Ao comemorar cinquenta anos de alternativa Vila Franca de Xira presta-lhe homenagem Porque é que este momento é tão importante?Primeiramente porque faz precisamente 50 anos que eu estava aqui nesta praça a despedir-me de novilheiro. Esta praça é um lugar de culto para mim. Pouco depois tirei a alternativa de matador de toiros. Sentir isto é bom para a minha auto-estima. Já fui toureiro e tenho vitalidade para estar aqui dentro com todos os meus amigos. Qual foi o momento mais forte que viveu na Palha Blanco?O acto mais importante destes 50 anos foi na corrida em que lidei seis toiros Palha Blanco. Um caso inédito na altura. Oxalá os toureiros sejam capazes de repor esse feito. É um momento que ainda hoje me dá muito orgulho. Nos anos 60 estava no meu apogeu e entendi perfeitamente os toiros. Foi um êxito total. Fui passeado em ombros até à vila. As ruas apinhadas de gente. Foi realmente a euforia.Qual a diferença entre esse dia e hoje?Esse foi o princípio da minha consagração como toureiro. A partir daí havia que superar. Fui um toureiro deste país e fui um toureiro do mundo que foi capaz de dar resposta a tudo isso.Como vê as novas figuras que vão surgindo?Estamos numa nova fase do toureio a pé. Os jovens têm grande mérito e grande valor que algumas vezes nem sequer é reconhecido ainda neste país. O público é que manda e quer que o toureio a pé volte. Já há entre nós 40 ou 50 matadores de toiros. As coisas deviam ser divididas. Não só a corrida à marialva, mas a corrida mista. O público vai fazer justiça um dia destes.Voltou a sentir um nervoso miudinho? Sempre se tem medo. Porque isto mata. Isto mata. Nervoso diz você delicadamente. É medo. A pergunta devia ter sido essa. Ainda sente o mesmo medo? Tenho medo. Todos os dias me encomendo a Deus. É ele que tem sido o grande protagonista. Por me ter livrado muitas vezes da tragédia. Rezo para que Ele me preserve a vida. Isto é um jogo de vida ou de morte. Tenho 14 ou 15 cornadas e sei bem o que é. Há que declarar isso nos jornais.Qual foi a pior colhida?Em Sevilha. Fiquei às portas da morte. Nessa tarde tinha cortado duas orelhas no primeiro toiro e alcançado um grande triunfo. Com o entusiasmo e desejo de abrir a porta do príncipe quis tentar outro triunfo, mas por má sorte o toiro não obedeceu. Arte, valentia e perfume de toureiro Na Corrida de Toiros de 5 de Outubro, na Praça de Toiros Palha Blanco, em Vila Franca de Xira, durante a feira tradicional da cidade, o maestro José Júlio foi homenageado por um grupo de amigos com o descerramento de uma placa evocativa nas arcadas palha blanco depois de ter entrado em praça mais uma vez.As palavras inscritas na placa ficarão gravadas para sempre: “Ao primeiro matador de toiros de Vila Franca de Xira, José Júlio, nos 50 anos de alternativa. Nesta praça centenária aqui se evoca a corrida de 4 de Novembro de 1962 em que se encerrou com seis toiros da ganaderia “Palha”, tendo alcançado clamoroso êxito e sido passeado em ombros pelas ruas da vila, pela sua arte, valentia e perfume toureiro, o mundo toureiro rende-lhe justa homenagem. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Clube Taurino de Vila Franca de Xira, Empresa Tauro-Leve Lda, Escola de Toureiro José Falcão, Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira e Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira”.“Estamos numa nova fase do toureio a pé. Os jovens têm grande mérito e grande valor que algumas vezes nem sequer é reconhecido ainda neste país. O público é que manda e quer que o toureio a pé volte. Já há entre nós 40 ou 50 matadores de toiros. As coisas deviam ser divididas. Não só a corrida à marialva, mas a corrida mista. O público vai fazer justiça um dia destes”.