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“Os primeiros planos directores municipais foram feitos por ignorantes”

“Os primeiros planos directores municipais foram feitos por ignorantes”

Arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles esteve em Coruche numa palestra

Regressou à terra que o viu nascer para criticar o que tem sido feito em termos de urbanismo e ordenamento do território. “A política que se faz em Portugal não conhece o país no sentido do que é a terra e o território”, diz Gonçalo Ribeiro Telles.

“Os primeiros planos directores municipais (PDM) foram feitos por ignorantes com a intervenção de responsáveis políticos”. A opinião foi expressa pelo arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles em Coruche durante a conferência “Coruche na perspectiva de Portugal”, promovida pelo MIC – Movimento Independente de Cidadãos por Coruche.Perante uma plateia com cerca de 20 pessoas, no auditório do museu municipal, entre as quais se encontravam os sobrinhos do palestrante António e João Ribeiro Telles e o seu irmão, David Ribeiro Telles, Gonçalo Ribeiro Telles foi directo ao assunto. Segundo o arquitecto, a par do desconhecimento de quem projecta os planos directores, fez-se e tem-se feito uma campanha contra a reserva agrícola e reserva ecológica catalogando-as erradamente como obstáculos ao desenvolvimento. “Estes instrumentos de defesa do território devem ser sim aperfeiçoados para nos servirem melhor. Não há coe-são do território, o mais importante é a revisão dos planos directores. E as populações têm que saber o que é, como é e como se faz uma estrutura ecológica municipal”, salientou o arquitecto. Para o reputado especialista, a consequência da cada vez maior expansão urbana é o incremento da especulação imobiliária e a morte progressiva das aldeias, em vez de se construir em cima do que se demoliu. “A política que se faz em Portugal não conhece o país no sentido do que é a terra e o território”, acrescentou. Gonçalo Ribeiro Telles identificou ainda o corredor que atravessa Benavente, Coruche, Ponte de Sôr e Mora como sendo de vital importância para o abastecimento alimentar da região da grande Lisboa. Sublinhou que há que aproveitar esse facto para apostar numa agricultura intensiva de abastecimento da área urbana da capital, já que num futuro próximo as cidades vão necessitar de ter a agricultura cada vez mais perto de si, defende. No que respeita à região de Coruche, o arquitecto paisagista considera que a construção do novo aeroporto de Lisboa é uma oportunidade para não fazer do espaço um dormitório de Lisboa. “Isso seria um desastre”, garante.Margem do Sorraia perdeu a sua “naturalidade”Gonçalo Ribeiro Telles confessa que não lhe agrada o que se fez à margem ribeirinha do rio Sorraia em Coruche, sua terra natal. Para o arquitecto as margens criadas em forma de dique de protecção de pedra são margens mortas, que afastam os peixes. “É preciso naturalizar as margens, com os caniços, com uma estrutura arbustiva e árvores de pequeno porte, para se criarem margens elásticas que amorteçam as forças das correntes e criem espaço de vida para os peixes se desenvolverem e a vida se estabelecer” exemplificou. O arquitecto censurou ainda a construção de edifícios de três e quatro pisos, com elevador e caves para garagens, em terrenos húmidos, que só pode vir a significar inundações nestas estruturas. Mas também não esqueceu a morfologia dos novos parques infantis, inseridos em zonas de lazer, que considera descabidos. “Que pode querer melhor uma criança do que um amplo espaço verde de relva e árvores para brincar?”, questionou.
“Os primeiros planos directores municipais foram feitos por ignorantes”

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