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José Luís Gonçalves despediu-se das arenas ao fim de 28 anos de alternativa

José Luís Gonçalves despediu-se das arenas ao fim de 28 anos de alternativa

Aficionados ribatejanos recordam-no como o toureiro da arte, estética e plasticidade

A corrida realizada na quinta-feira, 26 de Agosto, no Campo Pequeno, assinalou a despedida do traje de luzes de José Luís Gonçalves. Na hora do adeus às arenas,O MIRANTE ouviu a opinião de alguns aficionados ribatejanos sobre o toureiro.Jorge Afonso da Silva

O toureio com arte, estética e plasticidade de José Luís Gonçalves vai deixar saudades entre os aficionados e críticos taurinos, que não regateiam elogios ao toureiro português na hora do adeus ao traje de luzes.“Despede-se hoje das arenas um dos nossos toureiros mais importantes. Foi um toureiro sério, honrado que teve uma carreira digna e com muito mérito. Sempre privilegiou a estética e a plástica. Quando se conseguiu centrar bem com o toiro foi realmente bonito vê-lo tourear. Proporcionou excelentes momentos de toureio”, revela Francisco Morgado a O MIRANTE, entre trincheiras, enquanto decorria a corrida mista de quinta-feira, 26 de Agosto, no Campo Pequeno.Natural de Santarém, o comentador de corridas de toiros na RTP há 30 anos e crítico do fenómeno da festa brava, afirma que José Luís Gonçalves sempre compreendeu as limitações de se ser matador de toiros em Portugal, apesar de ser uma profissão que existe de facto, mas que a lei não permite que seja exercida na sua plenitude. “Toureou em Espanha e ouvi espanhóis a perguntar; `por que é que um toureiro português, que toureia tão bem, não conseguiu romper em Espanha?” São coisas que acontecem. Mas pode ir satisfeito porque cumpriu a sua missão”, assegura Francisco Morgado.“O José Luís Gonçalves, que toureia desta maneira, nunca teve a sorte de na segunda ou terceira novilhada, ter morto um toiro e passeado as orelhas em Madrid. Se isso tivesse acontecido, a sua carreira teria sido bem diferente. É pena que um toureiro como ele não tenha tido mais projecção, como ficou agora patente”, garante Domingos da Costa Xavier, depois do toureiro português ter lidado o segundo da noite. Para o veterinário de Coruche, membro da Confraria do Toiro Bravo e crítico taurino, o matador de toiros português vai deixar saudades pela sua arte, o seu sentido do toiro, a sua estética e plástica. “No dia em que vai embora das arenas é bom que nós portugueses tenhamos orgulho nele”, salienta Domingos da Costa Xavier.O país nunca soube reconhecer o valor de José Luís Gonçalves. Um dos melhores matadores de toiros que já tivemos. Mesmo hoje, no dia da sua despedida, teve de ser o seu amigo e matador de toiros, António Ferrera, a sacá-lo em ombros. Aquilo que nenhum português faria. Foi um gesto bonito e de reconhecimento por tudo aquilo que ele fez pela festa brava”, diz Alberto Ornellas e Vasconcelos, empresário de Salvaterra de Magos, ligado à criação de cavalos, no final da corrida mista, que contou ainda com o cavaleiro João Moura e os Forcados Amadores do Aposento da Moita.José Luís Gonçalves, que participou na primeira grande corrida de toiros O MIRANTE, em 2006, na praça Palha Blanco em Vila Franca de Xira, dirigiu-se pela última vez ao centro da arena e recebeu uma enorme ovação de pé por parte do público (cerca de meia casa). Depois saiu em ombros pala porta principal, levado pelo matador de toiros espanhol António Ferrera.“Tinha ainda muito para dar à festa brava”O que pesou na decisão de terminar a carreira nesta altura?Acho que 28 anos é bastante. Depois, a festa precisa de ser refrescada e devemos dar lugar aos novos valores que estão a surgir. Tive o meu tempo para ser feliz. Agora cabe aos outros desfrutarem desta profissão.Mas sente que ainda tinha mais para dar à festa brava?Claro que sim. Se vivêssemos num país onde houvesse muito mais toureio a pé, como havia há uns anos, possivelmente não desistiria já, tão cedo. Mas pelas oportunidades que existem, penso que devo dar lugar aos mais novos.Teve o devido reconhecimento em Portugal?Os portugueses têm dificuldade em reconhecer os nossos valores. É muito mais fácil reconhecer quem vem de fora. Apesar de tudo não me posso queixar. Mas é um facto que a minha forma de tourear foi mais reconhecida em Espanha e no estrangeiro. Também porque são mais entendidos. Toureei nove tardes na Praça de Madrid, a mais importante do mundo. Em França toureei umas 40 tardes. Passei pela Venezuela, Peru ou México. Foram muitas actuações ao longo de todos estes anos que me orgulham.De todas as praças em que toureou qual foi a que mais o marcou?Esta (Campo Pequeno), sem dúvida. Foi onde comecei, onde alcancei muitos troféus e onde terminei a carreira. Esta é a minha praça talismã. E no Ribatejo?Na Moita. Houve dois anos em que ganhei o troféu, em duas tardes muito boas. Mas passei por todas as praças do Ribatejo. A de Vila Franca de Xira também me marcou muito. Comemorei lá os meus 10 anos de alternativa e saí em ombros. No primeiro ano toureei umas seis vezes seguidas. É uma praça da qual também guardo muito boas recordações.Tem um público diferente?Antigamente era um público mais apaixonado. Agora está a tornar-se mais crítico. Sinto que está uma aficion um pouco desacreditada. O público não vai à praça. Quando comecei a tourear havia pessoas desde a estação de comboios até à Praça de Toiros. Era um mar de gente e uma grande euforia. Mesmo quando passo em Vila Franca sinto que o ar que se respira já não é o mesmo. É uma pena mas isto também é por ciclos. Estão a passar uma fase menos boa mas a seguir batem na porta e regressam de novo. Acho que o mal vem da própria festa.E agora?Vou descansar. Dedicar-me ao meu filho (frequenta a Escola de Toureio de Badajoz). Ajudá-lo a ser feliz nesta profissão. Depois logo vejo.
José Luís Gonçalves despediu-se das arenas ao fim de 28 anos de alternativa

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