 anos de serviço

Antigos marinheiros recordam o tempo em que ali eram formados mil alunos por ano

Unidade da Marinha de Guerra fechou portas. O espaço está à venda por 74 milhões e aguarda compradores. Já há quem tenha ideias. Falta o dinheiro.

A azáfama reina no último dia de funcionamento da Escola da Armada em Vila Franca de Xira. Numa unidade em desmantelamento, os marinheiros agitam-se em limpezas. Na entrada da unidade da Marinha, com os portões já desmantelados, militares na reserva recordam com saudades, os tempos que passaram nas instalações. Caso de Caetano Dias, actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira e Capitão-de-Mar-e-Guerra na Reserva, que foi director da Escola de Máquinas e professor de várias disciplinas. O oficial, que serviu na escola em 1968 e depois de uma comissão na Guerra do ultramar, entre 1970 a 1976, não esconde o desagrado pelo encerramento da unidade. “Trata-se de um eventual golpe na hierarquia e para todos os alunos e formadores que ali serviram”, desabafa. O Grupo Nº1 de Escolas da Armada (G1EA), teve a sua origem na Escola de Mecânicos, criada por decreto a 10 de Maio de 1934, que passa a ser responsável pela formação da maior parte do pessoal técnico da Armada, designadamente Fogueiros, Serralheiros, Artífices, Condutores de Máquinas, Torpedeiros electricistas e, algum tempo depois, Radiotelegrafistas. Em 1961 a Escola de Mecânicos dá lugar ao G1EA, englobando a Escola de Alunos Marinheiros, a Escola de Sargentos e as Escolas Técnicas de Comunicações, Armas Submarinas, Informações em Combate, Máquinas, Electrotecnia e Abastecimento.A saída da escola da armada, para Caetano Dias, funda-se em “razões despidas de intencionalidade objectiva” que “encontram eco numa visão economicista da sociedade”. O encerramento, garante, “não prestigia a Marinha, a cidade, a região e o próprio país e as claras e indiscutíveis responsabilidades deverão aqui e agora, ser imputadas aos vários governos que mais uma vez, tentaram, sem o conseguirem, ferir de vez os que ali trabalham em nome da Marinha”. O militar na reserva considera que a unidade deveria continuar em funcionamento com as funções de instrução que sempre teve na área da investigação e desenvolvimento tecnológico. A posição de Caetano Dias parte das recordações que mantém como oficial na unidade. Lembra que a escola já foi “o maior centro de formação na área politécnica do país, abastecimento naval, armas submarinas, electrotecnia, informação de combate, máquinas, condução de viaturas e taifa (restauração)”. E recorda que durante a Guerra Colonial, saíam, só da escola de máquinas, mais de mil militares qualificados por ano. Vem-lhe também à memória o dia em que um oficial militar engenheiro foi destacado para apoiar a administração da Mevil – Metalomecânica Vilafranquense, que estava numa fase de decadência, com o objectivo de preservar os postos de trabalho e evitar a falência da empresa. Há quem destaque o espírito de camaradagem e as amizades que se fizeram dentro da unidade e que perduram fora das instalações militares. É o caso do cabo fuzileiro José Arcanjo, 51 anos, pai da fadista Margarida Arcanjo. “Estive lá oito anos e do total de 33, que estive ao serviço da Marinha, foi o melhor período por que passei”, relata. “O mais grato era estar em contacto com o pessoal”, conta. “Há oito meses, tive de fazer um tratamento no Hospital da Marinha, e aproximou-se um sargento que me disse que a minha voz era inconfundível, lembrando-me que lhe tinha dado instrução há 28 anos”, conta.Foi também nas instalações à beira do Tejo que este instrutor desenvolveu o gosto pela fotografia que tinha adquirido durante a Guerra Colonial. Em 1987, recorda, passou a ser o fotógrafo de serviço da Unidade. Lembra-se como se fosse hoje o dia em que teve a oportunidade de tirar fotografias da primeira incorporação de mulheres na Marinha, em 1992. Imagens que vão ficar para história, tal como as instalações que ficam vazias e com um futuro ainda por definir. Ideias para o aproveitamento do espaço Há várias entidades interessadas nas instalações, a começar pela câmara municipal. A presidente da autarquia disse em Julho, que “em parceria com algumas empresas”, a autarquia pretende criar ali “um centro tecnológico” e um “pólo de serviços de educação e desporto”. O preço do imóvel, ao que apurou O MIRANTE, avaliado em 74 milhões de euros, poderá ser um obstáculo. Com as actividades de formação do pessoal da Marinha transferidas para o Alfeite, a gestão do espaço vai ficar a cargo, em regime temporário, da Direcção-Geral do Tesouro e Finanças. Aos potenciais compradores resta preparar as estratégias para adquirir os 12 hectares que compõem o imóvel.

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