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“Se ganhasse dinheiro com o aeromodelismo se calhar só fazia isto”

“Se ganhasse dinheiro com o aeromodelismo se calhar só fazia isto”

Júlio Isidro organiza torneio de aeromodelismo Asas de Portugal em Santarém

É mais conhecido como comunicador do que como homem dos aviões mas já tem mais anos de aeromodelismo do que de televisão. Júlio Isidro realiza o Torneio Asas de Portugal há cerca de 15 anos e em 2010 regressou a Santarém a pedido do seu amigo e actual presidente da câmara, Francisco Moita Flores. O apresentador tem casa no Cartaxo e diz que se existisse uma universidade na cidade ribatejana vivia “cá a tempo inteiro” com a família. Ana Isabel Borrego

É mais conhecido como comunicador do que como homem de aviões, mas já anda neste mundo há muitos anos.Exactamente. Ando nisto há mais anos do que na televisão. Tenho 55 anos de aeromodelismo e 50 anos de televisão. Se ganhasse dinheiro com o aeromodelismo, se calhar só fazia isto.Como descobriu a paixão pelo aeromodelismo?Acho que foi a paixão que me descobriu. Tinha dez anos e o vizinho da frente tinha um pai engenheiro que fazia aviões. Quando vi o pai do meu amigo José Júlio, o senhor Júlio José, a fazer os aviões fiquei encantado. Ainda por cima ele era daqueles pais que ia com os filhos voar com os aviões. Íamos para o Estádio Universitário, a pé, e ficávamos lá horas. O que é que o cativava mais nesses pequenos aviões?Era a ideia de que podia estar dentro dos aviões.Já pilotou algum avião a sério?Há muitos anos comecei a tirar o brevet na antiga Mocidade Portuguesa, mas não o concluí. Sou uma pessoa de muitas coisas que ficaram por concluir.E não pensa em concluir um dia?Em determinada altura da minha vida quis ser piloto da Força Aérea, mas antes disso fiz uns testes e verificou-se que sou daltónico. Uma situação que era eliminatória nas provas. Quando é que o aeromodelismo se tornou mesmo uma paixão?Tentamos sempre fazer melhor. O modelo que acabamos é sempre aquele que está antes do próximo que vamos fazer. Como eu construo, e em muitos casos desenho, os aviões tenho sempre vontade de fazer algo diferente, melhor. Não é sempre a competição que me move, muitas vezes faço-os pela motivação pessoal. Não seria aeromodelista se o aeromodelismo, na altura em que comecei, fosse o que é hoje.E como é hoje?Hoje vão às lojas e compram os aviões feitos ou quase feitos. E ainda por cima alguns aeromodelistas pedem certificado de garantia, que é uma coisa extraordinária. Como é que estes aviões podem ter certificado de garantia?O que sente quando está a criar um modelo de avião?Sinto-me pequenino lá dentro. Aliás, eu tenho outra coisa incompleta na minha vida que é a engenharia. Se tivesse sido engenheiro teria sido engenheiro aeronáutico.Quantos aviões tem?Tenho dezenas de aviões mas alguns fazem ciclos. Já ofereci muitos modelos. Quando me divorciei os modelos que tinha ficaram em casa da minha ex-mulher e ela nunca mos devolveu. No primeiro dia do Torneio Asas de Portugal, aqui em Santarém, desfiz um numa prova do torneio.Custa-lhe quando isso acontece?Dói-me a alma. Normalmente, quando eles vão ao chão a primeira coisa que olho é ver qual é a possibilidade de reparação. Este último que parti não tinha reparação possível.São muito frágeis?Não. Ele deu foi uma pancada muito forte e não resistiu. Tenho algumas dezenas mas não os colecciono, utilizo para voar. Depois guardo-os.Também constrói aviões para as suas filhas.Sim. Construí um para elas também “competirem” no torneio de Santarém. Para dizer a verdade, comprei duas taças que lhes ofereci na final do torneio. Quer tivessem ganho ou não na cerimónia de entrega de prémios receberam uma taça.A família acompanha-o nos torneios?Já foram algumas vezes, incluindo ao estrangeiro. Uma vez fomos 15 dias para Inglaterra pois em dois fins-de-semana havia duas provas em locais diferentes. Uma prova em Bristol e outra perto de Cambridge e por isso fizemos bastante turismo, de carro.Aviões feitos com caixas de frutaO aeromodelismo é um passatempo caro?Recuso-me a gastar muito dinheiro com ele. Gasto muito menos dinheiro do que muitas outras pessoas. Para já dou a mão-de-obra e depois não compro aviões feitos. O aeromodelismo tem uma determinada dimensão e qualquer coisa que comece a ultrapassar os dois metros, que não caiba no carro, não acho graça nenhuma. Este torneio é o chamado aeromodelismo à moda antiga.Como era o aeromodelismo à antiga?Costumava aproveitar caixas de fruta vinda dos Açores para aproveitar a madeira e fazia os aviões a partir daí.O aeromodelismo já está bastante implementado em Portugal?Está, na área do rádio controle tem muitos participantes. O que está a crescer também é o aeromodelismo de compra.O Torneio Asas de Portugal regressou a Santarém.O presidente da câmara, Francisco Moita Flores, que é um grande amigo, disse-me que queria muito que fizesse o torneio em Santarém.Sempre que realizaram o torneio em Santarém ficavam no CNEMA. Porque é que se mudaram para o planalto?Aqui estamos muito melhor. Toda a gente temia se as pessoas viriam ver e a verdade é que veio muita gente mesmo. Neste local junto à praça de toiros temos o espaço suficiente e todas as condições para a realização do torneio.É preciso ter infra-estruturas necessárias para a prática do aeromodelismo?É só preciso pintar uns círculos no chão, colocar umas redes de protecção e está feito.Os mais novos não se interessam pelo aeromodelismo?Haverá cada vez menos aeromodelistas da mesma forma que há cada vez menos artesãos, bordadeiras. Tudo o que meta mão-de-obra afasta os jovens. Isto começa na escola. Os meninos e as meninas não aprendem a fazer nada na disciplina de Educação Visual. Aprendem a pintar algumas coisas, mas eu aprendi a fazer coisas com as mãos. Aprendi a construir um carro, por exemplo. Acho que é muito mau para as crianças não mexerem em mais coisas.O que é que aprendeu com o aeromodelismo?Aprendi com o aeromodelismo a partir e a reconstruir, aprendi a pensar e a precaver. Neste torneio parti um modelo de avião porque, apesar de todos os anos de experiência que tenho, ainda me esqueci que os cabos dos aviões já têm 15 anos. Sabia que estava a correr um risco, mas pensei ‘talvez os cabos durem mais uma vez’. Mas não duraram. Na vida é importante sabermos quando é que vamos ao chão e quando é que nos podemos pôr em pé outra vez.Quantas horas por dia perde com o aeromodelismo?Tenho duas oficinas, uma na casa do Cartaxo e outra na casa de Cascais, e sempre que posso desço as escadas e elas sabem que vou para o meu santuário.Quantas taças já ganhou?Neste momento a minha mulher está com alguns problemas e eu também. Temos as casas cheias. Ganhei recentemente o terceiro lugar nos campeonatos de Inglaterra e lá trouxe mais um troféu. Tem casa no Cartaxo. Não se arrependeu de se ter mudado para o campo?Pelo contrário. Se pudesse, se houvesse um liceu e uma universidade no Cartaxo vivíamos mesmo cá a tempo inteiro. Gosto muito de viver no campo e a minha mulher e as minhas filhas também.
“Se ganhasse dinheiro com o aeromodelismo se calhar só fazia isto”

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