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O ofício de uma vida por amor aos bordados

Quando saiu da escola aos 13 anos Noémia Mendes foi aprender costura

A bordadeira e costureira nunca pensou em mudar de profissão ou de vida. “Aqui faço o que gosto e as pessoas gostam”, diz.

Noémia Mendes, 51 anos, é natural de Falgar, freguesia de Espite, Ourém. Nas redacções da escola primária já afirmava o seu gosto pela costura, profissão que ao lado dos bordados viria a ser a companheira de toda a vida. Bordadeira, nunca desejou procurar outra profissão. Talvez por isso tenha dificuldade em nomear quais os trabalhos que lhe deram mais ou menos prazer. “Gosto de fazer de tudo”, afirma.Quando saiu da escola, com cerca de 13 anos, foi aprender costura para Barrôco. Durante cerca de dois anos, juntamente com outras 18 jovens, aprendeu primeiro a costurar e só mais tarde se dedicou aos bordados. Num tempo em que as lojas de pronto-a-vestir eram novidades das grandes cidades “trabalhava-se muito”. Primeiro aprendeu a fazer os moldes, depois as bainhas, começando a coser à mão. “Depois começámos a cortar saias, camisas”, conta.“Quem faz isto tem que ter muita paciência e gostar muito do que faz”, refere. Vendo a mestra bordar, foi crescendo em si o desejo de também conseguir fazer aquele tipo de trabalho. Começou por praticar os bordados nas suas roupas, de forma a aperfeiçoar. Actualmente conhece cerca de uma dezena de pontos, trabalhos que foi aprendendo por meio das revistas da especialidade. Apreciando a perfeição e a delicadeza do trabalho, nota ser exigente nas linhas, tecidos e serviços que lhe pedem, nunca vendo ”trabalho perfeito”.Das 18 colegas que com ela frequentaram as aulas de costura, pouco sabe do que terão feito com a sua formação. Noémia Mendes permaneceu em casa dos pais, costurando roupa e bordando para as pessoas da região, ajudando ainda no campo como ainda hoje faz. À sua volta, as pessoas começaram a emigrar e a zona perdeu muitos dos seus habitantes. Apesar das mudanças, Noémia Mendes nunca pensou em mudar de profissão ou de vida. “Aqui faço o que gosto e as pessoas gostam”. Numa fábrica de costura, por exemplo, seria obrigada a fazer determinado tipo de coisas, conforme as normas. “Quando fazemos aquilo que gostamos é mais fácil trabalhar”. No lugar casou e tem uma filha com 17 anos que mostra algum interesse pelos bordados, mas sobretudo pelas ciências da comunicação. Houve tempos em que chegou a passar 10 e 11 horas nas máquinas de costura e a bordar. Hoje, passa cerca de cinco ou seis horas do seu tempo a bordar na antiga máquina da mãe, junto à janela. O trabalho mais complicado que lhe passou pelas mãos foi “uma toalha em abertos” (um tipo de ponto), que leva cerca de um mês a conceber quando dispensadas muitas horas em cada dia. Hoje é essencialmente bordadeira, ainda que também realize costura se surgirem pedidos. Para casamentos, por exemplo, quando nem sempre é possível encontrar nas lojas o que se deseja. Gosta de bordar flores e pela sua sala de costura é possível encontrar vários quadros, almofadas, toalhas, sacos para garrafas, entre outros, com esse tipo de desenhos.Reconhece que o trabalho “não compensa como se estivesse a trabalhar diariamente” num qualquer ofício, mas vai fazendo o serviço de casa e cuidando da filha. “Não se pode ter tudo”, refere. Cada caso é um caso, e o valor do trabalho vai variando consoante o tempo, as linhas ou as molduras nele utilizadas. “Gostava pelo menos que as pessoas valorizassem mais” os bordados, uma vez que quando parar este ofício “já não haverá mais ninguém na zona”. Ao longo da sua experiência, nunca recusou um trabalho. Entristece-a um serviço que não fica bem feito e lembra, satisfeita, uma exposição na qual participou em Espite onde se juntou muita gente para ver o seu trabalho. Tendo aprendido um pouco de tudo na área, comenta que ainda lhe falta saber bordar à mão. “Ainda não cheguei aí, mas como o ponto de cruz também vou aprender”.

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