uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Actriz e escritora falam em Vila Franca sobre a “censura camuflada” do mundo das artes

Actriz e escritora falam em Vila Franca sobre a “censura camuflada” do mundo das artes

Maria João Abreu e Ana Cristina Silva foram convidadas da última sessão “Mulheres à conversa”

A actriz Maria João Abreu e a romancista Ana Cristina Silva confessaram no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, que há “censura camuflada” em Portugal e que isso atrasa o progresso do país.

Medo de falar de certos assuntos, de abordar certas temáticas, de apontar o dedo a certas situações. É assim que a actriz Maria João abreu descreve o que apelida de “censura camuflada” que existe actualmente em Portugal. “Há muitos assuntos tabu, principalmente relacionados com política ou com religião e por vezes sentimos que certas frases não são ditas ou escritas por receio das consequências. Principalmente acerca do governo”, aponta.A artista, que tem uma carreira vasta no teatro e também em séries televisivas, aproveitou a última sessão do encontro “Mulheres à Conversa”, na tarde de sexta-feira 26 de Março, no núcleo sede do museu municipal, em Vila Franca de Xira, para colocar o dedo na ferida. A actriz considera que a televisão, mais do que o teatro, se coíbe de arriscar e tratar temas mais polémicos.“Passaram quase 36 anos sobre o 25 de Abril e continuamos a não ter liberdade de expressão”, sublinhou, embora garanta que nunca tenha sentido directamente o peso da censura. Para Maria João Abreu é este medo que se cria de tocar em certos assuntos “que trava a imaginação, a evolução e a criatividade e nos faz estagnar como país”. “Continua a não haver a tão anunciada liberdade de expressão. Os textos dos autores são vistos e revistos e alguns deles até são vetados”, acusa.O vereador da cultura de Vila Franca de Xira, João de Carvalho, partilhou com os presentes a experiência enquanto actor. “Senti esta censura várias vezes, principalmente na comédia. Assuntos como política e religião são os que são tabu. Muitas vezes com medo de ofender não se escreve ou não se diz”, explica.Deste “encontro no feminino” fez também parte a romancista e psicóloga Ana Cristina Silva que acrescentou que na escrita também há pressão. “É mais fácil não falar, não arriscar, mas o objectivo de todos os artistas deve ser o de abanar as consciências e alertar para estas questões”, explica.A conversa, que durou cerca de uma hora e um quarto, juntou cerca de trinta pessoas, na sua grande maioria mulheres, que encheram por completo a sala e obrigaram alguns presentes a assistir à conversa de pé.Novo livro de Ana Cristina Silva vai ser lançado em Vila Franca de XiraA romancista Ana Cristina Silva aceitou o repto lançado pelos vereadores Maria da Conceição Santos e João de Carvalho para lançar a sua próxima obra em Vila Franca de Xira. O sétimo livro da autora, que é também psicóloga, vai ser dedicado ao rei Al-Mut’amide - o rei poeta. Al-Mut’Amid foi o maior poeta da literatura árabe ibérica. Nasceu em Beja, foi governador de Silves, rei de Sevilha e, depois de vencido pelos invasores Almorávidas, foi exilado para Agmat, em Marrocos, onde faleceu no cativeiro em 1095.Esta é a primeira obra de Ana Cristina Silva em que a personagem principal é uma figura masculina, o que significa “um grande desafio”, confessou a O MIRANTE. “Tenho seis livros sobre mulheres e as experiências das mulheres, por isso é interessante abordar agora um novo tema, sob uma perspectiva nova”, explica.Ana Cristina Silva já escreveu sobre Mariana Alcoforado, a violência doméstica, Florbela Espanca, a Guerra Colonial vista pelas mulheres, a Inquisição do ponto de vista feminino e sobre uma escrava negra. A nova obra está pronta e deverá ser apresentada ainda em Abril.
Actriz e escritora falam em Vila Franca sobre a “censura camuflada” do mundo das artes

Mais Notícias

    A carregar...