uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
De merceeiro a vendedor de instrumentos musicais

De merceeiro a vendedor de instrumentos musicais

Joaquim Gouveia Santos é um dos donos de uma das casas mais tradicionais de Vila Franca de Xira

Nasceu em Vila Nova de Poiares e desde cedo aprendeu quanto custa a vida. Saiu da escola ainda novo, foi merceeiro, empregado de uma empresa de venda de géneros alimentícios e acabou como vendedor de instrumentos musicais. “A vida dá muitas voltas”, confessa o homem que já se apaixonou por Vila Franca de Xira.

Esta é a história de um homem natural de Vila Nova de Poiares que acabou na cidade de Vila Franca de Xira a vender instrumentos musicais. Saiu da escola ainda novo, trabalhou numa mercearia e foi empregado de uma empresa de géneros alimentícios. Garante que nunca virou a cara à luta e confessa ter na música uma das suas grandes paixões.Entre pianos, guitarras, baterias e saxofones encontramos Joaquim Gouveia Santos, nascido em 1949. Naquele tempo, conta a O MIRANTE, a vida era difícil e a fome, tal como na maioria dos lares portugueses, espreitava a cada hora da refeição. Estudou até aos 11 anos, altura em que teve de ir ajudar a família a colocar o pão na mesa. Ainda guarda o sotaque e orgulha-se dele. O seu primeiro emprego foi numa mercearia da terra, daquelas que vendem tudo para o lar, de panos a copos de vinho. “Trabalhei lá até aos 16 anos, mais coisa menos coisa. Era um espaço que tinha de tudo, vendia artigos de bricolage, alimentos, artigos para o lar e até tinha uma taberna”, diz com um sorriso. “Acho que só não vendia comprimidos, que era na farmácia, de resto aquilo tinha tudo. Hoje em dia aquele tipo de loja já não existe. O senhor da mercearia era bom patrão mas era um bocadinho agarrado. Antigamente as pessoas eram mais duras, havia outro respeito entre patrões e empregados”, recorda.Depois de algum tempo Joaquim ganhou um convite dos mesmos patrões para vir para a zona de Lisboa trabalhar numa das suas empresas de géneros alimentícios. “Não hesitei, fui logo e acabei em Vila Franca de Xira a vender massas e arroz”, recorda. No dia 20 de Outubro de 2010 passaram-se 40 anos desde o dia em que assentou praça na tropa. “Estive três anos na tropa, em Aveiro, Leiria e acabei na Polícia Militar”, conta. O percurso profissional nos militares foi interrompido quando lhe surgiu a hipótese de assumir uma parte da gestão da empresa de distribuição alimentar. “Ficámos sócios, depois uns meses mais tarde o meu antigo patrão arrancou para outras paragens e eu fiquei com o negócio. Mas já nessa altura tinha um fraquinho pela música”, recorda.Agarrado ao vício da música, Joaquim tomou uma decisão: juntou-se a outro amigo e abriu uma sociedade de venda de instrumentos musicais na cidade de Vila Franca de Xira. Já lá vão 16 anos de actividade, na rua Serpa Pinto. “É um negócio que obriga a ter algum conhecimento, especialmente a nível de afinações dos instrumentos. Apesar de não ser músico de profissão – não sei ler pautas – percebo muito de afinações, mexo em qualquer instrumento de cordas, tenho bom ouvido”, diz com um sorriso. Para este profissional a música tem crescido em Portugal e as escolas têm feito um bom trabalho na criação de uma cultura musical no país.“Está a notar-se uma grande evolução na cultura musical. Tenho vendido mais violinos em 3 anos do que nos últimos 16 anos. Guitarras, violinos e algumas flautas são o que mais vendo. Antigamente só existia a flauta mas nos últimos anos as escolas começaram a mostrar grande abertura para outros instrumentos, como os violoncelos, que antigamente nem se vendiam. A guitarra portuguesa também está a despertar grande atenção”, confessa.Para o nosso interlocutor, o mercado de trabalho antigamente “era como uma família” porque “se ligava menos ao dinheiro”. Na sua opinião, hoje os trabalhadores são encarados pelo patronato como mercadoria barata. Diz que nunca foi pessoa de sonhar alto e não há nada que se arrependa de ainda não ter feito. Actualmente, confessa, o negócio na cidade vai dando para viver. “Não dá para gerar fortuna mas dá para fazer uma vida desafogada. Ainda há muita gente que vai ficando a dever”, lamenta. “Mas também há muita gente honesta, que compra e não falha na hora de pagar. Também reconheço que às vezes as pessoas querem um instrumento para o filho e não têm posses para o comprar, mas como sabem que faz falta às vezes pedem para pagar em várias vezes”, lamenta. Joaquim Santos confessa que só toca em algumas “paródias e brincadeiras” com os amigos mas nunca em palcos a sério.
De merceeiro a vendedor de instrumentos musicais

Mais Notícias

    A carregar...