Vila Franca de Xira oferece aulas públicas para crianças surdas
Projecto decorre desde 2008 e em Janeiro arrancam as aulas especiais para autistas
O agrupamento de escolas Dr. Sousa Martins, de Vila Franca de Xira, é dos poucos a nível nacional que tem a funcionar aulas especiais para alunos surdos. O investimento adicional é suportado pelo Ministério da Educação e o projecto tem tido resultados positivos. Em Janeiro é a vez das crianças autistas.
As crianças do primeiro ciclo que sofram de surdez e frequentem o ensino público no concelho de Vila Franca de Xira têm ao seu dispor aulas especiais de língua gestual portuguesa. O agrupamento de escolas Dr. Sousa Martins, responsável pelo projecto, é um dos poucos a nível nacional a ter sido considerado como “escola de referência de educação bilingue para alunos surdos” pelo Ministério da Educação. O projecto agora em curso, que decorre na escola do Bairro do Paraíso, em Vila Franca de Xira, tem nove alunos do primeiro ciclo e o objectivo é que estes sejam acompanhados por especialistas até concluírem o 12º ano. “Uma das linhas orientadoras do nosso projecto educativo é que a escola deve ser inclusiva, ou seja, para todos os alunos. Mesmo aqueles que são portadores de algum tipo de deficiência. O ministério propõe e depois depende das escolas. Nós conseguimos criar as condições necessárias para ter esta oferta educativa. Exige muitos recursos, uma formadora de língua gestual portuguesa, uma intérprete de língua gestual e um docente de educação especial. É um tipo de ensino que envolve recursos muito variados e que têm de estar muito bem organizados”, explica Julieta Cordas, do agrupamento Dr. Sousa Martins a O MIRANTE. O balanço dos primeiros meses do projecto é muito positivo e os responsáveis garantem que é para continuar. Actualmente só existem nove alunos porque muitos pais, cujos filhos são portadores de deficiência auditiva, têm a crença de que estes devem ser integrados em turmas normais. Os professores não partilham da ideia. “Este projecto permite-nos ter uma ideia muito diferente. Estamos a terminar um estudo a apresentar em Abril do próximo ano sobre o desenvolvimento dos alunos surdos em turmas normais e desses mesmos alunos em língua gestual portuguesa. Em alunos surdos integrados em turmas regulares verificamos uma regressão ao nível cognitivo e a nível sócio-afectivo. Os outros têm tido um salto magnífico em todas as áreas: matemática, geografia e história, todas em língua gestual”, explica a responsável. Os pais têm-se mostrado satisfeitos com o projecto, que tem um custo elevado para os cofres do Estado. “Mais do dobro de um aluno regular”, assegura a nossa interlocutora. Helena Rodrigues, responsável pela direcção do agrupamento, foi a principal mentora do projecto. Um dado importante que, segundo a escola, é decisivo para que os alunos surdos entrem no projecto, é o facto dos pais optarem, aquando da matrícula, por língua gestual portuguesa. “Um pai cujo filho é portador de uma deficiência auditiva e vai para o primeiro ano de escolaridade no primeiro ciclo, no nosso agrupamento, pode escolher que primeira língua pretende ter: a língua portuguesa ou a língua gestual portuguesa. Aprende toda a simbologia da língua. Os alunos, mesmo surdos, que escolham a língua portuguesa em vez da gestual não ficam neste projecto”, alerta Julieta Cordas. A escola de Vila Franca de Xira recebe alunos surdos de todo o concelho e também de Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço, Azambuja e Santarém. O transporte das crianças para o estabelecimento de ensino também é gratuito. Os especialistas e pedagogos defendem que quanto mais cedo uma criança tomar contacto com a língua gestual portuguesa melhor preparada fica para os futuros desafios do ensino. “O nosso objectivo é tentar introduzir este projecto também nos nossos jardins-de-infância e já temos uma parceria com o Hospital Dona Estefânia em Lisboa, com a parte de crianças surdas, no sentido de fazer diagnóstico precoce e começar a desenvolver aprendizagem da criança surda em idades muito precoces”, conclui a nossa interlocutora. Em Janeiro há um projecto mais ambicioso do agrupamento para meninos autistas. Vai ser pioneiro no país e vai exigir ainda mais meios e especialistas. O projecto está na recta final e a escola assegura que vai responder a uma grande lacuna existente no concelho. “Temos muitos pais que nos têm abordado sobre este assunto”, refere Julieta Cordas.
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