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Frederico Nunes

Frederico Nunes

60 anos, director da Escola Secundária de Alcanena
Fui para a guerra de Angola em 1971-72. Quando regressei estava decidido a fazer um percurso profissional dito “normal” e tentei ser empregado bancário em Lisboa. Consegui sê-lo durante cinco meses. Desisti porque não achava importante o tipo de trabalho que fazia. Não gostava de usar gravata, era um trabalho rotineiro e sentia falta de alguma autonomia. Estou em Alcanena devido a um episódio político. Resolvi voltar para a Madeira, em 1973, e ser professor de História. Dava aulas na Ribeira Brava quando fui convidado para ir para o Conselho Directivo. Mas saiu uma resolução do Governo Regional que não me autorizava a concorrer “porque processava uma ideologia contrária à grande maioria da população”. Na ocasião, este episódio teve um grande impacto. Ainda estive para meter um processo administrativo, mas depois achei que não tinha nascido para mártir e fiz aquilo que achei que era mais correcto: vim-me embora. Um dos sonhos que tinha e não concretizei era o de ser médico. O meu pai gostava muito que eu fosse médico. Tinha o 7.º ano e era da área de ciências mas aos 20 anos fui para a guerra. Foi nessa altura que desisti de ser médico e escolhi ser professor de História. Gostava de tentar entender o mundo em que estava a viver. Na guerra fiquei a saber o que era a música, os livros e tive conversas que não estava habituado a ter.Sou o mais velho de nove irmãos. Concorri para o distrito de Santarém porque tinha uma irmã que já era professora cá. Como somos muitos irmãos temos necessidade de estarmos juntos. Fui colocado em Alcanena em Setembro de 1980. Não fazia a mínima ideia onde era. Em Janeiro de 1981, altura em que acabei a licenciatura de História, mandei vir a família da Madeira para cá. Concorri às eleições do Conselho Executivo em 85-86. Primeiro como vice-presidente e como presidente desde 1990, cargo que mantenho até hoje. Sinto-me bem no papel de director. Não fiz nenhum projecto de vida nesse sentido. Julgo que foi acontecendo. Dei aulas até há cinco, seis anos mas depois comecei a achar que não era fácil conciliar as duas coisas e passei a desempenhar o cargo a tempo inteiro. Para se desempenhar bem esta função temos, acima de tudo, que gostar das pessoas e respeitá-las. Isso faz com que as coisas funcionem bem naturalmente e sem necessidade de muita pressão da minha parte. A escola não é um armazém de meninos. Tem a função de educar e ensinar. Não deve servir para ocupar meninos. É a comunidade que tem que resolver este problema das famílias. Todas as crianças têm o direito a brincar. Trabalho melhor à tarde e à noite do que de manhã. Penso que é um hábito que vem dos meus tempos de trabalhador-estudante. Não chego cedo à escola mas saio tarde. A escola dá trabalho. Ao fim destes anos acho que já consigo desligar aos fins-de-semana e raramente trabalho em casa. Como tenho uma equipa em que deposito uma grande confiança, não é complicado para mim. Defendi sempre a criação de uma “cultura” de escola. Se calhar ainda não me reformei porque me encontro a usufruir do trabalho que tenho vindo a fazer. Orgulho-me, por exemplo, do facto dos funcionários da escola, este ano, terem pintado um pavilhão por iniciativa própria. Conseguimos algum material e equipamentos para a escola através de projectos que candidatámos. Participamos em projectos europeus. Levamos os nossos alunos a visitar Espanha, Itália, República Checa, Eslováquia, Lituânia e Bulgária. Gosto muito de viajar e esta profissão permite-me isso. Um dos meus passatempos é a aquariofilia. Tenho mais de 20 aquários em casa. Joguei hóquei, na posição de avançado, dos 11 aos 41 anos, desporto que gostava muito de praticar. Cheguei a jogar na Primeira Divisão, no Estremoz. Também gosto de jardinagem e de ter uma horta. Vivo no campo. Considero que o sentido de humor é muito importante. Levo-me a sério mas brinco comigo. Sou o meu principal crítico.Elsa Ribeiro GonçalvesNasceu no Funchal a 20 de Dezembro de 1948 mas veio parar a Alcanena em 1980, ano em que foi colocado a dar aulas de História na escola secundária local. Concorreu nesse mesmo ano com uma lista à direcção do Conselho Directivo e ganhou. Assumiu as funções de director de escola há mais de 20 anos e sente-se bem nesse papel. É o mais velho de nove irmãos e tem três filhos. Defende que “não há verdades absolutas” e aprendeu, com o tempo, a brincar com ele próprio.
Frederico Nunes

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