Sentado num cadeirão de couro na penumbra da “sua” galeria de arte em Torres Novas, José Carlos Cardoso medita na paixão da sua vida a arte e nos artistas que escolhem a “famosa Galeria Neupergama” para exporem e venderem as suas obras. Recebe o jornalista com um gesto de extrema simpatia e convida-o a olhar as obras de Álvaro Lapa ali expostas. Aconselha a olhar e a ver porque só assim se pode apreciar a arte.O ano de 2009 não lhe deixou muitas saudades. A famosa crise mundial também foi nefasta para a sua galeria. “Toda a gente cortou na cultura, por isso 2009 foi um ano difícil”.Enquanto nos conta o passado de trinta anos de galerista, José Carlos Cardoso vai falando dos grandes artistas que têm passado por ali. Cesariny, Bual, Lima de Freitas, Relógio e Martins Correia, entre outros, são nomes que lhe deixam saudades. “E me deram a sua amizade”.De vez em quando pára mais demoradamente frente a um desenho inédito exposto e diz que “é preciso apreciar bem esta obra”. Espera que 2010 traga mais apreciadores e compradores de arte à sua galeria. Mas garante que não espera nem deseja um aumento de artistas. “Os que tenho chegam, porque são bons e porque tenho consciência do espaço geográfico onde operamos”.Manter a Galeria Neupergama aberta há 30 anos é para José Carlos Cardoso uma teimosia. “Foi uma aposta, passou por um bom período e agora é mais uma teimosia”. Recorda por isso as décadas de 80 e 90, em que se apreciava mais as artes. “Governo, comunicação social e coleccionadores estavam irmanados na divulgação e compra de obras de arte, foi um época boa para todos nós”.Garante que não faz ideia de quanto custou a obra mais valiosa que comprou e vendeu. “A arte não se vê pelo preço de compra ou de venda. A arte olha-se interpreta-se e lê-se à nossa maneira”, diz com sentido crítico.Levanta-se do cadeirão para tirar uma foto, faz questão de colocar o cachecol branco em volta do pescoço. “Se não coloco o cachecol parece que fico mal vestido”. Antes da foto ainda pára para dizer que não abandona o espaço onde está instalada a galeria. “Foi aqui que me refinei como amante das artes, nada nem ninguém me faria sair daqui para outro lado”, garante.Não foi preciso esperar por 2010 para incutir o amor pela arte na sua filha. “Por ela era aqui que estava todos os dias, mas a paixão pela arte não resiste à vida privada. Tem que trabalhar para viver, a galeria não dava para isso”. O neto é ainda uma criança, tem apenas quatro anos, e garante que não lhe vai ensinar a ver arte. Porque como disse, “aprende-se arte a ver e a interpretar cada traço à nossa maneira”.Por tudo isto, José Carlos Cardoso deseja que o ano de 2010 traga muita saúde para todos e uma vida melhor. “Porque se estivermos bem de vida também estamos mais abertos a apreciar e a adquirir obras de arte”.
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