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Salomé Rafael

Salomé Rafael

Empresária, 53 anos, Salvaterra de Magos

Salomé Rafael, directora da Escola Profissional de Salvaterra de Magos, empresária, tem 53 anos. A vida activa fora de casa não lhe tira a vontade de realizar as tarefas domésticas. Cozinhar é uma espécie de terapia. Vive actualmente com o filho mais novo. O mais velho vai dar-lhe um neto. É uma apaixonada pela vida que acredita que o melhor ainda está para vir.

Em menina ia brincar para o castelo de Leiria. Todos os sábados, desde que não chovesse. Nasci em Leiria, mas sou ribatejana por adopção. O Ribatejo é a minha terra. Tudo o que me é importante está aqui.Fiquei sem pai aos 14 anos. Foi muito duro. A minha mãe morreu quatro anos depois. O meu pai era professor primário. A minha mãe foi trabalhar depois da morte do meu pai para o comércio. Entretanto os meus tios aperceberam-se da situação e passaram a ajudar. Casei com 18 anos. Fui mãe quase com 21 anos. Curiosamente estava a estudar. Os colegas diziam “aquela é casada”. Tenho dois filhos com diferença de 12 anos. Foi possível educá-los e acompanhá-los muito com a colaboração do pai. Quando não estava a mãe presente estava o pai. Tentávamos participar em tudo o que era importante para os nossos filhos. Tentámos dar-lhes tudo aquilo que tínhamos capacidade para dar: muito amor, muito carinho e preocupação.Fui estudar para um colégio aos três anos. Aos cinco e seis anos tínhamos que fazer pontinhos muito elaborados nos panos de tabuleiro. Coisas muito femininas que faziam parte de uma época. Tinha muito jeito para fazer bolos. Adorava o ballet e mais tarde o basquetebol. Mas não suportava as aulas de piano. Detestava a música e os bordados. Sou eu que cozinho lá em casa. Dá-me um enorme prazer receber. Faço milhentas coisas em casa. Passo a ferro, arrumo e vou às compras como qualquer outra mulher. Durante a semana praticamente só tenho tempo para fazer o jantar e arrumar a cozinha porque chego muito tarde. Toda a gente gosta do meu cabrito assado e do cozido à portuguesa. Também faço pratos de cozinha internacional. O tamboril com molho de champanhe e alho francês é uma especialidade.O meu carro quase que anda sozinho. Faço muitos quilómetros por ano. O carro para mim é uma ferramenta de trabalho como muitas outras. Não porque tenha muito gosto, mas porque é uma rotina. Tenho o rádio ligado num posto de notícias e em simultâneo os meus CD’s com música seleccionada. Não tenho uma consistência de estilo, mas gosto: Pink Floyd, Sting, Jorge Palma, Rui Veloso, Caetano, Vinicius, Bach….Leio livros técnicos e leio romances. Gosto muito de ler. Mantém-me activos os neurónios. No sábado passado comecei o último livro do Lobo Antunes. É um romance diferente porque foi de um período negro da vida dele.O cancro mudou a minha forma de ver a vida. Há cinco anos olhava-me todos os dias no espelho com muito mau aspecto, uma cor cinzenta, muito magra. Pensava se deveria sair à rua ou não. Pintava muito o rosto. Costumava brincar com o médico dizendo-lhe que colocava muito betume no rosto para que os outros me vissem melhor. A cada manhã que nascia tentava encontrar forças para enfrentar esse dia tão difícil. As noites eram enormes. Chorei muito. A angústia é grande e o peso da doença enorme, mas acreditei sempre que ainda não era a hora. Detesto pensar na morte porque não a conheço. Assusta-me. O sofrimento antes da morte também. Gosto muito de viver. Sou uma pessoa de muita esperança. Acho sempre que o melhor está para acontecer. O domingo é o dia para a família. Aproveitamos para conversar, rir, partilhar opiniões, comentar. Muitas vezes vamos passear, ver o mar, acabamos por almoçar fora e jantamos em casa. Sou uma pessoa simples. Mas sempre gostei imenso de me arranjar. Desde miúda. Limpo a pele todos os dias. Vou ao cabeleireiro uma vez por semana. Quando não tenho tempo lavo e estico o cabelo em casa. Não gosto de usar muitos adereços. Se coloco um anel não ponho mais nada. Se coloco gargantilha o mesmo. Gosto de coisas sóbrias. Gosto de calças de ganga.Não gostava de ser uma avó de bengala e cabelos brancos. Foi uma alegria enorme quando os filhos me deram a grande nova de que iria ser avó. Estou quase tão ansiosa como os pais. Quando vejo uma loja de bebés lá entro para comprar mais uma peça. Ser avó ainda nova é bom para os netos e é bom para os pais.Ana Santiago
Salomé Rafael

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