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A festa fica mais pobre com a morte de um campino

Joaquim Fernando Patrício Luís partiu aos 74 anos
A festa está mais pobre. Joaquim Fernando Patrício Luís, filho e sobrinho de campinos, correu os campos da lezíria à ilharga dos toiros durante décadas, faleceu a 15 de Maio. Foi um dos campinos homenageados na edição da feira de 2007. O campino Joaquim Fernando Patrício Luís - homenageado na edição da Feira de Maio de 2007 - faleceu a 15 de Maio último aos 74 anos. O MIRANTE acompanhou o tributo prestado há três anos e recorda a história de um homem grande.No dia da homenagem o homem de corpo franzino, habituado às esteiras do campo, estranha o conforto de um lugar almofadado. Não chega a encostar à poltrona as duas únicas costelas que nunca partiu ao longo de uma vida de campinagem. “Tenho alguma mágoa de já não poder montar a cavalo. Tenho aqui uma perna que não me deixa. Mas tenho pelo menos duas costelas”, confidenciou na altura com humor.Joaquim Fernando Patrício Luís nasceu em Vila Nova da Rainha em 1936. Filho e sobrinho de campinos. Começou a trabalhar no Alves Dinis, na Quinta das Barracas. Foi lá que conheceu António Carniça. Andava à jorna a laborar com os bois de trabalho. Tinha 16 anos. Depois seguiu para a Companhia das Lezírias para arranjar arames com gente de Benavente, Salvaterra de Magos e Vila Franca de Xira. Quando acabou o trabalho seguiu para a Ermida de S. José. “Fui tomar conta de dois bois. Estava lá o Chico Chafardanas que era maioral e me encarregou de andar com os bois a acartar água para o pessoal, um pipo de manhã e um à tarde”.Seguiu depois para a Terra Velha por conta da Companhia das Lezírias. Tinha 25 anos e a seu cargo algumas cabeças de gado. “Eu tratava dos bois, uns chegavam ao pôr-do-sol e outros às tantas da noite”, conta Nuno Engrácio evocando as memórias do campino que nestes dias mal ia à cama. Quando a Companhia decidiu vender éguas o campino foi tomar conta dos animais para o Roncão. Até ir trabalhar para os Oliveiras na Herdade da Baracha, em Samora Correia. “Corria o campo de Vila Franca todo à ilharga dos toiros”, recorda. Entretanto deixou os toiros dos Oliveiras onde esteve dois anos para voltar às éguas da Companhia das Lezírias. Por proposta do Chico Boca à Banda. Foi maioral de éguas no Cunha e Carmo, ao pé da Ota. E recorda um dia em que foi enjaular toiros para uma corrida no Vale da Serra. “Um sacana de um toiro estava metido dentro de água e não queria sair de lá. Fui eu sozinho mais os cabrestos que o metemos dentro do curral do vale da Serpa”.Passou pela casa Prudêncio da Silva Santos e Caniçais. Veio depois para Azambuja. No primeiro ano apanhou logo uma cheia. “Era arrebanhar as vacas até de noite e o que nos alumiava eram os relâmpagos. Com muito trabalho conseguimos salvar quase todo o gado e só dois bezerros foram água abaixo”, continua. Está na Casa Prudêncio há 24 anos. É maioral das vacas. Ao longo da sua vida de campinagem apanhou tantos sustos com toiros, como com cavalos. Em Santarém nas provas livres chegou a cair de um cavalo no meio da pista. Da vida no campo restam-lhe as duas costelas e muitas outras histórias por contar.

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