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“Faço política desde novinha”

“Faço política desde novinha”

Vereadora da Câmara de Tomar, Rosário Simões, não tem filiação partidária mas já anda há muitos anos na política

A cumprir o segundo mandato eleita pelo PSD, a vereadora da Câmara de Tomar Rosário Simões é uma mulher pragmática e que não volta costas ao trabalho. Com feitio reservado, não é muito dada a entrevistas mas devido ao I Festival de Estátuas Vivas de Tomar aceitou o convite de O MIRANTE para partilhar o seu entusiasmo em relação à iniciativa. Mas preferiu deixar perguntas sem resposta. Como as que envolvem o seu colega de vereação Luís Ferreira.

Não costuma dar muitas entrevistas a jornais. Foge das luzes da ribalta?Dou entrevistas quando me as pedem e de acordo com o projecto em que estou envolvida. Ou então no âmbito de alguma questão relacionada com os pelouros que tenho. Porque acho que entrevistas só fazem sentido quando estamos envolvidos num trabalho e que a comunicação social manifeste interesse em saber o que se passa. Não me vão ver a oferecer-me para entrevistas porque não tenho feitio para isto. No caso da organização Festival de Estátuas Vivas justifica-se a entrevista.Relativamente ao festival, o meu entusiasmo deriva do facto de ser professora, ter o pelouro da Educação e acompanhar, desde o início, o projecto “Máquina do Tempo”. Por outro lado, também estou desde o início na candidatura da Rota “Mosteiros Património da Humanidade” (e este Festival vai fazer parte dessa rota) que começou a ser desenvolvido, com o IGESPAR, em 2007. Não é muito difícil para mim encaixar um evento desta natureza naquilo que são os objectivos da rota. Foi uma questão muito batalhada. Gosto muito de interligar projectos. Considero que é um erro quando, dentro da mesma instituição, os projectos estão descoordenados. Ninguém faz nada sozinho. Está numa câmara onde duas forças políticas (PSD e PS) estão a partilhar o poder. Há um ano imaginava-se a trabalhar num executivo em coligação?É evidente que está a colocar-me a questão em termos partidários. Mas, em termos de trabalhar com pessoas de outras áreas, a mim nunca me incomodou nada. Estive 16 anos à frente de uma escola. Quando se trabalha, não quero saber de que cor política é que são as pessoas. Claro que não sou ingénua e sei que cada força política tem os seus objectivos, a sua maneira de ver as coisas. Interessa-me, sobretudo, que haja respeito pelos projectos e pelas instituições. Respeito muito as instituições. Se temos uma parceria, temos que ir para a frente e sempre com respeito mútuo. Porque também exijo ser respeitada. Claro que não há objectivos definitivos e os projectos vão mudando mas há algo que considero é que todos os parceiros devem contribuir para que os mesmos sigam para a frente. As instituições não têm cor, as pessoas é que têm cores partidárias.E a vereadora Rosário é militante do PSD?Não, sou independente.Esta coligação foi uma boa solução, face aos últimos resultados eleitorais que deram uma maioria relativa ao PSD?Como acabei de lhe responder, sou independente. No entanto, estou e assumo que estou há vários anos, em listas do PSD. Sou independente mas apenas porque não tenho um cartão do partido. Em relação à tomada de posição sobre coligações, são aspectos que são considerados a nível partidário, de concelhias. Quem não gostar que se vá embora. Quando vim, em 2005, foi para ocupar o cargo de chefe de gabinete do então presidente da câmara, António Paiva, embora estivesse na assembleia municipal. E foi ele que me convidou para estar na lista do executivo. Gosto do trabalho que estou a fazer.Foi parar à política por acaso?Não, eu faço política desde novinha. Não fazia era política em Tomar. Faço política desde os tempos em que era estudante do ensino secundário. Andei metida nos movimentos associativos e em Lisboa fazia política, antes de ser professora. Em Tomar comecei por ser, no primeiro mandato do PSD, primeira secretária da assembleia municipal em 1998. Dei aulas de Matemática até 2002. Fui chefe de gabinete do presidente António Paiva e em 2005 concorro em terceiro lugar na lista do PSD às eleições autárquicas.Revê-se nas posições tomadas pelo seu colega de vereação, Luís Ferreira, no caso Lobo Antunes?Não vou comentar isso. Devo dizer-lhe é que tenho muita pena que o escritor não tenha vindo cá. Por acaso até gosto do escritor, embora isso seja subjectivo para esta questão. Espero que um dia possa voltar a visitar Tomar e falar dos livros dele por exemplo, na biblioteca municipal. Como responsável pela biblioteca terei muito gosto em recebê-lo seja no lançamento de um livro seu, seja noutra ocasião.A concelhia do PSD veio a público repudiar essa actuação, considerando o comportamento do vereador socialista como “chocante”. Está solidária com essa tomada de posição?Como disse sou independente e, portanto, acho bem que a comissão política diga o que acha mas eu não vou mesmo comentar isso. Leio os jornais mas não comento. Luís Ferreira continua a ter condições para continuar a ser vereador da Cultura?Não comento essa questão (abana a cabeça).“A Educação dá muito trabalho”Dos vários pelouros que tem a seu cargo qual é o mais trabalhoso?Tenho muitos. Da Acção Social, da Biblioteca, da Educação, dos Recursos Humanos... Não há o mais trabalhoso mas há os que exigem mais recursos organizativos. Eu sou a vereadora da presidência. Sou eu que vejo o correio que entra e, portanto, posso assinar o correio para o exterior porque me foi delegada essa competência pelo sr. presidente. São pelouros mais organizativos, de trabalho que não se vê. E depois tenho os pelouros que têm um trabalho mais visível como o da Educação e o da Acção Social.Qual é que lhe dá mais dores de cabeça?São coisas diferentes. A Educação dá muito trabalho, especialmente nesta fase de arranque do início do ano lectivo e numa altura em que há obras nas escolas. Há uma preocupação e gestão constante que é feita para além do trabalho que se vai fazendo ao longo do ano. A Educação é, de facto, um pelouro trabalhoso em que se trabalha com muitas sensibilidades. Temos a responsabilidade do pré-escolar e do 1.º ciclo mas também já temos ao nosso encargo o pessoal não docente das escolas do 2.º e 3.º ciclo e, portanto, trabalhamos com muitas escolas espalhadas. Há coisas que gostávamos que estivessem melhor mas enquanto não tivermos mais centros escolares prontos há sempre dificuldades. Tem saudades de dar aulas?Dei aulas de 1979/80 a 2002 e tenho saudades de ensinar os alunos. Mesmo quando estava na direcção da escola mantinha uma turma. Às oito horas já estava na escola para ver como estavam as coisas. Leccionava no segundo tempo e servia-me de terapia. Dava matemática e física e a maioria dos alunos gostava da disciplina. Criou-se um rótulo à volta da matemática e esquece-se que se aplica a matemática todos os dias, a toda a hora.O Bairro do Flecheiro, onde habitam várias famílias de etnia cigana, continua a ser uma mancha na paisagem. Isso revela alguma incapacidade política em resolver o assunto?Essa questão está a ser tratada mais pelo sr. presidente da câmara. O que lhe posso dizer é que com o avançar do projecto de requalificação daquela zona, os moradores têm que sair de lá. Não há datas definidas, uma vez que o dossier está centrado no gabinete do sr. presidente. Não é uma questão de incapacidade política. Para tirar 40 famílias de um sítio temos que os meter em qualquer lado e para os realojar temos que ter casas. Para fazer um projecto para aquela zona era necessário fazer uma alteração ao Plano Director Municipal. Essa alteração não depende só da câmara mas de organismos da administração central, o que leva o seu tempo.Têm muitos casos de pobreza sinalizada em Tomar?Há um grande número de famílias que está a receber o Rendimento Social de Inserção mas não considero que os números sejam alarmantes. A nível de acção social escolar, o processo começa na própria escola com boletins de subsídio escolar a serem distribuídos. Só depois são enviados para apreciação na câmara. Sei que é o primeiro elemento da vereação camarária a chegar à câmara…Gosto de me levantar cedo e de começar a trabalhar cedo. O tempo rende-me muito mais enquanto os telefones e telemóveis não tocam. Sempre me habituei a fazer isso. É uma altura do dia em que gosto de trabalhar. Mesmo ao sábado e domingo mantenho o hábito de me levantar cedo. Sou eu que atendo o padeiro (risos).Uma mulher madrugadora que sempre teve o bichinho da políticaLevanta-se todos os dias antes das sete da manhã, desloca-se a pé para o trabalho, percorrendo cerca de um quilómetro, e quando chega à câmara municipal só encontra as funcionárias de limpeza. Um hábito antigo que a leva a organizar o seu dia de trabalho muito antes do telefone começar a tocar. Licenciada em Física, na vertente de investigação científica, Maria do Rosário Cardoso Simões nasceu na Chamusca e foi parar a Tomar em 1979 devido à profissão de professora. Habituada às lides políticas “desde os tempos de estudante”, deu aulas de Matemática e Física no Colégio Nun’Álvares, fez o estágio durante dois anos e, posteriormente, foi colocada na Escola D. Gualdim Pais, onde viria a ser presidente do Conselho Executivo durante 15 anos, altura em que foi convidada pelo então presidente da câmara, António Paiva, para ser a sua chefe de gabinete. Frontal, prática e metódica, o que faz gosta de fazer bem. Não é filiada no PSD e refugia-se nessa independência para não responder a algumas perguntas mais incómodas.Festival de Estátuas Vivas quer alcançar projecção nacionalÉ já no próximo fim-de-semana, 18 e 19 de Setembro, que 21 homens estátua encarnam em personagens históricas e vão estar distribuídos pela cidade de Tomar, formando “um túnel do tempo”, transportando os espectadores numa viagem até ao passado. Os comerciantes locais também foram envolvidos no certame e, no sábado à noite, a Praça da República recebe árias de ópera para coroar a primeira edição deste festival. Na parte relativa ao I Festival de Estátuas Vivas, o coordenador do projecto, Eduardo Mendes, foi convidado a participar na conversa.A poucos dias do “I Festival de Estátuas Vivas de Tomar” que expectativas têm em termos de adesão do público?Eduardo Mendes (EM) – Não é o número que é importante. É o primeiro festival e essa será uma avaliação a fazer depois. Fizemos o melhor possível no que diz respeito à divulgação do evento e não me recordo de Tomar ter tido – com excepção da Festa dos Tabuleiros, que é um caso à parte – um evento que tenha tido uma divulgação tão boa.Rosário Simões (RS) – Gostávamos que a cidade sentisse este acontecimento e de ter cá muitos visitantes. Também é verdade que quanto mais gente vier ao primeiro mais responsabilidade teremos na organização do segundo…Porquê “Estátuas” e não outro motivo para um grande festival?EM – O grande património de Tomar, até em termos económicos, reside nesta ligação à história. E que melhor do que uma estátua para fazer a ligação à história e ao património de Tomar? O conceito de estátuas, não sendo original porque não é, pode ser adoptado às nossas circunstâncias. Queremos, por exemplo, transmitir às crianças, através da magia das estátuas vivas, a ligação e o gosto aos locais que vão visitar. É importante a ligação dos jovens ao património. RS – Isto foi pensado mas tem base no projecto “Máquina do Tempo”, um projecto lúdico que tenta transmitir às crianças, jovens e adultos a História de Portugal e os monumentos de Tomar e pressupõe sempre uma viagem ao passado. A estátua surge ligada a esse projecto que, para já, está dentro das escolas mas queremos que passe para a rua. Tentamos interligar projectos e dar a conhecer a “Máquina do Tempo” às pessoas. Tomar não se tem servido do seu património para desenvolver quer a parte turística, quer a parte cultural. A ideia passa por realizar o Festival todos os anos, à excepção dos anos em que se realize a Festa dos Tabuleiros. Mas para o ano também há festival…EM – Não fazia sentido começarmos este ano e interrompermos já no seguinte. Mas é uma excepção. A partir daí vai-se dar essa alternância. É evidente que gostaríamos que o Festival de Estátuas passasse a ser um evento marcante no calendário regional e até uma referência nacional, neste contexto.RS – Este evento tem características internacionais uma vez que conta com a participação de artistas estrangeiros. Se no próximo trouxermos mais artistas estrangeiros este festival pode vir a ganhar outra dimensão. Com objectivos tão ambiciosos, pretende vir a ser o evento mais marcante de Tomar, depois da Festa dos Tabuleiros?RS – É uma experiência que estamos a fazer e quando pensamos no festival foi para ver qual era a adesão ao mesmo e daí termos feito muita publicidade. Queremos que seja um evento anual, de grande qualidade e com muita gente. Este ano, como é o primeiro, estamos a trabalhar no eixo que liga a Escola D. Nun’Álvares Pereira ao convento. Mas de certeza que, no futuro, terá outras surpresas e vai envolver mais gente. Realizamos o festival durante um fim-de-semana para que quem nos visite fique cá para domingo. É importante para desenvolver a economia local. Qual é o objectivo primordial deste evento: turístico, cultural ou educativo?EM – O festival surge pela via do ensino e é preciso que não se esqueça isto. Claro que todos os ganhos que existirem no campo turístico e cultural são uma mais-valia mas o motor do projecto é a ligação intrínseca à Educação e passa por preparar toda uma geração que venha a tomar conta deste património e saiba rentabilizá-lo. RS – O festival realiza-se precisamente em Setembro para se ligar ao regresso às aulas e ao regresso às escolas. Estamos a falar de educação para o património, para a cultura. É este tipo de educação que também queremos incutir nas gerações futuras. Não se deve estudar história só pelos livros. Como foi trabalhar na organização de um evento desta natureza?EM – O festival começou a ser organizado em Fevereiro com a apresentação do figurino. O projecto inicial foi sofrendo alterações uma vez que Tomar tem particulares condições, em termos patrimoniais, para receber um evento deste tipo. Contactamos o António Santos, “Staticman”, pioneiro da arte da imobilidade estática em Portugal. Foi ele que introduziu esta arte, há mais de 20 anos, na Rua Augusta, em Lisboa. Foi com a colaboração dele que seleccionámos os restantes artistas para representarem as 21 figuras da História de Portugal.Quem é que é o “pai” do Festival de Estátuas Vivas de Tomar?EM – Nada disto seria possível sem a câmara municipal mas daí a dizerem que é organizado pela autarquia, tenha paciência, mas não posso deixar passar. Este festival nasceu com uma ligação umbilical ao ensino e é um projecto de parceria e talvez seja esse um dos segredos do anunciado êxito do projecto. Todos os parceiros colaboram e dão o seu melhor, no âmbito do projecto Máquina do Tempo: o município, a Escola EB 2,3 D. Nuno Álvares Pereira, o Convento de Cristo e o Instituto Politécnico de Tomar.RS – A nível da câmara, fui eu que apresentei o projecto em sede de executivo camarário, no âmbito da Educação. Queremos que o Festival das Estátuas Vivas nunca perca de vista a questão pedagógica do projecto. Andamos com muito cuidado nos passos que damos para que este seja um evento anual importante, que traga milhares de pessoas à cidade mas sem nunca perdermos de vista a parte pedagógica.
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