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José Carlos Gomes Tente

José Carlos Gomes Tente

Farmacêutico, 67 anos, Atalaia - Vila Nova da Barquinha
Era muito bom aluno a matemática. Tive um exame de 200 pontos no liceu. Estudei no Colégio Nun’Álvares em Tomar durante sete anos mas depois tive um problema de saúde e acharam que devia estudar mais perto de casa. Fui estudar num colégio militar em Tancos e depois acabei a escolaridade em Santarém. Corri as faculdades quase todas. Tenho 16 anos de estudos universitários. Estava a estudar em Coimbra quando fui chamado para a tropa. Meti um papel e deram-me mais um ano para estudar. Ainda tentei ir para Lisboa mas não consegui adiar a minha ida para a guerra colonial por mais tempo. Estive 30 meses a combater na Guerra do Ultramar, em Cabo Delgado, Moçambique. Estava integrado numa companhia que fazia exploração de território. Tivemos 22 mortos e mais de cem feridos. Eu também fui ferido com uma bala de raspão junto à testa. Regressei em Janeiro de 1969.Trabalhei durante 20 anos num laboratório de medicamentos. Era Delegado de Propaganda Médica. Saía de Portalegre às cinco e meia da manhã para estar no Instituto Superior Técnico, onde estudava Engenharia, às oito da manhã para fazer exames. Era muito trabalhoso. Aconteceu-me, duas ou três vezes, fazer este sacrifício e depois chegar e não havia exames mas sim umas sessões de avaliação. Um dia, alguns colegas inundaram a escola. Travei-me de razões e disse que não punha lá mais os pés.Já era casado quando decidi frequentar o curso de Farmácia. Escolhi este curso porque a minha ex-mulher também tinha tirado o curso e havia a possibilidade de irmos trabalhar para um laboratório de microbiologia em Paris. Estudei em faculdades durante 16 anos e nunca chumbei um ano. Acabei o curso em 1983. No dia em que me formei o meu ex-patrão (do laboratório) mandou o motorista dele ir buscar-me à faculdade no Jaguar e tentou demover-me para que não saísse da empresa. Mas eu achei que devia ir para a frente e montar o meu negócio. Abri a “Farmácia Tente” a 08-08-88, no dia em que casou o príncipe Carlos com Diana. Recordo que trouxe para aqui, à hora de almoço, uma televisão pequenina para que as pessoas pudessem assistir ao casamento. Estive sete anos à espera que me passassem o alvará. Deram-me a escolher abrir na Atalaia ou na Praia do Ribatejo. Acho que acertei. Porque os militares não compravam medicamentos fora do quartel.A minha vida não era para ser esta. Quando vim de África – onde recebi muita formação anti-terrorismo – queria ficar no Exército. Mas não onde estava. Gostava de ficar no destacamento ligado às novas engenharias mas era só por cunhas. Tinha uma mas não chegou. Já em pequeno dizia à minha mãe que queria ser carpinteiro e “toureiro de umas vaquitas cegas”. Gosto de touradas. Moro em frente da farmácia e faço atendimento permanente, ou seja, a qualquer hora posso ter que vir atender. O mais gratificante na minha actividade é conseguir perceber o que as pessoas têm e descobrir que consegui seguir um raciocínio semelhante ao do médico, podendo ajudá-las. Tenho sempre os telemóveis ligados. A tecnologia é uma maravilha. Com ela enganamo-nos menos do que nada. Já não concebo trabalhar de outra maneira. Mas acredito que ainda vai evoluir mais.O meu apelido “Tente” é de origem alemã. Segundo dizia o meu pai, tem origem num padre alemão que esteve cá no tempo da guerra e que arranjou par. Os meus avós tiveram 12 filhos. Sei que existe outra família “Tente” na zona de Odivelas. Mas nunca estudei profundamente a origem do meu apelido. Nos meus tempos livres gosto de caçar. E sempre que posso estou com os meus netinhos. Gosto de ir para a praia. Sou uma pessoa de convicções fortes. Quando não gosto de uma coisa, não gosto até ao fim da vida. Uso pêra desde os 18 anos. Em África conheciam-me por “barbas da Mutamba” (rio que existe em Moçambique).Elsa Ribeiro Gonçalves
José Carlos Gomes Tente

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