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“Sou mãe, psicóloga, educadora, árbitra”

Rosa Lopes é auxiliar de acção educativa há 25 anos

A auxiliar de acção educativa nunca pensou em mudar de emprego e repete o “nunca” com veemência, sublinhando a dedicação e o amor com que vê o seu trabalho.

Rosa Lopes, 50 anos, iniciou a vida profissional como auxiliar de acção educativa, aos 26 anos. Já casada e com dois filhos, mas com vontade de encontrar uma ocupação que envolvesse o cuidado de crianças, procurou informar-se das suas possibilidades junto da professora da escola primária da terra onde residia, em Fontainhas da Serra, freguesia de Atouguia, Ourém. Então com a 6ª classe, conseguiu o seu primeiro trabalho enquanto auxiliar, actualmente chamadas de assistentes operacionais, num jardim-de-infância no concelho de Torres Novas.Foi a carreira que seguiu toda a vida, mudando apenas de local consoante as oportunidades. Após os dois primeiros anos pediu transferência para um jardim-de-infância mais próximo de casa, tendo sido colocada em Moitas Gaiola, freguesia de Fátima, Ourém. Ao fim de sete anos a cuidar dos mais pequenos, foi colocada numa escola primária em Fátima, onde actualmente decorrem as obras para se tornar no Centro Escolar da Cova da Iria. É lá que se mantém há 17 anos. “Sou mãe, sou psicóloga, sou educadora, sou árbitra”, comenta Rosa Lopes ao recordar os 24 anos passados a cuidar das crianças, trabalhando ao lado de educadoras e professoras, mas desempenhando um papel de suporte na estrutura da escola/jardim-de-infância. Conforme diz, uma assistente operacional possui a função de, “no papel de pedagogo, escutar a criança, dar apoio”, cooperando com as educadoras. “Tenho que zelar pelo espaço das crianças e pelo material didáctico, estar 100 por cento de olho neles e só no fim vem a parte da limpeza”. “Tenho que ser humilde, paciente, alegre, respondendo sempre com uma cara sorridente”. Acompanha com curiosidade a evolução das crianças e as transformações que sofrem com a mudança de gerações. Chegou a pensar formar-se como educadora de infância, mas preferiu dar prioridade à vida familiar. Entretanto completou o 9º ano, primeiro em aulas nocturnas e por fim com as Novas Oportunidades, realizando todos os anos diversas formações. Já fez parte de vários conselhos pedagógicos, integrando agora o conselho geral do Agrupamento de Escolas de Ourém, enquanto representante do pessoal não docente. “Quando vejo uma criança fico calada e faço-lhe uma radiografia interna. É a experiência que advém do trabalho e muitos pais não conseguem fazê-lo. Através da maneira de olhar, de falar, consigo perceber se aquela criança é honesta ou maliciosa. É o impulso da criança. As crianças não se portam ao pé de mim da mesma forma que se portam em casa e raramente uma me consegue enganar”. A passagem da primeira infância para os jovens que frequentam a escola primária foi “difícil” para Rosa Lopes, que durante quase 10 anos teve um contacto mais “minucioso” com pequenos entre os 3 e os 5 anos. Nas actualmente chamadas escolas de 1º ciclo encontrou “outra experiência de trabalho, mais diversificado”, uma vez que acompanhava quatro anos diferentes. Aqui percebeu a necessidade de se impor e de não recuar. “Temos que ser mais firmes. Não podemos vacilar perante uma criança do 1º ciclo porque eles lembram-se logo. Temos que ser justos mas rectos. Temos que ser sinceros e manter a palavra. Se não perdem-nos um pouco o respeito”. Garante que nunca teve problemas com educadoras ou professoras. Procura sempre trabalhar em cooperação, destacando que apesar do seu papel é a elas que compete regular a estrutura da escola. É preciso ainda saber lidar com os pais, muitos dos quais não conseguem dar uma verdadeira educação aos filhos ou não entendem que estes na escola não se comportam da mesma forma que em casa.Uma experiência marcou-a em particular. Uma criança que cortou a ponta de um dedo num jogo do recreio e que veio ter consigo a suplicar que ela encontrasse o bocado que faltava para ele não ficar com aquele defeito. “Estava num sofrimento enorme, mas só queria saber do dedo”, recorda. As crianças de hoje são “manhosas, têm valores mas são insatisfeitos, querem sempre mais”. Muitas das experiências mais negativas por que tem passado envolvem telemóveis e outros aparelhos electrónicos que os mais novos trazem para a escola. Caminha-se no sentido de virmos “a ter uma sociedade frustrada, mais do que já é”.Rosa Lopes nunca pensou em mudar de emprego e repete o “nunca” com veemência, sublinhando a dedicação e o amor com que vê o seu trabalho. “Gosto muito daquilo que faço. Tenho um percurso profissional bastante gratificante”.

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