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Candidatura a património nacional quer aldeia de pescadores da Póvoa de Santa Iria no projecto

Candidatura a património nacional quer aldeia de pescadores da Póvoa de Santa Iria no projecto

Local seria primeiro ponto de paragem de uma rota turística no Tejo

A aldeia de pescadores avieiros, que ainda subsiste na zona ribeirinha da Póvoa de Santa Iria, no concelho de Vila Franca de Xira, pode integrar a rota turística que vai até à Golegã. O coordenador do projecto da candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional, João Serrano, apela a que não se destrua o património.

O coordenador do projecto da candidatura a fundos comunitários da Cultura Avieira a Património Nacional, João Serrano, defende a recuperação da aldeia avieira da Póvoa de Santa Iria, no concelho de Vila Franca de Xira, para valorizar “o património cultural existente” e, deste modo, integrar uma rota turística no rio Tejo, que ligará a Marina do Parque das Nações à Golegã por vias fluvial, rodoviária e aérea. Um encontro entre os pescadores da Póvoa de Santa Iria e um conjunto de pessoas que defendem a recuperação da aldeia avieira povoense decorreu na manhã de sábado, 13 de Novembro, no antigo bairro dos pescadores da Póvoa de Santa Iria, junto às margens do Rio Tejo.João Serrano apela a que “não se destrua a aldeia avieira da Póvoa de Santa Iria e se mantenham os 19 cais palafíticos que em Portugal são únicos”. “Os turistas querem ver um património vivo, bem conservado, cheio de histórias para contar”, defende.Américo Mateus, do Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing, também marcou presença no encontro. “Se matarmos o que é genuíno e nosso qualquer dia não temos nada para oferecer aos turistas. A vivência e as artes tradicionais, a gastronomia e o próprio rio são um destino turístico muito apetecível nos dias que correm. Não podemos matar a galinha dos ovos de ouro. Temos aqui uma cultura que é preciso traduzir em experiência para as pessoas que nos visitam”. Também António Redol, filho do escritor Alves Redol que imortalizou os avieiros na literatura, não quer ver “desaparecer do concelho todas as manifestações construídas dos avieiros”. “Podem existir os museus, mas isso não chega. Não se deve destruir este património”, confirmou.A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira garante que vai substituir as actuais arrecadações degradadas dos avieiros por novas construções, que serão erguidas de acordo com o modo de construção típico avieiro, e cais palafíticos que servirão de apoio à sua actividade de pesca. Recorde-se que a comunidade de avieiros da Póvoa de Santa Iria habita desde 2007 em novas instalações construídas pela câmara municipal. O número de arrecadações a construir, bem como o número de cais, serão “em número adequado ao bom desenvolvimento da actividade piscatória”, informa a autarquia. A requalificação da zona avieira está integrada num projecto mais vasto de intervenção na zona ribeirinha, que terá um amplo parque de espaços verdes, lazer e desporto. “O objectivo é que avieiros e restante população possam usufruir daquela área que actualmente apenas pode ser apreciada pelos avieiros. Trata-se de devolver o usufruto do rio a toda a população”, lê-se na resposta enviada ao nosso jornal pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira que também pretende construir um núcleo cultural e museológico, onde poderão decorrer várias manifestações das tradições avieiras.Segundo a autarquia o projecto arrancará o mais brevemente possível, estando neste momento a aguardar o parecer das entidades com jurisdição na área de intervenção, seguindo-se depois os procedimentos para a adjudicação do projecto de execução. O projecto de candidatura da cultura avieira a património nacional, que tem um investimento estimado de 30 milhões de euros, envolvendo 39 instituições de todo o país, prevê a recuperação das aldeias avieiras (que acolheram as populações migrantes, sobretudo da Vieira de Leiria, que, nas primeiras décadas do século XX, procuraram no Tejo a subsistência que o mar não lhes dava) desde a Azambuja até à Golegã.No dia 12 de Novembro, o Instituto Politécnico de Santarém (IPS), que estabeleceu uma parceria com a Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça para estudar a cultura avieira e elevá-la a património nacional, assinou com seis municípios da região um protocolo para garantir o co-financiamento do Projecto de Desenvolvimento da Cultura Avieira do Tejo e do Sado, cuja candidatura a fundos comunitárias foi aprovada há dois meses. Faias (Benfica do Ribatejo, Almeirim), Palhota (Cartaxo), Escaroupim (Salvaterra de Magos) e Caneiras (Santarém), Lezirão (Azambuja) e Patacão (Alpiarça) são as aldeias avieiras que já estão integradas no estudo. “O projecto seria ainda mais forte se a aldeia avieira da Póvoa de Santa Iria estivesse incluída porque este seria o primeiro ponto de paragem da Rota dos Avieiros”, disse João Serrano.Pescadores querem aldeia arranjadaOs pescadores da Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, querem ver o bairro recuperado o mais rapidamente possível, seja com a construção de arrecadações ou com a recuperação da aldeia avieira. “Preferíamos que tudo se mantivesse, mas não somos contra as arrecadações. O que queremos são condições para trabalhar”, diz Joaquim Silva, 56 anos. Os pescadores temem que o tamanho das arrecadações de pesca que a câmara quer colocar seja semelhante às arrecadações que foram colocadas no bairro dos avieiros de Vila Franca de Xira. “Se as arrecadações forem iguais não vão servir para guardarmos todas as nossas artes”, vaticinou Daniel Letra, filho de pescadores da Póvoa de Santa Iria. A construção de arrecadações só para os 21 pescadores que neste momento exercem oficialmente a actividade da pesca na Póvoa de Santa Iria também está a suscitar algumas críticas. “Os pescadores reformados já não têm direito a estas arrecadações? Onde é que vão colocar todos os seus artefactos?”, pergunta Daniel Letra.
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