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O dia-a-dia com as flores para Nossa Senhora

O dia-a-dia com as flores para Nossa Senhora

Conceição Neves trabalha na loja de venda de flores mais antiga de Fátima

No geral, o cliente hoje é muito mais exigente e bem diferente de há 30 anos, quando a florista se iniciou na actividade.

Conceição Neves, 46 anos, é natural de Moita Redonda, freguesia de Fátima, concelho de Ourém. Entrou no mundo do trabalho muito cedo, aos 15 anos, quando começou por ir trabalhar para um supermercado. Pouco tempo depois entrou para uma “loja de pássaros, peixes, rações, plantas e flores”. Por ali se mantém até hoje. O negócio, porém, foi ficando cada vez mais limitado, e Conceição Neves viu o seu dia-a-dia envolver-se exclusivamente com o mundo das flores. A loja onde trabalha, em Fátima, foi a primeira florista a abrir na cidade.No princípio o trabalho era completamente diferente. “A gente desenrascava-se”, comenta, destacando que aquela era “uma arte que se iniciava no mercado de Fátima”. Os arranjos “eram mais simples” e as pessoas não eram tão exigentes. As flores eram os cravos, as rosas, as tulipas, compradas no mercado de Fátima para “fazer uns raminhos para Nossa Senhora”. “Pouco a pouco fomos aperfeiçoando”, nota.Aos 23 anos, já com dois filhos, Conceição Neves decidiu especializar-se na área. Em Leiria, tirou um curso de artes florais e entrou em contacto com as técnicas de decoração (mesa, igrejas, ramos de noiva, entre outras). “Foi uma experiência nova”. Para “todas as que estavam lá a aprender, mesmo com mais anos de experiência, foi uma novidade”. Durante um mês, recebeu aulas de um professor holandês, numa época em que o mercado de flores da Holanda se introduzia na zona. Conceição Neves recorda que o seu maior medo residia na aceitação das pessoas ao seu novo tipo de trabalho. “A gente trabalhava de uma maneira completamente diferente”, comenta.Após este curso, a loja passou a ter mais flores e Conceição Neves começou a lidar com produtos tropicais. Sempre ao corrente das últimas novidades do ramo, foi recebendo convites para demonstrações florais, onde entrava em contacto com as novas técnicas. Procurou ainda estar atenta a novos cursos na região.Com o aumento do nível de vida, surgiram mais lojas na cidade e a inevitável concorrência chinesa. Nunca se sentiu, porém, ameaçada com a flor de plástico típica destas lojas. “As pessoas cansam-se do plástico”, refere. Apesar de actualmente existirem novidades interessantes, as flores de plástico baratas “são para os cemitérios”.Para se ser uma boa florista é necessário “ter gosto”, “manter o trabalho perfeito”, “ter simpatia” e “conseguir ter bons preços”. Conceição Neves prefere trabalhar com flores exóticas, uma vez que o trabalho final “torna-se mais elegante e fino”. Já não gosta tanto do cravo, a “flor que está sempre presente”. “Apesar de ser a flor que sai mais para Nossa Senhora”, acabou por ficar cansada de a utilizar. Desde casamentos a funerais, passando por congressos, faz um pouco de tudo. Os arranjos para serem oferecidos a Nossa Senhora de Fátima são uma constante. Os pedidos vêm muitas vezes associados a promessas e já lhe surgiram as mais variadas situações. “Há pessoas que fazem pedidos específicos, como nove vasos para Nossa Senhora”, lembra. Quase sempre rosas, cravos, gladíolos e coroas imperiais, de preferência em tons claros.Conceição Neves recorda que uma vez fez um ramo de seis rosas brancas a pedido de uma cliente, para esta oferecer a uma amiga. Pouco tempo depois apareceu-lhe a dita amiga na loja a chorar, dizendo-lhe que o ramo de seis rosas fora oferecido por maldade, para dar azar. Conceição Neves ofereceu-lhe mais uma rosa, tentando remediar a situação. Desde então pergunta sempre ao cliente se tem algum problema com arranjos com flores em número par. As cores e as flores vêm muitas vezes associadas a datas, nota. No Dia dos Namorados são sobretudo as rosas vermelhas, ainda que os rapazes já procurem variar com flores exóticas. No Dia da Mãe predominam os sortidos de flores e as plantas. O Natal é a época mais saturante, com um longo período, desde o advento, a fazer arranjos onde o pinheiro está sempre presente. O Dia da Mulher, muito em voga nos últimos anos, é o momento da flor simples, com pedidos que vêm sobretudo dos restaurantes da zona.“Muitas pessoas não percebem de flores e acham que percebem”, comenta. “Algumas têm gosto, mas não sabem como trabalhar, nem o nome das flores”. No geral, o cliente hoje é muito “exigente”, bem diferente de há 30 anos. “Querem bom, bonito e barato”, conclui.
O dia-a-dia com as flores para Nossa Senhora

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