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Cozinheiro do ano é de Rio Maior e trabalha em restaurante requintado em Lisboa

Cozinheiro do ano é de Rio Maior e trabalha em restaurante requintado em Lisboa

Aos 11 anos Igor Martinho fazia concursos de omeletas em casa

Chama-se Igor Martinho e aos 25 anos conquistou o título de chefe cozinheiro do ano. Aos 11 anos já fazia concursos de omeletas em casa. Trabalha no restaurante “Quinta dos Frades”, em Lisboa, mas sempre que pode refugia-se na aldeia de Arrouquelas, em Rio Maior, onde cresceu. Ana Santiago

E se lhe apresentassem de surpresa um cabaz com ingredientes para preparar quatro pratos? O jovem da aldeia de Arrouquelas, no concelho de Rio Maior, Igor Martinho, 25 anos - chef do restaurante “Quinta dos Frades”, em Lisboa - esteve à altura do desafio e por isso arrecadou o título de Chefe Cozinheiro do Ano 2009.Na final nacional do concurso – disputada por oito concorrentes em Lisboa – teve uma hora e meia para preparar o menu e mais cinco para confeccionar um autêntico manjar dos deuses. Tudo começou às seis da manhã. Na escolha dos produtos principais teve em conta o seu gosto pessoal. “Havia ostras, mas se não gosto como é que sei se as ostras são boas? Não vale a pena fazermos grandes invenções. Gosto de tentar inovar a cozinha tradicional portuguesa. Uma coisa simples, mas alegre e com sabor”, resume. Para entrada vegetariana apresentou um estaladiço de requeijão com mel, manjericão, pinhões e doce de diospiro perfumado com iogurte e cebolinho. Um toque de doce de damasco deu cor e sabor. O prato de peixe foi um robalo crocante com compota de pêra e tomate, sobre miga de batata e puré de alho francês. Como prato de carne, perdiz em duas maneiras com puré de castanhas, estufado de cogumelos e molho de vinho tinto. Para finalizar, pudim abade de priscos com crocante de amêndoa, creme de citrinos e redução de Porto doce. “Gosto imenso de criar. É uma coisa que faço quase todos os dias. Abrimos o frigorífico e a partir de quatro ou cinco produtos conseguimos imaginar muito além daquilo. O meu patrão às vezes gosta de comer uma coisa diferente e diz: “chefe crie aí qualquer coisa”. E por norma sai sempre bem”.Igor Martinho nasceu em Santarém, mas cresceu na aldeia de Arrouquelas, no concelho de Rio Maior, onde se refugia sempre que pode. O pai trabalhava no campo. A mãe, a sua grande inspiração, era cozinheira nos campos de golfe em Rio Maior. Foi quem lhe transmitiu os sabores tradicionais da região, como as migas de bacalhau ou o lapardão. Aos 11 anos já fazia concursos de omeletas em casa com o amigo Vítor que também seguiu cozinha. “Era Inverno, chovia e nós estávamos a jogar. Às vezes dava-nos a fome”. O amigo colocava ervas no preparado mais avançado que estava nos estudos. Quando decidiu tirar o curso de cozinha já se aventurava em casa com arroz de marisco, coelho e migas com bacalhau que dava a provar a toda a família.Frequentava ainda o ensino básico em Rio Maior quando decidiu que não queria ir para a Universidade. O seu futuro seria a cozinha. Ingressou num curso profissional no Estoril aos 17 anos. Aos fins-de-semana continuou a trabalhar no campo de golfe. “Ajudava a minha mãe. Numa altura ela saiu e eu fiquei responsável pelos buffets. Foi uma etapa importante para mim. Evolui sozinho e ia estudando a cozinha tradicional portuguesa”.Durante o curso foi ganhando experiência no mercado de trabalho. Passou pela cozinha dos hotéis Meridien, Penha Longa, em Sintra, e Marriot, na Praia d’El Rei. O conceituado chef Chakal, que conheceu num evento promovido pela Nobre em Rio Maior, é uma das suas referências. “Um dia um chefe que era meu professor telefonou-me a dizer que o Chakal ia estar na Nobre para fazer um almoço para a gerência e pediu-me para lhe dar uma ideia de onde estavam os tachos e panelas. Conheci-o nesse dia. Ele tinha umas filmagens em Lisboa. Teve que despachar-se muito cedo e fui eu que servi o almoço”. Foi Chakal que o levou ao espaço onde hoje trabalha. Um restaurante de requinte com vinte anos e que há um ano e nove meses apresenta uma cozinha tradicional com um toque de modernidade. Ser cozinheiro não é só juntar ingredientes num tacho e mexer, diz Igor Martinho. “Cada vez mais me apaixono porque este é um mundo sem limites. Não consigo fazer o mesmo prato duas vezes. O que desperta a paixão é o poder inovar”.A profissão exigiu-lhe mais do que estava à espera. “Quando maior reconhecimento vamos tendo maior é a procura, trabalho e responsabilidade”. O mais difícil é trabalhar ao sábado à noite e chegar a Rio Maior à uma da manhã quando já todos os amigos já foram para casa. O restaurante fecha ao domingo e por isso o dia é passado em família e com a namorada. “Sabia que ao entrar neste mundo tinha que fazer sacrifícios, mas às vezes não sabemos bem o que nos espera. Hoje em dia já estou preparado para tudo”. Vive em Lisboa, perto do restaurante, com o irmão, ainda estudante, mas sempre que pode refugia-se na aldeia. “Tenho que me esforçar para garantir no futuro o que não posso ter hoje”.Estágio em CopenhagaIgor Martinho vai realizar um estágio de um mês num dos mais prestigiados restaurantes do mundo - o Noma, de René Redzepi em Copenhaga, detentor de três estrelas Michelin -, um curso de formação em higiene e segurança alimentar oferecido pela JohnsonDiversey, entre outros prémios. Na edição deste ano os oito concorrentes que disputaram a prova final prepararam o menu sob a avaliação atenta dos júris de prova, entre os quais Albano Lourenço, Chefe Executivo na Quinta das Lágrimas, Vincent Farges, Chefe Executivo do Hotel Fortaleza do Guincho e Henrique Mouro, Consultor Gastronómico, entre muitos outros. O concurso Chefe Cozinheiro do Ano é organizado pelas Edições do Gosto e pela INTER Magazine e tem como patrocinador institucional o Turismo de Portugal. Os patrocinadores oficiais do evento deste ano foram a JohnsonDiversey, Makro e Unilever Food Solutions.As mulheres “perdem-se” na pastelariaPorque é que os grandes chefes de cozinha são homens quando são as mulheres que estão tradicionalmente na cozinha? “As raparigas interessam-se mais por pastelaria e por isso perdem-se um bocado na vertente da cozinha”, explica Igor Martinho. “Nós, homens, temos mais dificuldades na pastelaria. E depois os homens sentem-se mais interessados pelo facto de existir tantos homens chefes cozinheiros de renome”, acrescenta. Em casa tudo funciona um pouco ao contrário. “É a tradição portuguesa. E o povo está habituado a isso”.
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