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De salsicheiro a bate-chapa e vendedor de jornais

De salsicheiro a bate-chapa e vendedor de jornais

Belo da Paz Carona tem 69 anos e reside em Vila Franca de Xira

A sua grande paixão é estar rodeado de chapas de automóveis. Mas como a vida não o permitiu Belo da Paz Carona, de 69 anos, é hoje dono de um quiosque em Vila Franca de Xira. Começou a trabalhar aos 12 anos num tempo em que a vida custava a ganhar.

A vida profissional de Belo da Paz Carona começou aos 12 anos. Natural de Portalegre, começou a trabalhar cedo para ganhar o pão. Gostava de ter sido mecânico de automóveis, mas o destino da vida trocou-lhe as voltas. Belo da Paz, hoje com 69 anos e dono de um quiosque em Vila Franca de Xira, recorda a O MIRANTE um percurso profissional de labuta e sofrimento, sem o qual, defende, “a vida não faria sentido”.O seu primeiro trabalho foi numa salsicharia. Levantava-se todos os dias às quatro da madrugada para ir para o matadouro recolher as carnes e guardar o sangue dos animais abatidos. “Depois ia para a salsicharia ajudar os outros homens mais velhos a fazer os chouriços e as farinheiras. Andei nessa vida até aos 15 anos, altura em que fui para os lanifícios. Portalegre era na altura uma terra com pouco trabalho”, recorda.Ainda jovem, Belo da Paz reparou um dia na construção de uma nova oficina de automóveis na cidade. “Foi nessa altura que pensei que queria ser mecânico. Não hesitei, fui à oficina e pedi trabalho. Infelizmente já não tinham vagas para mecânicos, por isso acabei por ficar como aprendiz de bate-chapa. Ainda andei lá até aos 21 anos. O meu mestre era um homem de mão sólida, ganhávamos pouco mas aprendemos muito com ele. De tal forma que ainda sei hoje mexer na chapa, se for preciso”, conta.Este era um serviço que gostava de fazer, dando-lhe mais prazer reparar as grandes pancadas do que as pequenas. “Nas grandes amolgadelas tínhamos de puxar pela cabeça e pensar”, defende. Contudo, o trabalho era mal pago e foi através do sogro que Belo da Paz vem para a zona de Lisboa, para trabalhar na fábrica da Batista Russo (mais tarde a Salvador Caetano). “Entrei na fábrica de camiões e camionetas. Trabalhei bastante na construção dos camiões MAN. Depois casei-me e um primo abriu uma oficina em Portalegre. Não hesitei e voltei para a minha terra natal”, recorda. Porém, as coisas não correram bem e o dinheiro escasseava. Aflito para suportar as despesas de casa, voltou para a zona de Lisboa, optando por viver em Vila Franca de Xira, onde se encontra até hoje.“Estive três meses a trabalhar numa oficina em Vila Franca, onde hoje se situa o edifício Alves Redol, mas o trabalho era muito duro e mal pago. Acabei por ir para as oficinas da Volkswagen em Lisboa. Tinha de me levantar às 06h00 para ir apanhar o comboio para o emprego. Foram tempos difíceis”, lamenta.Sempre ligado aos automóveis, Belo da Paz nunca pensou vir a vender jornais. “Mas a vida teceu-se desta forma. Antigamente íamos embora das firmas quando não estávamos satisfeitos e íamos pedir trabalho para outro lado. Nos sítios onde nunca me senti bem vim embora. A dada altura aborreci-me de trabalhar para os patrões e vi que estavam a construir uns prédios perto do sítio onde vivia. Acabei por meter uma oficina no rés-do-chão e mais tarde comprei o prédio todo aqui em Vila Franca”, conta. Quando a vida parecia estabilizar, um problema de saúde obrigou-o a rever o seu plano. “Tive de abandonar a profissão de bate-chapa por indicação médica e acabei por ter de me reformar. Como o valor da reforma era pouco para mim e para a minha mulher, acabei por pedir ajuda no centro de emprego e montei este quiosque, que já tenho há quase 3 anos”, conta com um sorriso.A sua actual profissão ocupa-lhe a maioria do tempo. “As pessoas pensam que é fácil mas não é. Gerir um quiosque destes envolve muito trabalho, muita atenção às devoluções e a tudo o resto. Se me perguntar honestamente, não é isto que gosto de fazer. Mas a vida é assim”, refere.Para Belo da Paz a cidade de Vila Franca de Xira “já não é o que era” no passado mas continua a ter, para o nosso interlocutor, “o seu encanto”. Aos 69 anos não pensa voltar à terra natal. “Fiz a minha vida em Vila Franca, os meus filhos têm casa aqui, por isso não me vou afastar. Vou ficar nesta terra até morrer”, conclui.
De salsicheiro a bate-chapa e vendedor de jornais

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