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Frutos Secos sim, espectáculos no Virgínia nem por isso

A maior parte das pessoas consome frutos secos apenas em alturas especiais como o Dia de Todos os Santos, o Natal ou o Ano Novo. E aproveita a Feira dos Frutos Secos para fazer as suas compras. Quem é natural de Torres Novas conhece bem o figo preto que durante décadas serviu para fabricar álcool e foi importante para a economia da região, mas são raros os que conhecem quem ainda se dê ao trabalho de apanhar aquela qualidade de figo e a pôr a secar para depois vender. O MIRANTE aproveitou o contacto com cidadãos da zona de Torres Novas para lhes perguntar se costumam assistir aos espectáculos apresentados no renovado Teatro Virgínia. As respostas deixam a desejar. Espectadores assíduos não encontrámos nenhum mas encontrámos quem nunca lá tenha entrado.

António Chora Barroso, RiachosPor tradição, com a família, António Chora Barroso procura visitar todos os anos a Feira dos Frutos Secos. “Quando vou vejo de tudo um pouco, só lá vou uma vez na semana, e compro sempre frutos secos”. “Normalmente vou ao figo branco, às nozes e às passas de uva”. “Gosto muito, mas engorda”, comenta rindo.Costuma comprar os frutos secos nesta altura do ano e guarda-os para ocasiões especiais, como o Dia de Todos os Santos ou o Natal. Não conhece ninguém que ainda tenha as suas figueiras e seque os figos para vender. “Não sei se um tio meu ainda tem figos…”. Do figo preto tem várias recordações. “Em pequeno andei a apanhar figos. Os meus avós eram da Brogueira e na altura das férias íamos com os primos apanhar figos, todos contentes em cima do burro. O meu avô dava um tostão ou dois por cada balde que nós apanhássemos”. “Acho que era uma tradição boa e mesmo assim ainda dava trabalho a muita gente quando se fazia aguardente de figo”.O último espectáculo que viu no Teatro Virgínia foi em 2009, com o primo, o cantor Pedro Barroso, que ali assinalou 40 anos de carreira. “Não vou mais por falta de tempo”, explica. Francisco Silva, Torres NovasA viver em Torres Novas há cerca de 40 anos, Francisco Silva afirma gostar muito de frutos secos, desde amêndoas, nozes ou avelãs. Nos figos, prefere o figo branco. São produtos que guarda para ocasiões especiais. “Dias mais assinalados”, mas que compra apenas por alturas da Feira dos Frutos Secos. Todos os anos procura passar pelo certame. Músico desde os 14 anos, comenta que é “muito esquisito” com a oferta musical. O evento não o atrai tanto pelo programa cultural, mas sobretudo pela oferta gastronómica. Não conhece quem seque e venda o figo preto e lamenta que já não haja hoje clientes para esta produção. “Tenho pena que não se aproveite esse produto típico de Torres Novas”.Sabe que o Teatro Virgínia foi recuperado mas não se recorda da última vez que lá foi. “Confesso que não costumo ir a espectáculos no Virgínia”. João Pedro, CasévelEspecial apreciador de amêndoas, João Pedro afirma que adora todos os frutos secos, menos o figo preto, tradicional da região. Provavelmente por se ter cansado de os apanhar. “Quando era mais novo, para conseguir algum dinheiro para as férias, andei na apanha do figo preto. No final do dia recebia cerca de mil escudos. Como era pago ao balde, dependia da produção das figueiras e da minha disposição”, conta. E sublinha que o dia passado naquele ofício não era para brincadeiras. Havia sempre em sua volta pessoas mais velhas que o faziam trabalhar.Todos os anos passa pela Feira dos Frutos Secos. “Costumo ir para ver alguns concertos e aproveito para passar lá a tarde, comer qualquer coisa”. A compra dos frutos secos é um hábito de todo o ano e em sua casa nunca faltam as amêndoas.“Em Casével ainda conheço muita gente que tem figueiras e seca os figos, mas não vende, apenas oferece”. “O meu primeiro empregador, quando andava na apanha do figo preto, julgo que ainda vende, mas já tem 90 anos”.Da última vez que João Pedro esteve no Teatro Virgínia, em Torres Novas, foi para assistir a um concerto dos Clã, há cerca de dois anos. “Ainda não percebi se é falta de interesse em ir ou falta de informação sobre os espectáculos. Talvez um pouco das duas coisas”, reflecte.Manuel Romão, Torres NovasProprietário de um restaurante, Manuel Romão vai à Feira dos Frutos Secos conforme a sua disponibilidade, mas refere que passa pelo certame todos os anos. “Costumava ir à Feira mais para ver a Fersant (Feira Empresarial que se realizava na mesma altura da Feira dos Frutos Secos), agora não sei como será”, refere. “Vou à espera de encontrar aquilo mais vazio”, afirma, comentando que conhece pessoas que já não vão expor os seus produtos porque a Fersant este ano se realizou em Santarém.Manuel Romão gosta de todo o tipo de frutos secos, passando pelo tradicional figo preto, a noz ou a amêndoa. Mas consome estes produtos sobretudo nesta época. “No tempo do calor, só se for mesmo um amendoim com uma imperial”, refere a rir.Dos tradicionais produtores que conservem as suas figueiras e sequem os figos pretos para vender não conhece ninguém. “Mas há aqui um supermercado que tem sempre figo preto, todo o ano”, comenta. Quanto a hábitos culturais são escassos. “Nunca fui ao teatro Virgínia desde que foi recuperado. Tenho muito trabalho”, justifica-se.Rosalina Santos, Torres NovasApreciadora de frutos secos, Rosalina Santos diz que gosta de todas as variedades, incluindo os figos. “Por causa do sabor”, refere. Todos os anos visita a Feira dos Frutos Secos, porque a sua empresa tem lá um stand de vendas. “Tenho mais o hábito de comprar os frutos secos nesta altura por causa da Feira”, conta. Não conhece quem ainda seque figos para vender, mas refere que algumas colegas conservam as suas figueiras e vão colhendo os figos. “Há sempre mercado para estes produtos embora a agricultura esteja a passar uma fase má”, afirma.O último espectáculo que viu no Teatro Virgínia foi há dois ou três anos, com o humorista José Pedro Gomes. “Tenho uma vida muito ocupada. E nem sempre é possível conjugar as coisas”, admite. João Gonçalves, Torres NovasCostuma passar todos os anos pela Feira dos Frutos Secos e é hábito levar alguns para casa. De toda a oferta, prefere as nozes. “Vou por tradição, desde a altura que a Feira começou”. A secção dos doces é contudo a sua favorita.João Gonçalves comenta que costuma esperar por esta época do ano para comprar frutos secos. Pessoas que ainda possuam figueiras e sequem os figos para vender existem cada vez menos na zona e refere que esta é uma tradição que se está a perder. “Conheci pessoas que o faziam, mas hoje em dia os figos que vêm do estrangeiro, de locais como a Turquia, são mais baratos. Aqui fazemos uma Feira mas os produtos, na realidade, vêm de outros países”, diz.Dono de um restaurante, afirma que não se recorda bem da última vez que foi ao Teatro Virgínia. “Tenho uma filha que está na dança e a última vez que estive no espaço foi para ver um espectáculo dela”, confessa.

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