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Um dia o presidente da Cebi levou duas crianças sem família para casa

José António Carmo, empresário da Turiprojecto e presidente da fundação de Alverca

Em menino jogava hóquei sem patins nas ruas de Alverca em homenagem aos campeões da modalidade que levavam Portugal ao rubro. Fugia da GNR para não ter que pagar a multa. Hoje José António Carmo, presidente do grupo Turiprojecto, dedica parte do tempo à fundação Cebi. Foi no centro de emergência infantil da instituição que “resgatou” duas crianças. Em vez de três são agora cinco os filhos da família de um homem grande em todas as dimensões.

Nasceu em Lisboa, mas sente-se filho de Alverca.Sim. Como era o primeiro filho e a minha mãe era franzina jogaram pelo seguro. Fui nascer na enfermaria de Santa Bárbara, no Hospital de São José, freguesia do Socorro. Os meus irmãos nasceram em casa como era normal aqui na zona.Como descreveria a sua infância?Tive a sorte de nascer numa família onde não abundava o dinheiro, mas as pessoas tinham boa formação. A minha mãe era doméstica, o meu pai empregado de escritório. Tinha um avô com algum à vontade financeiro, mas tinha nove filhos. Uma das pessoas que mais me influenciou foi a minha avó materna que era professora primária. Foi a minha avó, na altura reformada, que me deu aulas quando tive um problema grave de pulmões e fiquei dois anos sem sair de casa. Passei da primeira para a quarta classe. Em criança já construía parques logísticos a brincar?(Risos) Não, mas sempre tive muito gosto pelos trabalhos manuais. No meu tempo não havia esta profusão de brinquedos de plástico feitos na China. Nesse período em que estive doente não podia ir à praia e passava férias em casa de uns familiares na zona do Bombarral. Na cidade tínhamos brinquedos um bocadinho mais evoluídos, mas no campo os miúdos brincavam com carrinhos de bois com duas pinhas e arame que eles próprios faziam. Era o Portugal dessa altura. Em Alverca costumava ir brincar para a rua?Sim. Nessa altura Alverca era uma terra sossegada. Morava na zona da avenida Capitão Meleças. Havia menos carros do que há hoje e os miúdos brincavam nas ruas. Hóquei sem patins e futebol. Sempre com muito cuidado porque vinha a guarda e a multa custava 80 escudos e cinquenta centavos...Era o pai que pagava?Nunca pagou porque a gente fugia quando via a GNR (risos)… Os sticks do hóquei eram improvisados?Sim, eram improvisados... Nessa altura tinha muita importância o campeonato do mundo de hóquei patins em que Portugal participava. Durante esse período ninguém falava de futebol. Os miúdos jogavam na rua e mimavam os jogadores. Só que os jogadores usavam patins e nós não. Nessa altura a vida em Alverca era como em qualquer terra de província. A proximidade a Lisboa não se fazia sentir como faz hoje. Os meios de transporte também não eram os mesmos. Havia menos comboios, o trajecto de camioneta era demorado e as pessoas não tinham tantos automóveis. Havia uma vivência muito mais de interior do que hoje. Hoje Alverca é Lisboa. Os sinais de suburbanidade não se sentiam ainda?Não. Depois começou a acontecer quando as indústrias começaram a desenvolver-se e a precisar de mão-de-obra. Começou a haver a migração sobretudo de pessoas do Alentejo e das Beiras. Alverca começou a crescer. Aliás, teve um crescimento muito desordenado nessa altura. Foram os bairros clandestinos, foi o crescimento das zonas periféricas. Nasci em 1952. Em 1960 foi quando se deu esse desenvolvimento em Alverca e começaram a vir as pessoas. Tem saudades desse ambiente de província?Saudades só da relação com as pessoas que era mais fácil. Havia muito menos gente. As famílias de cá conheciam-se. Com as novas urbanizações deixou de existir essa proximidade. De resto as condições de vida eram muito piores nessa altura. O nível de vida em Portugal nestes últimos 40 e 50 anos subiu muito. Tem imagens de situações mais complicadas, de famílias mais pobres?Sim. A minha mãe esteve sempre muito ligada à Conferência de São Vicente de Paulo. Um dos meus irmãos é adoptado. Não tinha pais. Havia muitas situações de carência. Não quer dizer que hoje não existam, mas são mais dissimuladas. Nessa altura vivia-se com dificuldade. Eu era de uma família de classe média, mas lembro-me perfeitamente que os dias do bife e das batatas fritas eram uma festa para os miúdos lá de casa.Apesar disso a família fez o esforço de acolher mais um.Sim. Somos cinco irmãos. Também tem uma situação idêntica na sua família?Sim. Temos três filhos naturais e adoptámos mais duas crianças. Foi uma decisão inesperada?Teve que ver também com a minha actividade na fundação Cebi. Eram duas crianças que precisavam de família e estavam no Centro de Emergência Social. Um rapaz de 13 anos e uma menina de seis. As famílias preferem sempre crianças mais novas.Quanto mais novas são as crianças mais fácil é a integração na família, mas é uma questão de se querer e de se lutar por isso. Dá trabalho. Não é possível esperar que crianças que estiveram três anos num centro tenham o desenvolvimento de uma criança que viveu normalmente numa família. Por muito bem tratadas que sejam não é a mesma coisa. As crianças numa família ouvem os pais, ouvem os irmãos e fazem perguntas... Se não tivesse um irmão adoptado teria tomado esta decisão?É uma questão muito pessoal. Diria que se a minha mulher não tivesse mostrado interesse dificilmente teria acontecido. Os meus filhos já eram maiores. Teve que haver uma aceitação por parte da família. Posso dizer que fui dos últimos a ser envolvido no processo. Já estava toda a gente pronta para receber aquelas crianças quando a questão me foi posta. Tem tempo para participar na educação das duas crianças?O rapaz mais velho já está agora a trabalhar. Estudou até onde pôde. A menina está agora a fazer o oitavo ano. Temos filhos próximos dos trinta anos. Tem alguma graça voltar a ajudar nos deveres da escola, dar explicações de matemática, de francês e inglês. Participo sempre que posso. Trago a minha filha à escola de manhã. São filhos como os outros.Estão perfeitamente integrados na família. São filhos com os mesmos direitos e os mesmos deveres.Azambuja tem a zona nobre da logística em PortugalA Construsan [empresa do grupo Turiprojecto] está a construir um espaço de logística em Azambuja nas antigas instalações da Opel. É um dos maiores da Península Ibérica. Foi um bom desafio?Comprámos o terreno em concurso público. A escolha teve em conta os projectos e as intenções que havia para o terreno. Ganhamos esse concurso contra empresas estrangeiras que ofereciam até mais dinheiro. Nomeadamente um dos grandes gigantes da logística a nível europeu. Conseguimos que a Opel se interessasse pelo nosso projecto. Depois apareceu a Sonae, que já tinha instalações ao lado, interessada em ficar ali com o seu centro de distribuição para a zona sul e o projecto foi adaptado às necessidades da empresa inquilina. O investidor final no primeiro armazém é a Esaf, fundos imobiliários do grupo Espírito Santo. Não temos capacidade financeira para ficar proprietários e a receber as rendas. O segundo ainda está em negociação. No debate sobre logística que se realizou em Azambuja não gostou de ouvir a expressão “baldio logístico” associada à zona. Sempre achei que esse termo “baldio logístico” era desagradável para todos aqueles que tinham andado a fazer aquilo que o Governo nunca fez. Ou que fez mais tarde. Nunca ninguém se tinha preocupado com a logística. Durante muito tempo foi um parente pobre da actividade comercial e industrial, mas houve quem fosse fazendo. O que é que havia em Portugal há 20 anos? Barracões. Os operadores logísticos tinham isso ou que encontrar novas soluções. Nós trabalhamos no sector há vinte anos e aprendemos com aqueles engenheiros ingleses, alemães e franceses que apareceram a coadjuvar as primeiras empresas que vieram fazer logística a sério em Portugal. Trabalhamos com essa gente e apreendemos a essência deste negócio. Como não havia zonas reservadas estes projectos começaram a ser desenvolvidos junto a acessos importantes para que fosse fácil fazer a distribuição dos produtos. Na zona de Azambuja estavam os terrenos disponíveis. Hoje a Estrada Nacional 3 tem uma grande zona logística. Não lhe podemos chamar plataforma logística porque não tem organização entre os empreendimentos, mas é a zona nobre da logística neste momento em Portugal. Ao contrário do que foi dito no debate.Sim, mas os relatórios do sector indicam que a zona prime [nobre]de logística está entre Alverca e Azambuja. Há outras zonas, mas Azambuja tem a coisa mais importante – os grandes operadores - como referiu o professor Augusto Mateus nesse debate. E tem uma câmara municipal preocupada com os acessos e redes viárias. Existem também equipamentos de apoio e áreas de serviço.Quando estará a funcionar em pleno e quantos postos de trabalho criará?A primeira parte do parque está concluída. A segunda ficará pronta durante o primeiro trimestre. São 110 mil metros quadrados total de construção incluindo escritórios numa área global de 22 hectares. O investimento ronda os 70 milhões de euros A perspectiva da Sonae é ter mais de 900 trabalhadores com crescimento futuro. Dentro de pouco tempo o espaço ocupará mais gente do que aquela que foi despedida da Opel. Os trabalhadores da Opel eram ali remunerados acima da média, o que não acontece pelo que se sabe com os trabalhadores da área da logística...A logística tem gente qualificada, o que não quer dizer que tenha alguns indeferenciados, mas há uma ideia errada do sector. Não tem que ver com aqueles armazéns tradicionais que só serviam para guardar caixotes e que só tinham pessoas para carregar os caixotes. A logística hoje é uma actividade tecnologicamente muito desenvolvida. Tanto quanto conheço não há salários mínimos na actividade da logística ao contrário das empresas industriais. Se reparar para instalar uma empresa com mil trabalhadores o Estado tem que dar apoios para tudo e mais alguma coisa. Para um armazém como este de logística o Estado deu zero. É uma actividade que se tem que pagar a ela própria. A Fundação Cebi poderia funcionar sem administraçãoCom uma vida agitada como é que se lançou no desafio de gerir a Fundação Cebi?Um bocado por acaso. A fundação Cebi tem 40 anos e foi criada por um grupo que era liderado por José Álvaro Vidal e mais oito pessoas. Uma dessas pessoas era o meu sogro. Na altura já namorava a minha mulher. Antes da fundação da Cebi houve uma colónia de férias para crianças pobres de Alverca em que fomos os dois monitores. Um dia apareceu-me o Álvaro Vidal e propôs-me ir para a administração para o ajudar a organizar a fundação de uma forma mais empresarial. A fundação tinha quase 500 trabalhadores e estava tudo pendurado nele próprio. Esteve uma tarde inteira a tentar convencer-me. No dia a seguir mandou-me uma carta muito simpática a agradecer-me por ter aceite ficar como vice-presidente. Nem me tinha falado nisso! Infelizmente seis meses depois faleceu com um ataque cardíaco. Tive que deitar mão. Já lá vão 12 anos.Como arranjou tempo?Através da organização e da agestão. Neste momento temos directores em cada departamento e um director geral que reporta à administração. Dedico à Cebi uma manhã e uma tarde por semana. Ofereço à comunidade dez por cento do meu tempo. Tenho a vantagem de ter o escritório próximo da fundação. Todos os dias me trazem uma pasta com coisas para assinar. Costumo dizer com orgulho que a fundação pode ter uma crise de administração que continuará a funcionar bem à mesma. Tem gestão competente. Alguns pais, como noticiámos em 2009, sentiram dificuldade em pagar mensalidades.Isso é uma das consequências da crise neste momento. A tendência hoje, em todas estas instituições, é para haver cada vez mais pessoas com dificuldades em pagar mensalidades. O que temos feito é tentar renegociar, falar com as pessoas e baixar quando é necessário em função de situações concretas como desemprego, redução de vencimento e até divórcios. Não vamos mandar embora as crianças porque não podem pagar. Mesmo este ano apesar da crise aumentámos o número de alunos. O problema é que já não temos, apesar de se ter feito todo o possível para encontrar novas soluções de salas, condições para aceitar mais alunos. Temos 172 alunos dos três meses de idade até ao nono ano de escolaridade.Já tiveram que fazer cortes nas ofertas educativas?Nas ofertas não, nas despesas. Estamos a procurar fazer o mesmo trabalho com menos dinheiro. Não é muito fácil porque é uma casa onde nunca houve muita largueza. Alverca está numa zona de Lisboa onde o acesso ainda é fácilHá quem diga que Alverca parou no tempo.Alverca desenvolveu-se muito. É verdade que não podemos confundir construção com desenvolvimento. Alverca teve construção de boa e má qualidade, mas teve efectivamente desenvolvimento. Não é por acaso que apesar da crise do imobiliário a Malvarosa está praticamente toda vendida. Alverca está numa zona de Lisboa onde o acesso ainda é fácil. Não tem nada que ver com o acesso do lado de Sintra. Tem problemas nas horas de ponta, mas sem comparação. Por outro lado há muitos equipamentos sociais. Uma família que venha de fora e se instale em Alverca tem boas escolas, infantários, resposta para as pessoas idosas, bons transportes e ofertas na área da cultura e do desporto. Se Alverca parou diria que foi na construção. E isso pode não ser mau de todo. Construiu-se demais nesta cidade?Penso que se construiu demais um pouco em toda a parte. A verdade é que em Portugal temos 600 mil casas a mais neste momento. Há muito aquela ideia da selva de pedra.Essa é a ideia que se tem quando se mora num subúrbio. Numa zona periférica. Alverca não tem as zonas verdes que seria desejável ter, mas tem zonas de passeio e algumas urbanizações com espaços verdes tratados. Há zonas muito piores. Actualmente moro na periferia entre Alverca e Arruda. E também tenho muito da minha actividade em Lisboa. Alverca tem boas condições e é por isso que tem continuado a ter procura.“As pessoas são o nosso melhor activo”Em época de crise o grupo Turiprojecto continua a aumentar os quadros O grupo Turiprojecto está a crescer em 2010 contrariando a tendência nacional. A verdade é que se queremos lançar novas actividades e trabalhar em outros países temos que ter pessoas para fazer o trabalho. Quando as empresas têm dificuldades a primeira coisa que fazem é despedir pessoal. Penso que é um erro. As pessoas são o nosso melhor activo. De vez em quando temos que despedir ou não renovar contratos, mas são pessoas que por qualquer razão não correspondem às expectativas. De um modo geral temos vindo a aumentar o número de trabalhadores. Isso advém da aposta em novos projectos.E em novas áreas de actividade. Temos vindo também a procurar diversificar. Temos uma empresa na área da gestão de imóveis e manutenção e outra de energias renováveis. Estamos a começar a trabalhar em Marrocos com essa empresa.Apostam no mercado no estrangeiro.A nossa empresa teve sempre a actividade centrada em Portugal. Estamos há um ano com uma delegação em Cabo Verde. Vamos avançar com uma sucursal na Argélia e temos contactos internacionais em várias áreas. Já tivemos alguma actividade em Angola que entretanto acabou e estamos a estudar possibilidades em outros países. Gosta da tarefa de gerir pessoas?É uma área que acho interessante. Gosto sobretudo de fazer crescer as pessoas. Temos colaboradores aqui que entraram como ajudantes, quase como moço de recados na sala de desenho e que hoje são arquitectos. Os trabalhadores mais antigos foram todos admitidos por mim. Tenho uma relação paternalista com uma boa parte deles. Há quadros mais jovens com os quais já não tenho essa relação.Foram crescendo dentro da empresa.Sim. Fizeram o secundário e depois candidataram-se ao superior. Fizeram o bacharelato e depois a seguir a licenciatura. Temos dado sempre apoio às pessoas que querem crescer. Temos uma política de recursos humanos que vai no sentido da requalificação. Já não somos a pequena empresa do rés-do-chão. Trabalhamos e concorremos com grandes empresas internacionais. Precisamos de quadros em condições de combater, discutir e estar em constante competitividade com empresas maiores.Há quem defenda que os jovens partam para a criação de empresas mesmo em alturas de crise.Acho boa ideia. Portugal é um dos países onde há menor empreendedorismo. Estive no ano passado numa escola de Alverca a falar sobre isso. A Escola do Bom Sucesso tem população problemática. São jovens com pouca apetência, pouco apoio em casa e pouca perspectiva. A maior parte não tem vontade de estudar e só o faz porque é obrigado. O que lhes disse foi que pode ser para eles uma boa solução fazer um curso profissional e lançarem-se num pequeno negócio. As pessoas têm até apoios que não existiam dantes. Nas revistas estão sempre a aparecer os casos de sucesso. Não podemos é basear isso na mão de obra barata. Temos que apostar na inovação e inteligência.É um optimista por natureza?Costuma dizer-se que um pessimista é um optimista desiludido. A economia tem ciclos. Não vamos voltar a ter a situação que tivemos antes na década mais próxima. Em Portugal andou-se a gastar mais do que aquilo que se ganhava. O país, as famílias, toda a gente, mas também não estaremos sempre na situação de desgraça. As coisas hão de melhorar. Também é verdade que ainda não atingimos o ponto mais difícil desta crise. É provável que esteja para vir. Depois terá que haver medidas de contenção, que nos vão custar muito a todos, mas depois têm que começar a ter alguns resultados. Um homem grande em todas as dimensõesO telemóvel de José António Carmo interfere “silenciosamente” na conversa, mas o empresário da Turiprojecto, em Alverca, não deixa que a chuva de chamadas interrompa o diálogo. Tem uma mão sobre o telemóvel e outra que faz girar o relógio de pulso, em subtis movimentos, quase inconscientes. O tempo do empresário, que é também presidente da Cebi, é contado ao minuto. O dia começa no escritório pouco depois das 8h00, depois de levar a filha mais nova dos cinco filhos ao colégio. Os dias em que consegue sair a tempo de estar alguns momentos com a família antes do jantar não são tantos quanto desejaria.No gabinete do empresário não há fotos de família à vista desarmada. A televisão é ainda ao mais puro estilo tradicional. A filosofia de conforto quanto baste enquadra-se perfeitamente na da empresa que criou há 20 anos com quatro pessoas. Hoje a empresa tem cerca de 120 colaboradores directos. A janela do gabinete tem vista para as piscinas e jardim da cidade. Na copa da empresa há microondas para quem quiser trazer refeições prontas de casa. Há dias em que o almoço do presidente chega por encomenda e nessas alturas José António Carmo senta-se à mesa com os colaboradores. O engenheiro técnico de electromecânica, 58 anos, começou a trabalhar ainda estudante. Terminou o curso a estudar à noite. Ingressou na escola técnica em Vila Franca de Xira, porque os pais não tinham condições para pagar o colégio. Aos nove anos começou a ir de comboio para a cidade. Ainda hoje é um meio de transporte que utiliza nas viagens longas. O fim-de-semana é dedicado à esposa, aos filhos e aos amigos. Durante a semana gosta de tomar o pequeno-almoço na vizinha Fundação Cebi. À mesa-de-cabeceira tem sempre livros, revistas e biografias. Sobretudo de figuras históricas, como a de Napoleão. Leu a de Max Galoo, em francês, para praticar a língua já que a actividade empresarial fora do país se tem intensificado. Fascina-o da mesma forma o tema da guerra peninsular, a antiguidade egípcia e a fuga da corte portuguesa para o Brasil. É alto e magro, “um homem grande em todas as dimensões”, condição que lhe é reconhecida pelos pares. Gosta de escolher a sua própria roupa. Sabe cozinhar e só não ajuda mais nas tarefas domésticas de casa porque o tempo escasseia. É também por isso que evita os jantares de negócios. É agnóstico, mas reconhece que a religião, sobretudo a católica, é uma fonte de princípios morais.

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