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Pedro e Sónia Quintela o super casal do Triatlo

Pedro e Sónia Quintela o super casal do Triatlo

“Queremos ir ao Ironman que se disputa na Florida, nos Estados Unidos da América”

Pedro Quintela e Sónia Quintela são professores do ensino secundário. Pedro dá aulas no Tramagal e Sónia na Chamusca. São atletas de alta competição. Participam em provas de triatlo longo. Vieram do Estoril para o Pinheiro Grande onde encontraram o sossego ideal para criar os filhos e dedicarem-se à modalidade e ao ensino, que dizem passar por um mau momento. Estão a disputar a Copa Ibérica de Triatlo Longo, onde Sónia ostenta a camisola de campeã, conquistada no ano passado. E o sonho é agora ganhar lugar no Ironman para irem ao Campeonato do Mundo.

Já se conheciam da juventude?Não. Conhecemo-nos quando já dávamos aulas. Já éramos professores. Já tínhamos tirado os nossos cursos e já estávamos a trabalhar.Estudaram na mesma escola?Não. Estudámos até ao 12º ano no Estoril mas em escolas diferentes. Depois eu fui tirar o curso de geografia na Universidade Nova de Lisboa e a Sónia tirou o curso de Educação Física, na UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real. Andámos sempre separados até nos encontrarmos a dar aulas na mesma escola.Como é que se encontraram e começaram a namorar?Eu era muito amigo de um dos professores de educação física lá na escola na Parede. A Sónia foi para lá trabalhar e foi através desse amigo comum que nos encontrámos e começou o nosso percurso de vida em conjunto.Qual dos dois começou primeiro no desporto?Em termos mais competitivos foi a Sónia. Foi campeã nacional de natação em todas as categorias até chegar a sénior. Representou várias vezes Portugal ao nível de selecções, na altura com o nome de solteira, Sónia Teixeira. Ainda este mês participou no Challeng de Águas Abertas que se disputou na Aldeia do Mato e foi 5ª classificada na geral, numa prova em que participaram as melhores nadadoras portuguesas. Foi a Sónia que puxou o Pedro para a competição?Não. A Sónia teve aquele problema que afecta uma grande parte dos bons atletas. Fartou-se da alta competição e colocou o desporto um bocado de lado. Nessa altura eu fazia mergulho e caça submarina e para complementar a minha preparação para isso fazia corrida e ciclismo. Tinha muitos amigos na zona do Estoril que se preparavam comigo e foram eles que me levaram para o duatlo e para o triatlo.A Sónia nessa altura não praticava qualquer modalidade?Não, nessa altura ainda não tinha ultrapassado o stress da competição. Embora muita gente me quisesse puxar para o triatlo fui resistindo e durante alguns anos estive totalmente afastada do desporto competitivo.Entretanto veio o casamento e os filhos?É verdade, os filhos foram uma opção que me prendeu um bocado. Mas o bichinho do desporto nunca me abandonou, estava apenas adormecido. Entretanto como o Pedro já estava no triatlo e com os treinos e as provas estava muito tempo ausente de casa. Eu refilava um pouco, mas não conseguia que ele deixasse a modalidade. Passei a ir com ele às provas e um dia pensei, não o consigo vencer, vou juntar-me a ele e comecei a praticar triatlo.Agora treinam os dois juntos?Sim, principalmente quando temos que preparar as provas mais importantes como esta que disputámos agora em Espanha.E a diferença de andamentos?A Sónia é muito mais forte do que eu na natação. Eu depois compenso no ciclismo e na corrida. Mas o treino tem muita coisa específica e acabamos sempre por nos juntar e treinarmos em conjunto.“A vinda para o Pinheiro Grande não foi fácil para Sónia”Como é que se deu a vossa vinda para o Pinheiro Grande?Foi uma opção de vida. Eu sempre tive o sonho de viver no campo. A Sónia sempre foi mais cosmopolita e gostava mais de ficar na cidade. Os pais da Sónia queriam ter uma segunda casa fora de Lisboa. Andámos durante algum tempo à procura num raio de 100 quilómetros de um sítio para essa casa. Chegámos aqui ao Pinheiro Grande e ficámos encantados com a zona. Os meus sogros avançaram com a casa e eu fiquei também com a vontade de construir aqui para viver.Foi rápida a vossa mudança?Nem tanto. Foi difícil convencer a Sónia a vir para o Pinheiro Grande. Só depois da casa dos pais dela estar pronta e começarmos a vir passar os fins-de-semana é que a consegui convencer.Nessa altura já tinham o primeiro filho?Sim. E chegámos à conclusão de que queríamos ter mais filhos, e aqui havia mais qualidade de vida para os criar. A partir daí começámos a concorrer para as escolas da região. A Sónia ficou logo efectiva na Chamusca e eu fiquei no Tramagal.A Sónia teve dificuldade em ambientar-se?Não foi fácil. Mas pesando as coisas boas e as coisas más penso que me adaptei bem. Agora sente-se totalmente adaptada ou ainda bate o coração cosmopolita?De vez em quando ainda me apetece ir visitar as amigas e sobretudo ver e ouvir o mar. Sinto a falta disso e no pouco tempo que tenho vou matar saudades. A Chamusca corresponde àquilo que queriam?Na vida calma e serena corresponde em pleno. No desporto infelizmente deixa muito a desejar. Tirando o basquetebol não há mais modalidades. É pena que não existam ajudas porque o desporto é muito importante para toda a gente.“Sou atleta porque tenho a ajuda preciosa da minha mãe”Não é fácil ser mãe, professora e atleta?Não. Não é. Como é que a Sónia consegue conciliar todas as coisas e ainda ser “uma super mulher” no triatlo?É tudo uma questão de método. Para além desse método, tenho a ajuda extremamente preciosa da minha mãe, que vive connosco e faz o que lhe é possível para nos ajudar. E é muito. E os filhos, como fazem para os acompanhar?Em relação aos filhos, temos a situação mais facilitada com o mais velho. O Tiago já pratica triatlo e acompanha o pai e a mãe para todo o lado, e assim é mais fácil. O mais novo também já está habituado à nossa vida e às vezes até pergunta “mãe hoje não vais treinar?”.Assim ficam sem tempo para outras coisas, como ler um livro, ir ao teatro ou ao cinema?É verdade. Temos outras opções, como passar os fins-de-semana noutros locais. Viajamos muito e levamos os filhos connosco. Temos amigos em todo o lado. Situações que acabam por compensar essas faltas. O grupo de triatlo da nossa idade é muito unido e convivemos muito.“Dedicamos em média 25 horas por semana ao triatlo”Por quê a opção pelo triatlo longo?Porque é aquele que se adapta melhor às nossas capacidades. Neste momento somos mais fortes na resistência do que na velocidade, por isso o triatlo longo é o melhor para nós.Isso obriga a uma carga de treino maior?Sim. Treinamos duas vezes por dia. Treinamos em média 25 horas por semana. Treinamos natação, ciclismo e corrida a pé.É muito tempo e muito esforço?É, mas estamos mentalmente preparados para isso. O que ganhamos com o esforço é compensatório.As vitórias são a compensação que ajuda a continuar com esse esforço?Claro que sim. As vitórias que têm surgido mais por parte da Sónia, levam-nos a dar sempre mais um pouco para conseguirmos atingir os nossos objectivos.“A presença na Copa Ibérica é um desafio que queremos vencer”O que é a Copa Ibérica de Triatlo Longo?É um conjunto de quatro provas, duas em Portugal e duas em Espanha, que juntam os melhores triatletas dos dois países em competição. Os atletas são pontuados consoante a sua classificação. No final o atleta mais pontuado é o campeão ibérico. Ceptro que está nas mãos da Sónia.Em relação a este ano como estão a correr as coisas?A Sónia está neste momento em segundo lugar da geral. eu fiquei em décimo na geral de todas as categorias na única prova em que participou. Estive parado durante algum tempo devido a uma lesão e não participei na segunda prova.A Sónia foi campeã no seu escalão?Não, fui campeã ibérica na geral que englobava todos os escalões.É uma prova difícil?Bastante difícil. Como todas as modalidades o triatlo em Espanha está uns passos à frente do português. É a força de vontade e o trabalho individual dos atletas que ainda vai conseguindo equilibrar a balança entre os dois países.Como fazem as deslocações?Não. Vamos expensas nossas. Vamos no nosso carro e todas as despesas são por nossa conta. A nossa equipa, a Compeed/Tri-Oeste, apoia-nos nas provas disputadas em Portugal.Têm alguns apoios extra para isso?Sim, temos algumas empresas que nos apoiam. A Taberna da Rita, o Instituto Óptico de Alpiarça, a Garrido Artes Gráficas, o Armando Malaquias e a empresa Manuel dos Santos Grácio. São uma ajuda preciosa para podermos competir ao mais alto nível.A Copa Ibérica é a rampa de lançamento para uma prova ainda mais dura?É verdade. Queremos participar este ano no Ironman (Homem de Ferro) que é uma modalidade de triatlo de longas distâncias compreendendo aproximadamente 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida. Prova que se disputa na Florida, nos Estados Unidos da América.Nunca em prova, ou em treino, lhes apeteceu parar?Às vezes sim. Quando o dia nos corre mal ou alguma coisa não corre bem, só andamos pela força de vontade.Para fazer uma prova como o Ironmam é preciso ser uma super-mulher ou um super-homem?Nem tanto assim. É preciso treinar muito, ser responsável e sobretudo ter muita força de vontade e gostar do que se faz. Também traçar desafios e lutar para os vencer. É aquilo que nós fazemos no dia a dia.Qual o objectivo dessa participação?Chegar ao fim numa posição que nos classifique para ir ao Campeonato do Mundo que se vai disputar no Hawaii. Não vai ser fácil, só os dois primeiros de cada escalão se classificam.É um sonho realizável?É um sonho, se se realiza ou não só o tempo o dirá. Para já é o sonho de um casal que dedica grande parte da sua vida ao triatlo. E o faz com gosto.O ensino tem problemas a todos os níveis É mais fácil ensinar na província ou em Lisboa?Não tem nada em comum. Aqui as crianças são muito mais dóceis, são muito mais receptivas. Há ainda um bom relacionamento e uma melhor aceitação da autoridade do professor. É completamente diferente da grande Lisboa.O ensino está melhor ou pior a nível global?O ensino está pior. Não é por culpa da Chamusca ou de Lisboa. É por culpa das más políticas dos sucessivos ministérios.Os professores sentem mais dificuldade em ensinar?Sim. É cada vez mais difícil. Os estatutos de alunos e professores que têm sido criados só têm degradado a qualidade de trabalho dos professores e a qualidade do ensino.O que é que os professores podem fazer para melhorar a situação?Não temos grande capacidade de manobra. Raramente somos ouvidos pelo poder político. E ainda para pior somos uma classe muito pouco unida. Com demasiados sindicatos e muitos interesses em jogo. O ensino acaba por estar como o país um bocado desorganizado.Quer dizer que os professores estão pouco protegidos?Sem dúvida que sim. Só para dar uma ideia somos uma classe totalmente desprotegida. Enquanto os médicos, os advogados e enfermeiros têm uma ordem e protegem-se muito bem. Nós não, puxamos um para cada lado.
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