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Tratar dos toiros até o sol se pôr

Tratar dos toiros até o sol se pôr

José Inácio Volkery é maioral há seis anos

Numa propriedade agrícola dedicada à criação de toiros há sempre muito que fazer. Que o diga José Inácio Volkery, que largou a vida de serralheiro para abraçar, com a família, a vida de maioral.

É de manhã cedo que José Inácio Volkery chega à Herdade de Pancas para tratar dos toiros. O dia do vilafranquense, de 32 anos, tem como rotina obrigatória a alimentação dos toiros, com feno e ração, de segunda a domingo. Tudo o resto, explica, depende de cada dia e das necessidades da propriedade agrícola, que pertence à família Palha. “Há sempre uma vedação para ser arranjada, é preciso lavrar a terra para ser semeada, ou outro trabalho. Numa casa agrícola tem que se ser polivalente”, conta. Mas foi por gosto que José Inácio Volkery entrou na vida dedicada ao cuidado com os toiros. Aos 16 anos já aprendia a ser maioral com Nuno Casquinha, depois de no início ter sido aprendiz de serralheiro. E mesmo após nova incursão pela área da serralharia, motivada por “questões económicas”, voltou a ser maioral, desta vez trabalhando para Fernando Palha. “Quem me tira esta calma e este ambiente, tira-me tudo”, conta. No regresso ao trabalho com os toiros, já casado, José Inácio Volkery acabou por trazer para a herdade a sua esposa, Alexa, que com um curso de equitação passou a ajudá-lo no seu trabalho e a desempenhar funções na sua área de competência na propriedade. Sobre o seu trabalho, o maioral tem uma atitude digna de filósofos gregos da antiguidade. “Nunca se sabe nada de toiros, aprende-se um bocadinho todos os dias. Num dia, pode-se chegar muito perto de nós e não nos fazerem nada, noutros estão brigados e arrancam para nos tentar bater”, relata. No campo, ao ar livre, também a meteorologia pode trazer surpresas. “Quando se antevê trovoada, os sementais começam a fazer barulho, ficam mais nervosos e podem lutar entre si”. No dias de chuva, o problema é com as rações. “Azeda com a chuva e eles já não comem. Se for demais, ganha cheiro e não serve. Só cá estando todos os dias é que se aprende a ver isto”, conta. Para além da alimentação e dos cuidados com a propriedade, uma das tarefas de um maioral passa pela gestão da circulação dos toiros pela propriedade. Há vedações, cercas e os animais devem ficar sempre separados por grupos separados – sementais longe dos cabrestos, ou quando se pretende deslocar os primeiros, usar os segundos como “isco”. “Os animais circulam livremente, colocamos ração num ponto, o feno noutro e água noutro, para não estarem sempre no mesmo sítio. Em condições ideais, cada toiro necessitava de um hectare para se movimentar e estar sempre a mexer. Se ficarem dois grupos em parcelas lado a lado, caso sejam sementais, quando estão mais irritados brigam entre eles. Se forem sementais e vacas eles podem desfazer a vedação com a crença nelas”. José Inácio Volkery acompanha, ao longo de quatro anos cada toiro, desde que nasce até ser lidado na arena. E confessa. “O melhor é quando saem bravos e correspondem na arena à bravura dos seus antepassados”. Ao longo dos dias, das tardes e das noites, o investimento de suor e crença nas qualidades do toiro bravo. E no gosto pelo campo.
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