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O cavalo de cartão prensado e o borrego que fugiu pelas ruas da Azambuja

O cavalo de cartão prensado e o borrego que fugiu pelas ruas da Azambuja

Recordações do Natal da infância do presidente da câmara municipal, Joaquim Ramos

Falar do Natal da infância de Joaquim Ramos é falar do cavalo de cartão prensado que se desfez na água do bebedouro ou do borrego que fugiu pelas ruas da vila. O presidente da Câmara de Azambuja gosta de passar o Natal em família, mas tenta fugir ao desvario consumista. Ana Santiago

Joaquim Ramos era ainda um menino da vila de Azambuja quando recebeu pelo Natal um presente vivo. O borrego, deixado perto da chaminé, com uma corda a servir-lhe de coleira, fez as delícias do jovem, apaixonado por animais. “Passei o dia a brincar, mas a certa altura o borrego fugiu e desceu as ruas de Azambuja. Ainda fui atrás dele, mas acabou por ser atropelado na Estrada Nacional 3”, recorda o actual presidente da Câmara Municipal de Azambuja como uma história triste de um presente de Natal. O cavalo de cartão prensado oferecido a Joaquim Ramos pouco tempo depois era de tamanho quase real, mas o seu destino não foi por isso mais feliz. “Um dia resolvi dar-lhe água. Quando fui montá-lo desfez-se todo”, relembra.Os natais da infância de Joaquim Ramos foram passados no centro de Azambuja, na casa perto das árvores altas envolta na magia da figura do Pai Natal que deixava as prendas na chaminé. Os presentes só se descobriam na manhã seguinte. As crianças iam dormir cedo. A curiosidade de Joaquim Ramos fê-lo certo Natal quebrar a tradição: “Estive à espera da meia-noite, acordei o meu irmão e viemos espreitar à cozinha para ver se víamos o Pai Natal pôr as prendas. O que vimos, para nossa grande surpresa, foi o meu pai e a minha mãe. Desfez-se o mito”, conta. O presente de Natal tinha normalmente uma função utilitária. “Eu e o meu irmão tínhamos a sorte de às vezes ter um brinquedo. Nem toda a gente tinha essa possibilidade”, reconhece Joaquim Ramos, filho de funcionários públicos da Direcção de Florestas.As broas eram feitas no forno do Rossio, na padaria que abastecia Azambuja e que na época do Natal era aberta à comunidade. O presépio fazia parte do Natal. A família apanhava musgo e reservava parte da casa para colocar as figuras de barro, lagos de espelhos e caminhos de reis magos. Todos participavam no ritual. “Lembro-me que a D. Alice Pereira fazia um presépio que era visitado por toda a gente. Tinha umas figuras muito grandes de barro e o presépio ocupava uma sala inteira. Era motivo de atracção das pessoas que lá iam todos os anos”, recorda Joaquim Ramos que lembra ainda a antiga tradição do madeiro de Natal a arder no Largo da Igreja. Joaquim Ramos lamenta que o sentido do Natal esteja a ser desvirtuado. “Há a tendência para transformar o Natal numa espécie de caixeiro-viajante e o céu numa espécie de supermercado de brinquedos”, diz o autarca. Na altura em que as filhas eram pequenas deixou levar-se pelo entusiasmo, mas hoje evita o desvario consumista. “Apercebi-me disso porque numa noite de Natal, passada com muitas crianças da família, a minha sobrinha desembrulhou dezenas de brinquedos que ia pondo para o lado na ânsia de desembrulhar o seguinte. No fim acabou tudo num monte e passou o resto do tempo a brincar com uma caixinha de papelão onde vinha um dos presentes”. O conceito de família também se alterou e para muitas pessoas é difícil gerir o Natal. Uma festa que Joaquim Ramos, 59 anos, pai de três filhos, passa em família apesar de contactar com facilidade com os seus. No gabinete de trabalho tem quadro quadros pintados por si alusivos ao presépio de Monsaraz. Não é religioso e por isso a quadra não tem especial valor, mas faz questão de fazer um almoço de funcionários e de no Dia de Reis oferecer um presente e um bolo-rei a cada funcionário e colaborador aposentado. O doce do presidente da Câmara de Azambuja Os doces de Natal servidos à mesa do presidente da Câmara Municipal de Azambuja são comprados numa pastelaria da vila, com excepção do nógado que Joaquim Ramos faz questão de confeccionar em exclusivo para a família. “É talvez a minha amarra à tradição natalícia”, explica. O hábito vem desde os tempos em que as filhas eram pequenas. “Aprendi a receita com uma senhora que foi muito importante na minha vida, D. Maria da Luz Pereira, que trabalhou no Grémio”. A massa do nógado é confeccionada com farinha, água e ovos. O preparado molda-se com as mãos fazendo fios que se enrolam o mais estreito possível. Fritam-se os fios e cortam-se em pedaços com quatro ou cinco centímetros. Ao lado põe-se a ferver um litro de mel que se mistura ao preparado. “Forma-se uma tira comprida que se vai comendo às fatias”, propõe Joaquim Ramos. As filhós, os coscorões e o bolo-rei compõem o cardápio da ceia de Natal da família que se inicia com o tradicional prato de bacalhau com batatas e couves.
O cavalo de cartão prensado e o borrego que fugiu pelas ruas da Azambuja

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