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As claques são o reflexo da sociedade

As claques são o reflexo da sociedade

Fenómeno em debate organizado pela UDV

Agentes desportivos discutiram o fenómeno das claques em Vila Franca de Xira. Uma opinião unânime. Os grupos de adeptos organizados não são sinónimo de violência, fazem falta ao futebol e são o reflexo da própria sociedade.

A violência provocada pelos grupos organizados de adeptos – mais conhecidos por claques – não é mais do que aquela que acontece no seio da sociedade, sendo um fenómeno e o reflexo da própria sociedade. A opinião é unânime entre os vários agentes desportivos que marcaram presença no debate subordinado ao tema “Claques, Pró ou Contra o Espectáculo Desportivo?”, organizado pela secção cultural da União Desportiva Vilafranquense (UDV), que decorreu no pavilhão da colectividade de Vila Franca de Xira, na noite de sexta-feira, 15 de Janeiro.Estudiosos, elementos de claques, treinadores, jogadores, adeptos dos principais clubes, comunicação social e PSP discutiram o fenómeno das claques perante cerca de meia centena de espectadores.O comissário João Pestana garante que a violência provocada pelas claques não é superior àquela que se verifica no dia-a-dia. Mas confessa que dentro dos grupos organizados de adeptos há uma natureza que encerra em si alguma violência. “Na maior parte das vezes é ritualizada. Não passa pelo confronto físico mas sim pelas agressões verbais, ameaças e injúrias aos adversários. A violência física é residual mas acontece com o conhecimento e a participação de grande parte importante dos membros das claques. Não conheço um adepto que tenha sido expulso por causa da violência”, adianta o chefe da unidade de spotters (polícias que acompanham as claques) do Comando de Lisboa, responsável pelo acompanhamento das claques do Benfica, Sporting e Belenenses.O operacional concorda que há algum “fetichismo” por parte das claques quando estas são acompanhadas por centenas de agentes para os estádios num espectáculo encenado para a comunicação social. Mas garante que a PSP tem de fazer o seu trabalho.As claques são compostas maioritariamente por jovens com diferentes graus de escolaridade e socialmente heterogéneos. Desde estudantes, engenheiros ou jornalistas até desempregados e toxicodependentes. Em Portugal existem cerca de 60 claques que se afirmam como “ultras”, com valores associados à entrega total ao clube tendo também um outro lado de provocação e confrontação.Os representantes dos grupos organizados de adeptos lamentam a ideia de violência associada às claques e preferem enaltecer a “paixão e o trabalho” que dedicam aos seus clubes. Apesar do esforço, reconhecem dificuldades. “Temos milhares de pessoas e é difícil controlar toda gente. Sempre foi assim. Mas as coisas estão no bom caminho e as pessoas não têm que ter medo de ir aos estádios”, garante o representante de uma das claques do Sporting. “Estamos num processo evolutivo. As claques devem saber separar o trigo do joio. Além de apresentar belos espectáculos coreográficos têm que ser as primeiras a expurgar do seu seio aquelas pessoas que vão muito para além do apoio à equipa”, aponta o treinador da UDV, Fernando Ferreira.“São o reflexo da sociedade. A questão está ao nível dos comportamentos e a associação que se faz com a violência. A comunicação social tem alguma culpa nisso pois não mostra os aspectos positivos das claques, que não são só violência. As pessoas têm esse preconceito mas dados factuais provam que a participação das claques na violência é mínima relativamente ao total de incidentes”, garante a professora Salomé Marivoet, integrante do Conselho Nacional para a Ética e Segurança no Desporto.“São fundamentais para o futebol. Há de facto uma química. A violência não é um fenómeno das claques nem de nenhuma classe. Quando existe é o espelho da sociedade”, assegura José Gabriel Quaresma, jornalista vilafranquense.“Sendo o futebol um espectáculo do povo com muita arte não entendo porque é que as claques, que são a chama imensa, assobiam a equipa adversária em várias situações. Vocês, jovens estudantes e não ignorantes, podem dar lições de ética e de categoria ao adversário e às outras claques”, aconselha o matador de toiros Mário Coelho, adepto confesso do Benfica.“Piranhas do Tejo” são exemplo do que deve ser uma claqueFundada há quatro anos, a claque da União Desportiva Vilafranquense (UDV) conta actualmente com cerca de três dezenas de adeptos, sendo que o seu núcleo duro é composto por uma dezena. Na região assumem-se como a “única claque organizada”. Escolheram o nome “Piranhas do Tejo” e nas últimas duas épocas têm acompanhado a UDV para todo o lado. Luís Batista é um dos membros e garante que até agora as coisas têm sido pacíficas e não se recorda de ter havido confrontos envolvendo a claque. Para o treinador da UDV, eles são um modelo a seguir. “Acompanha-nos para todo o lado. Uma dedicação extrema. Em qualquer sítio que vão conseguem fazer sobressair esse cunho de festa que o futebol deve ter. Apoiam sempre o seu clube e fazem amigos por onde passam. Esta é uma forma saudável de ser claque, apesar de às vezes haver alguns excessos verbais”, garante Fernando Ferreira.
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