23º Aniversário | 17-11-2010 10:29

Só um jornalista entende outro jornalista

“Não se é jornalista seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês mas sim24 horas por dia, mesmo estando desempregado”. Li esta frase, do jornalista Orlando Castro, quando estava no último ano do curso de jornalismo. Recordo de, na ocasião, a escrever e sublinhar como se de uma verdade incomensurável se tratasse. Oito anos mais tarde não tenho dúvidas de que só vence nesta vida quem assim sente e age. Porque esta não é uma profissão. É um modo de estar na vida pública. O difícil nisto tudo é explicar aos outros, especialmente aos que escolheram ter uma profissão, que a missão de informar não tem horários. Já me aconteceu, por exemplo, ligar para uma repartição pública às cinco da tarde e ninguém atender o telefone, tentar trabalhar num feriado e ninguém se disponibilizar para dar entrevistas nesse dia, ou ligar para a Polícia por causa de um assalto e não conseguir qualquer informação porque “o chefe saiu” e só ele pode falar. E como explicar a alguém que, mesmo estando de férias, a nossa vontade é sair a correr atrás do carro dos bombeiros porque auguramos algo grave que deve ser noticiado? Ou justificar o nosso alheamento durante aquele divertido jantar de amigos, durante o qual temos a cabeça a fervilhar com informações já recolhidas de um qualquer caso que estamos a tratar? Tenho a noção que só um jornalista entende outro jornalista, como só um médico entende um médico ou só um jardineiro entende quem gosta de flores. Só outro jornalista consegue perceber porque trabalhamos aos feriados, fins-de-semana e, se for necessário, ficarmos agarrados ao computador pela noite dentro. Só outro jornalista, partilha o entusiasmo que imprimimos ao contar o que se passou e nos retribui também contando enfaticamente o que lhe aconteceu de uma outra vez. Por isso é que há quem considere ser uma chatice atender telefonemas de jornalistas meia hora antes da hora de saída ou aturar jornalistas num dia feriado. Por isso é que o agente policial que atende os telefones não quer extrapolar as suas funções mesmo que seja só para dizer a onde e a que horas foi o assalto. Mesmo que depois todos queiram saber o que se passou na sua rua, na sua terra ou na sua região e não nos perdoam se não encontrarem no jornal as informações que alguns deles não tiveram tempo nem disponibilidade para nos dar.

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