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“Últimos três treinadores do Sporting eram benfiquistas assumidos”

José Peseiro lembra passagem por Alvalade e a sua condição de benfiquista

Treinador português, coruchense de naturalidade e actual seleccionador nacional da Arábia Saudita, José Peseiro foi a Coruche segunda-feira apadrinhar a conferência de imprensa onde se divulgou que “O Coruchense” já nada deve ao fisco e vai retomar a actividade desportiva. Com o “estádio José Peseiro” ao lado, o técnico falou com O MIRANTE do futebol português, da carreira do Sporting, da satisfação por ver um Benfica forte e do futebol distrital. Ricardo Carreira

Como é que tem acompanhado o futebol português?Estou na selecção da Arábia Saudita e tenho contrato até 2011. Acompanho os jogos dos três grandes que são transmitidos por um canal do Qatar e mantém-se essa ligação.Quer dizer que está para continuar na Arábia Saudita?Tenho contrato. Infelizmente ficámos fora do Mundial, mas não existe apenas trabalho de campo. Temos estágios por realizar, já que temos as competições da Golfo Cup e a Ásia Cup por disputar. Além disso tenho procurado soluções e propostas para influenciar positivamente o futebol da Arábia Saudita.O que acha de um campeonato tripartido este ano, em que o Sporting trocou protagonismo com o Braga? É sempre bom quando o campeonato apresenta um Braga candidato ao título. É também importante sentir a evolução e a força do Benfica, para não termos sempre o campeonato a uma voz com o Porto a ganhar vários anos. Pena que o Sporting não consiga acompanhar esses clubes mas espero que mostre mais do seu valor na segunda volta.Tem sido um campeonato fraco do Sporting?São situações de menor capacidade por que todos os clubes passam. Mas há cada vez mais qualidade, como é o caso do Braga, e penso que é possível trazer mais qualidade ao nosso campeonato.Recuando ao seu tempo de treinador do Sporting, não acha que a sua condição de benfiquista minou a relação com os adeptos do clube? Não creio. Quando somos profissionais não existe clubismo. Quando estava no Sporting queria que o Sporting vencesse mais vezes que o Benfica. Veja-se que os últimos três treinadores portugueses do Sporting se afirmam benfiquistas e não foi por isso que as coisas se passaram como passaram.Sente-se com vontade de regressar?Tenho tido convites mas não é a altura certa para voltar ao futebol português.“Gostaria de ser presidente do Coruchense”Os clubes portugueses dos diferentes escalões têm vivido acima das suas possibilidades?Não creio. Nos últimos anos pressenti que as pessoas ligadas ao futebol perceberam a tempo as dificuldades que iriam ter e os orçamentos baixaram muito. Comparando com outros clubes internacionais, os nossos orçamentos e dívidas são uma gota de água. Os dirigentes perceberam que têm de reduzir orçamentos e tiveram essa capacidade de enquadrar o futebol ao nível do que é possível fazer.Como comenta a realidade de clubes como “O Coruchense” ou a União de Santarém, que estão sem futebol sénior?É importante dizer que há muita história de vida ligada aos clubes. Em Santarém há tristeza e o mesmo se passa em Coruche. E muitos outros clubes por este país fora também não conseguiram dar a volta. Não viram mais as camisolas dos seus clubes nos campos, na imprensa, não houve capacidade de fazer renascer alguns clubes. É por isso que este renascimento do Coruchense é importante. É o retomar da história da vila, das pessoas e de vidas. Do Sousa, do Carlitos ou do José Tadeia. O futebol distrital tem cada vez menos equipas nos campeonatos nacionais.É uma realidade com 40 anos. O futebol é micro sistema no macro sistema da sociedade. O distrito de Santarém não tem nada a ver com Lisboa. É a realidade empresarial que mais ordena. O Algarve tem maior capacidade económica que nós e só agora tem o Olhanense a destacar-se na Liga.Alguma vez vai deixar de ser apenas sócio do Coruchense e assumir um cargo mais importante? Uma vez disse que gostaria de ser presidente do Coruchense. Não sei se é possível e quando isso poderá acontecer.“Viver o futebol, o Coruchense e o Horta da Nora fez de mim um profissional”Na passagem por Coruche, em gozo de férias, José Peseiro juntou o útil ao agradável ao constatar a nova realidade do Grupo Desportivo O Coruchense. Esse facto fê-lo recuar até ao seu tempo de jovem e à paixão que ganhou pelo futebol.“A minha vida está muito ligada ao Coruchense e ao campo Horta da Nora desde miúdo. Havia as camadas jovens, reservas e seniores e eu saía de casa, via os jogos todos, ia a casa almoçar e voltava para ver tudo o resto. Lembro-me bem do José de Sousa, do José Tadeia e do Carlitos”, referiu, recordando velhas glórias do clube.José Peseiro recordou como foi importante fazer parte de um grupo ligado ao Coruchense, ter uma equipa, cumprir objectivos e actuar como um todo, como acto indispensável para uma sociedade mais humanizada. “O Coruchense é uma história de muita gente, do dia a dia no futebol quando não havia mais nada para fazer. Ficámos marcados por tardes e manhãs no Horta da Nora, com as sandes de couratos e a discussão sobre os árbitros. Eles é que pagavam quando nós descomprimíamos da situação redutora a que Salazar nos levou”, comentou o técnico.José Peseiro disse ainda que a sua convivência com o futebol e com o Coruchense fê-lo ser um profissional de futebol. “Tive sorte de encontrar a actividade que gosto, pagam-me e pagam-me bem, vejam a sorte que tenho”, confessou. O técnico deu os parabéns a todos quantos lutaram pelo clube da terra e aqueles que, sem posses, contribuíram para resolver os problemas fiscais do clube.

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